Catar sem dimensão

OPINIÃO24.11.202205:30

Lamentável intervenção do presidente da FIFA, a admitir um Mundial na Coreia do Norte!...

A S cerimónias de abertura apresentaram uma história com coreografias diversificadas, entusiasmantes, com recordação das anteriores mascotes e o símbolo deste Mundial, para criar uma atmosfera de sonho (com momentos penosos, milhares de mortos que perderam a vida na construção dos estádios, decisões e considerações que despeitam valores humanos) que esconde tragédias diárias; as palavras têm um valor relativo, pois só as atitudes podem confirmar as realidades. Quando a bola rola na relva, são esquecidas as prioridades.
As declarações do nosso Presidente da República sobre o respeito pelos direitos humanos, deveria ter merecido crítica mais veemente («(...) O Catar não respeita os direitos humanos (…) mas enfim, esqueçamos isso»), mas são opções individuais.
Além do Presidente Marcelo, o Presidente da Assembleia da República e o Primeiro-Ministro também divulgaram vontade em se deslocar ao Catar, certamente para ver o jogo da nossa Seleção e também lamentarem a defesa das vidas perdidas injustamente.
Um Mundial é sempre um evento à escala planetária, porém há regras elementares que não podem ser violadas. O futebol do Catar não tem dimensão que justifique um Mundial, nem ainda a atmosfera para se tornar um momento de união dos povos, tanto mais que nunca se desfez a suspeição da corrupção que envolveu essa escolha.
O futebol une. Contudo, este Mundial tem inúmeros exemplos de desunião, deixando marcas de tristeza, intolerância e opressão. Há pormenores que deixam vestígios inaceitáveis. Numa lamentável intervenção, Gianni Infantino, presidente da FIFA declarou princípios sem rigor, foi muito infeliz nos exemplos que escolheu e desvalorizou valores imutáveis, afirmando que «qualquer país é elegível para receber a competição (…)! Qualquer país pode ser anfitrião de um evento. E se a Coreia do Norte quiser receber alguma coisa...», admitiu que a Coreia do Norte possa receber um Mundial.
Com afirmações desse teor, não é possível que o mundo do futebol o reeleja, caso contrário caminha-se para o precipício. Nas próximas eleições para a FIFA e a UEFA, Portugal (entre outros países) devem valorizar condições, competência, coerência e conhecimento, para mudar positivamente a influência do futebol mundial, com a contribuição de personagens exemplares. Desse modo, serão derrotados os obstáculos e as dependências, que durante os últimos anos têm prejudicado o jogo que merece dignidade e imparcialidade. Em Portugal e noutros países, há felizmente personalidades que garantem mudança positiva.


JOGO INICIAL

C ATAR e Equador disputaram o primeiro jogo. Equador muito superior, gerindo o jogo como lhe convém. Catar muito voluntarioso mas com limitações técnicas e táticas. Na primeira parte o resultado era favorável ao Equador por 2 golos sem resposta, e assim acabou o jogo com esse resultado.


DESTAQUES

A Inglaterra venceu o Irão, com facilidade, porque fez da velocidade, criatividade e intensidade a organização dos posicionamentos com sucessivos ataques rápidos, com eficácia e golos que decidiram o jogo. A Inglaterra começa a assumir-se como uma séria candidata, vencendo o Irão por 6-2 e os golos do Irão foram obtidos por Taremi, jogador do FC Porto. A França entrou a perder no início do jogo com a Austrália, mas com organização eficaz conseguiu uma vitória folgada (4-1). A surpresa: a Arábia Saudita venceu a Argentina por 2-1.


NOSSA SELEÇÃO

J OGADORES escolhidos por quem tem essa função, sem criar discussões estéreis, quando o objetivo é fortalecer a unidade. Se foram selecionados é porque a sua presença tem funções definidas e não há ninguém que não queira vencer. Por isso, temos a obrigação de apoiar completamente a nossa Seleção. Acreditar na vitória cria um ambiente de contágio positivo que esperamos os atletas o sintam no estádio. Orgulhem-nos e lutem até ao último segundo. O apoio será total e sincero, contamos com a vossa aplicação.
Bruno Fernandes, presença indispensável na Seleção, deixou a sua crítica pertinente: «É estranho. Não é o momento em que queremos jogar um Mundial. Para jogadores e adeptos não é a melhor altura. Crianças nas escolas, pessoas no trabalho e os horários não serão os melhores para verem os jogos (…) O Mundial é mais do que futebol. É festa para os adeptos e os jogadores adoram jogá-lo, tudo deveria ter sido feito de outra forma. Sabemos o que passou, as pessoas que morreram na construção dos estádios».
De qualquer modo, a vitória está sempre presente nos objetivos da nossa Seleção. Não basta agora o senhor Blatter, um dos vários responsáveis juntamente com Platini, afirmar que foi um erro enorme há uma década, pois foram os maiores responsáveis por tudo o que se passou. Lamenta-se que antigos ídolos tenham criticado de início com dureza, e passado algum tempo assumiram funções ao serviço do Mundial do Catar. O talento que dispunham no relvado, hoje deve estar envergonhado pela mudança radical, embora lucrativa. O jogo de preparação em que vencemos a Nigéria, liderada por José Peseiro, por 4-1, reforçou ligação, experiência, a afinação e confiança nessa tarefa que une o país: conseguir o melhor resultado. Confiamos em vocês!


