Casa das transferências
O dinheiro não tem pátria: quando as transferências envolvem intercâmbio de clubes de países diferentes o processo tem de ser claro
COMEÇA a tardar a sua institucionalização para evitar perder o rumo das verbas, a proliferação que esconde fontes de destino e para impedir fugas fiscais, incluindo divulgação pública do negócio e partes envolvidas. Transparência imediata antes que o nevoeiro instável impeça possibilidade de conhecimento. Aprender com os erros e suspeições é tarefa prioritária, bem como auditorias que permitam conhecer os fluxos de verbas de elevada dimensão e as suas origens. O dinheiro não tem pátria, por isso, quando as transferências envolvem intercâmbio de clubes de países diferentes, esse processo tem de ser claro e inequívoco.
Na UEFA está na ordem do dia a substituição do sistema de fair play financeiro similar à NBA. Em setembro será analisado novo método para incluir limites salariais, mas também impostos de luxo para os clubes, com efeitos a partir de 2022. O compromisso poderá basear-se no teto salarial dos clubes, mas somente até 70% do rendimento anual e quando ultrapassarem esse valor elimina-se o risco de ser excluído das competições, obrigando ao pagamento de um imposto de luxo que reforça também a capacidade financeira da UEFA, com o desígnio de equilibrar os clubes mais necessitados. A descaracterização do futebol e a preferência pelo modelo americano ganha adeptos, particularmente entre os mais poderosos. A dimensão económica supera os obstáculos.
LIGA
COM algumas surpresas e tendências assimiladas que começam a destacar-se, os jogos tiveram momentos de grande qualidade, também pelo apoio que só o público consegue transmitir. O Estoril, vindo de uma vitória fora, recebeu o Guimarães e empatou sem golos, desperdiçando uma grande penalidade no início do segundo tempo. O Vizela conseguiu a primeira vitória, no regresso à Liga após 36 anos, derrotando o Tondela por 2-1, num encontro muito disputado. Na Luz, O Benfica venceu o Arouca por 2-0, com estreia a marcar do novo reforço Yaremchuk; um descuido do guarda-redes arouquense reduziu a sua equipa por expulsão caricata. No Minho, grande jogo: o Braga recebeu o Sporting que, graças à estrelinha, venceu por 2-1, num jogo com arbitragem de fraco nível. O Portimonense recebeu o Gil Vicente e aos 60’, numa arrancada por todo o campo, Samuel Lino marcou o golo da vitória do Gil, que no final desse jogo passou a liderar a classificação, juntamente com Benfica e Sporting. O Famalicão, na primeira parte, não conseguiu travar a dinâmica do FC Porto, que controlou e manteve a posse de bola; na segunda parte, ambos sentiram o calor excessivo e o jogo perdeu qualidade, o que motivou o Famalicão a ser mais combativo, com o resultado final favorável ao FC Porto 2-1. O Santa Clara e o Moreirense empataram a dois golos, num jogo equilibrado e bem disputado. O Boavista, mais eficaz e com maior intencionalidade, derrotou o Paços de Ferreira por 3-0. O Belenenses SAD perdeu com o Marítimo por 1-2, com o resultado feito na primeira parte.
DIFICULDADES
OSporting, último vencedor da Liga e da Supertaça, como a generalidade dos clubes nacionais, tem necessidade urgente de forte encaixe financeiro, dado que uma das prioridades é a sustentabilidade económica, que continua a ser um pesado fardo. Para isso, como muitos outros clubes nacionais, vai ter de vender jogadores influentes e de continuar a apostar na formação. Transferir por valores elevados é tarefa complexa, porquanto o próprio mercado do futebol, com raras exceções, começa a estar mais difícil. E se a bilheteira não garante, para já, receitas avultadas, somente as transmissões televisivas e a publicidade ajudam. Se nada se alterar substancialmente, mais tarde ou mais cedo voltaremos à questão de competições exclusivas de clubes endinheirados, venha com o nome que vier. A fidelização dos adeptos, a valorização do merchandising, a contratação de jovens promessas descobertas pelo scouting são alguns aspetos que, não sendo a solução definitiva, podem permitir uma estratégia nacional e internacional de sucesso. Mas para prestigiar o nosso futebol além-fronteiras é importante acabar com os conflitos habituais e construir um conjunto de provas que se afirmem pela competência e qualidade, sem permitir as inúmeras suspeições que desviam o foco do essencial. Os clubes são adversários, mas têm de ser capazes de entender que só unidos nos objetivos de promoção da nossa Liga podem atrair atenções de outros mais poderosos.
