Brindar os adeptos

Brindar os adeptos

OPINIÃO27.03.202306:30

Futebol tem de proporcionar ao adepto/cliente uma experiência diferenciada

D EPOIS dos fortes constrangimentos provocados pela pandemia, a temporada 2022/2023 traz-nos, finalmente, o regresso à normalidade. A Covid-19 foi um período desafiante para o futebol, mas os indicadores existentes a nível de assistências em estádio indicam que as competições profissionais estão ligeiramente acima dos registos homólogos de 2018/2919, última época completa sem efeito da pandemia.

Esta semana, durante a audição na Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, na Assembleia da República, a Liga Portugal foi chamada a partilhar os seus contributos para a revisão da lei de combate à violência no desporto. 

É imperiosa a preocupação com a segurança nos espetáculos desportivos e a construção de políticas que visem modificar a perceção, cada vez mais estabelecida, de que ir ao futebol em família pode ser perigoso.  Mas o desiderato de ter mais e mais adeptos nos nossos estádios, de sermos capazes de captar novos públicos, só será possível se forem melhorados um sem fim de outros fatores, desde a segurança à oferta de experiência em dia de jogo, da implementação de renovadas políticas de promoção e comunicação, regras de  pricing ajustadas à nossa realidade social passando por infraestruturas mais modernizadas e horários de jogos capazes de responder às exigências cada vez mais ruidosas dos nossos adeptos.

Já por aqui assinalámos que a indústria do futebol - todas as atividades relacionadas com a indústria de entretenimento - vive tempos desafiantes, fruto de uma era em que a oferta é diversificada, as expetativas de hábitos de consumo são cada vez mais complexas e os fatores que influenciam as escolhas do tempo e dinheiro de consumidores mais estratificados, exigindo estratégias direcionadas e respostas concretas. Hoje ir ao futebol concorre com diferentes ofertas culturais - ainda que o tratamento fiscal dado ao futebol seja díspar em relação a outros espetáculos - e é nesta indústria de entretenimento, entre plataformas de streaming, música e com ofertas culturais e desportivas cada vez mais diversificadas, em que o futebol tem de competir. Mais do que um simples jogo de 90 minutos, o futebol tem de proporcionar ao adepto/cliente uma experiência diferenciada, não esquecendo que dentro da cadeia de valor deste fenómeno existe uma ainda maior fatia de fãs e adeptos que consomem este produto fora do estádio e cujas expetativas devem também elas ser correspondidas, num obrigatório equilíbrio que garanta ainda o necessário retorno de todos os stakeholders que investem na compra de direitos. 

A colocação do adepto no centro de todas as decisões estratégicas tomadas dentro de uma organização desportiva é uma obrigatoriedade indexada à sustentabilidade futura desta indústria. Todos serem capazes de perceber que construir de forma individual, mas também coletiva, formas de promover esta atividade e criar laços com os seus consumidores é decisivo.  Nesse sentido, foi também esta semana que à margem da audição na Assembleia da República a Liga Portugal voltou a introduzir a discussão sobre o consumo de bebidas de baixo teor alcoólico nos estádios, recuperando a proposta de um projeto-piloto que possa demonstrar que, tal como em tantos outros países europeus, esta não é uma medida potenciadora de violência nos recintos desportivos e que o caminho, suportado desde a primeira hora pela Liga Portugal e pelo seu presidente, de banir dos nossos estádios todos os adeptos nefastos ao futebol, tem de ser acompanhada pelo término da estigmatização e preconceito generalizado sobre o adepto de futebol, sendo disso exemplo mais paradigmático a ideia de que qualquer pessoa não tem, durante um jogo de futebol, a capacidade de se controlar enquanto bebe uma cerveja com os amigos num estádio, tal como faz em qualquer outra atividade de lazer no seu dia a dia. 

*Diretor Executivo da Liga Portugal