MUDANÇAS NAS LIGAS

A Cimeira de Presidentes, ocorrida na cidade do Porto, decidiu manter nas duas principais ligas do nosso futebol os mesmos 18 clubes em ambas, competição a duas voltas e não aceitando a sua redução. O presidente da liga espanhola abordou vantagens da distribuição equilibrada de verbas pelos clubes, embora haja sempre alguns que ultrapassam os limites das possibilidades (citou o Barcelona).
O presidente da Liga Portugal divulgou a preparação de regulamentos: Direitos Audiovisuais e Controlo Económico, com o objetivo de evitar despesismos incontrolados. Foram apresentadas as alterações, a partir de 2024, para ajustar as competições nacionais com as provas europeias. Serão reduzidas quatro semanas às jornadas da nossa liga, para se poderem integrar mais jogos das provas europeias.
Para isso, serão reduzidos o número de jogos das taças. A Taça da Liga incluirá apenas uma final four, eventualmente a realizar no estrangeiro, disputada entre os quatro primeiros clubes da época anterior. Na Taça de Portugal há uma proposta para eliminar os jogos a duas mãos nas meias-finais.


DAS ORIGENS PARA O FUTURO

A evolução do futebol a todos os níveis foi veloz e, de repente, tornou-se um jogo à escala planetária, criando uma nova linguagem, ultrapassando fronteiras. Os adeptos envolvem os jogos numa mística única que transformam memórias num tempo mágico que se prolonga...
Durante anos, mantiveram-se táticas, competições e, a partir de certa altura, ocorreram enormes transformações, que passaram a designar o futebol como indústria, surgindo novos protagonistas. A partir daí, alterações céleres e envolvem investimentos impensáveis e imparáveis.
Precisamos de reforçar a competência, de impedir violações éticas, de definir regras que promovam o jogo que atrai milhões de adeptos. A transparência tem de ser um dos mais fortes alicerces do futebol para se poder crescer com rumos definidos. Com a relevância que o futebol atingiu, o Pavilhão Rosa Mota recebeu o Thinking Football Summit, iniciativa da Liga Portugal e de outras entidades, para fortalecer uma visão integrada do jogo.
Num universo onde há várias dimensões, os temas mereceram análise atenta em função da importância crescente em termos estruturais: desde a centralização dos direitos audiovisuais, às leis de jogo, calendários, justiça, governança, comunicação, futebol feminino, ética, tempo útil de jogo e exportação de talentos, entre outras áreas. Um dos grandes objetivos é aumentar o número de presenças nos estádios e a possibilidade de candidaturas com bolsas de emprego na indústria que o futebol movimenta.
As realidades à volta do futebol acontecem de forma rápida e motivante, mantendo o adepto como personagem essencial que vive, que sofre e se alegra, mas também como suporte económico essencial. Por isso, é indispensável conseguir chegar ao encontro das necessidades dos adeptos porque são garantia de sustentabilidade e ponto essencial para conseguir que as famílias venham aos estádios, porque são locais de paixão, de memórias e tradição, assim como espaço único para usufruir a visão de lances talentosos que criam memórias que perduram.


CONTINUIDADE DAS PROVAS

C OM a paragem da Liga Portugal foi necessário introduzir alterações ao calendário das competições, particularmente a Taça da Liga, para manter as equipas em prova, com vários grupos. No primeiro jogo desta competição, na primeira jornada, quando o Penafiel vencia por 1-0, ocorreu uma falha de luz que durou cerca de uma hora, contudo ambos os clubes concordaram em continuar a jogar e o Moreirense acabou vencendo, por 1-2.
Desse modo a competição prossegue e os jogadores procuram manter a sua melhor forma para, no final do Mundial, a transição decorrer com a normalidade possível. Portugal está com a Seleção! Nos outros jogos, que vão decorrendo ao longo desta e das próximas semanas, para já, os resultados foram equilibrados, inclusive com vitórias de clubes de divisão inferior. Os empates do Vilafranquense com o V. Guimarães, do Arouca com o Feirense, e a vitória do Nacional sobre o Portimonense, não deixam de ser surpresa. 


REMATE FINAL 

Fábio Cardoso afirmou de Pepe: «Ele ajuda-me a querer ser melhor todos os dias, a cuidar-me para não ter lesões e a ter uma boa alimentação (…) Tem uma exigência diária que nos obriga a querer ser melhores e a competir com nós próprios. Ele obriga-nos a trabalhar sempre no máximo e a desafiar os nossos limites».

Eustáquio afirmou: «Quero crescer, ser melhor jogador (…) Se é possível recuperar os oito pontos de atraso? Sem dúvida e vamos fazer isso».

No jogo da Inglaterra com o Irão, os jogadores ingleses ocuparam as suas posições, mantendo um joelho na relva antes do jogo se iniciar e o capitão da equipa inglesa utilizou uma braçadeira de capitão com a indicação: «Não à discriminação». Nas bancadas, surgiram vários cartazes de protesto contra o regime iraniano de repressão sobre as mulheres.