Braga do Catar
No futuro próximo é provável que a SAD do Braga venha a beneficiar da presença do Catar enquanto investidor. Quererá este comprar mais ações para tomar o controlo da gestão?
OSporting de Braga, o denominado quarto grande, tem estado na ribalta nos últimos meses, quer a nível competitivo quer em termos financeiros. No Campeonato Nacional e nas competições europeias, o clube minhoto tem conseguido bons resultados. E o seu presidente, António Salvador, deu mais um passo para o crescimento dos arsenalistas, com a entrada do fundo Qatar Sports Investments na SAD bracarense.
Visto de fora só podemos dar os parabéns, pois o casamento com o Catar tem tudo para dar certo. Depois, bem, todos sabemos que na vida real há muitos casamentos que têm tudo para dar certo mas que acabam em divórcio. E quando isso acontece há quase sempre uma parte que perde para a outra. O antigo presidente de Singapura dizia «que não queria estar perto quando dois elefantes lutam ou fazem amor». Pensemos então quem será o elefante-mor.
O SC Braga clube detém 36,8% das ações da SAD. O Catar (sim, segundo a Comissão de Valores Mobiliários, os direitos de voto são imputáveis ao país Catar e não ao fundo) tem 21,57% que comprou à Olivedesportos. A Sundown tem 17% e dispersos por vários investidores estão 24,63%.
Do ponto de vista desportivo o Braga ganhou um acionista que pode elevar a sua capacidade financeira e desportiva. Porém, o elefante Catar dificilmente será apenas mais um investidor. Hoje já é dono do PSG, o maior clube francês, e, mais dia menos dia, vai querer mandar no clube dos arcebispos, algo que conseguirá com naturalidade se atentarmos aos seus estatutos e à lei.
Nasser Al-Khelaifi e António Salvador, representantes do Qatar Investments e do SC Braga
Falemos então da parte técnica que parece sempre mais maçadora, mas neste caso é bastante elucidativa: o clube detém ações da categoria A e o Catar ações da B. Os direitos especiais das ações A não impedem que o Catar adquira a maioria dos direitos de voto da SAD e passe a mandar no futebol do SC Braga. É factual.
Na verdade, os direitos de veto do clube na SAD dizem respeito a coisas importantes mas que pouco interessam para o controlo do clube: direito de veto nas decisões que tenham por objeto a fusão, cisão, dissolução da sociedade e na mudança de localização ou dos símbolos do clube. E a um administrador.
É pouco para garantir o controlo da SAD quando se têm apenas 36,8%. Muito pouco quando há 63,2% nas mãos de outros investidores, um deles com fundos ilimitados. E isto mesmo que a Sundown seja uma sociedade amiga do SC Braga. Nos negócios, mesmo a amizade tem preço.
António Salvador tem marcado muitos golos nos últimos anos e o seu trabalho tem realmente mérito. No futuro próximo é provável que a SAD do Braga venha a beneficiar da presença do Catar enquanto investidor. Mas também é provável que este, mais dia menos dia, queira comprar mais ações para tomar o controlo da gestão. Isso pode ser bom para a SAD do Braga. Mas e para o clube?
Para já o direito ao golo é de António Salvador. Esperemos então algum tempo para perceber se o poder do dinheiro ilimitado é indiscutível.