Cartão do adepto tem sido alvo de críticas de quase todos os quadrantes
CARTÃO DE ADEPTO
AS boas intenções por vezes não chegam. A ideia é identificar adeptos que pretendam assistir aos jogos integrando uma claque, na qual podem utilizar adereços e material sonoro. Há estádios que não têm capacidade para criar zonas específicas para claques. E os adeptos que preferem estar noutras zonas passam a ser obrigados a registar o cartão de adepto e comprarem bilhete. A ideia em si pode parecer interessante, mas também oportunista e até levar ao abandono de alguns que preferem assistir aos jogos com mais tranquilidade. Será que a ideia principal será registar para depois mais facilmente atribuírem sanções?
Sem dúvida que as claques trazem uma forte mobilização e apoio aos clubes, embora as regras precisem de ser atualizadas, monitorizadas e cumpridas. Contudo, não basta aceitar que produzam ruídos, canções, tarjas enormes que acrescentam colorido, mas também terem comportamentos definidos. Os últimos exemplos deixam muitas, mesmo muitas dúvidas. Cartão vermelho para cartão de adepto?
SUPERTAÇA EUROPEIA
CHELSEA e Villarreal foi um jogo com partes distintas. No primeiro período a equipa inglesa tentou manter o jogo controlado, mais posse e iniciativa de jogo. Aos 27’, Hakim Ziyech colocou o Chelsea a vencer. A equipa espanhola defendeu bem e no último minuto da primeira parte teve um remate ao poste. No segundo tempo, Moreno, aos 52’ teve o empate nos seus pés, mas a bola voltou a bater no poste. Num lance bem construído por dois jogadores do Villarreal, Moreno não falhou e conseguiu o empate aos 73’. Seguiu-se o prolongamento, no qual qualquer uma das equipas poderia ter resolvido o jogo. Para as grandes penalidades, Thomas Tuchel, nos momentos finais do prolongamento, substituiu o guarda-redes, entrando Kepa, numa jogada também psicológica. A equipa dirigida por Unai Emery esteve perto de vencer nas grandes penalidades, mas a jogada de Kepa foi um trunfo que resultou. E o Chelsea conquistou a Supertaça Europeia.
Esse jogo trouxe a memória a única conquista da Supertaça Europeia por uma equipa portuguesa. Depois do título de campeão Europeu, com Artur Jorge como treinador, foi Tomislav Ivic que passou a orientar os azuis e brancos: 1.ª mão (24/11/1987), golo de Rui Barros na vitória sobre o Ajax orientado por Johan Cruyff e, na 2.ª mão, confirmação desse título com golo de António Sousa. Que equipa e que futebol!
REMATE FINAL
A UEFA decidiu não utilizar o VAR nas primeiras três jornadas da qualificação europeia para o Mundial-2022, alegando complicações logísticas pelo efeito da pandemia de Covid-19, o que não serve como justificação. A Seleção Portuguesa na sua deslocação à Sérvia (em finais de março de 2021) obteve um empate a dois golos, contudo, por ausência de VAR e também de tecnologia de linha de golo, a má colocação de árbitro assistente não validou um golo correto em que a bola ultrapassou completamente a linha, quando o central sérvio a retirou de dentro da baliza, impedindo a vitória de Portugal. Agora, passados 6 meses, a UEFA anuncia a utilização do sistema de VAR a partir da quarta jornada. Só agora?
Jorge Jesus falou antes do jogo com o Arouca: «Haverá sempre erros na arbitragem, com VAR, sem VAR... Somos humanos, quem decide são as pessoas. O que queremos é que haja o mínimo de erros, por isso é que o VAR também existe, é uma ferramenta para ajudar. O que o Benfica quer é que haja o mínimo de erros nos jogos, principalmente nos que envolvem o Benfica, mas não fazemos qualquer tipo de pressão. O que queremos é, sabendo que haverá sempre erros, que pelo menos não prejudiquem o resultado do jogo.»