Boas energias
À hora que vos escrevo (sensivelmente a meio da tarde de ontem), ainda falta jogar-se o Vitória FC /Tondela. Sem prejuízo do que possa vir a acontecer nesse encontro - e todos esperamos que decorra sem problemas - a verdade é que o rescaldo dos jogos disputados no passado fim de semana é, em minha opinião, francamente positivo.
No que diz respeito a saber estar as coisas começaram, de facto, muito, muito bem. Não me refiro apenas às causas: à qualidade da maioria das arbitragens ou à entrega leal e desportiva dos jogadores. Refiro-me, sobretudo, ao discurso positivo dos treinadores e à capacidade de encaixe que os demais responsáveis souberam ter perante resultados menos favoráveis. Dirá o caro leitor que devia ser sempre assim e que a normalidade não deve ser elogiada. Concordo... parcialmente. De facto, é essa a postura que se espera de todos os agentes desportivos: que saibam aceitar empates e derrotas e que canalizem as suas energias para as variáveis que controlam. Para os jogos que falta disputar. Não para as que não dependem de si. Não para os encontros que já terminaram. Mas olhando para a história recente, sabemos quão exacerbadas podem ser as emoções em momentos mais sensíveis. Daí que nunca seja de mais dar mérito a quem enviou sinais positivos nesta fase, elogiando o comportamento, a postura e o discurso de quem merece ser elogiado. É certo que para esse clima mais pacífico muito contribuíram as arbitragens a que me referi antes. O trabalho competente dos árbitros. Aquela que é a 19.ª equipa da Liga (a única que não tem estádio, adeptos, sócios ou claque) entrou de pé direito e mostrou-se fisicamente apta, tecnicamente preparada e mentalmente forte.
Mas não esqueçamos: os três maiores e mais mediáticos clubes portugueses tiveram resultados distintos e nenhum abordou, a posteriori, qualquer tipo de decisão tomada pelos juízes de campo ou videoárbitros. Mesmo quem não venceu soube ter a elegância de não usar um ou outro lance (e houve alguns) como argumento ou justificação para o insucesso inicial. Ao adotarem essa postura não alimentaram, para a opinião pública, um sentimento de raiva momentânea. Não criaram quaisquer focos de perturbação ou de ruído indesejável. Assim... todos ganharam. Ganhou o futebol (que passará toda a semana a falar apenas de futebol), os árbitros (que estarão agora mais tranquilos e motivados) e, obviamente, quem soube ser grande num momento em que nem era difícil ser... pequeno.
A procissão ainda vai no adro e muita tinta há de correr nas jornadas que aí vêm, mas uma coisa é certa: o arranque com educação, caráter e fair play ninguém nos tira. Não esqueçamos que o futebol não vive apenas daquilo que é. Vive também da perceção que o mundo exterior tem dele. As duas realidades são controladas pelas atitudes de quem anda lá dentro, de quem gere o que acontece à sua volta e de quem analisa, comenta e aplaude cá fora. Se essa atitude global for positiva, se souber criticar com fundamentação e dignidade, censurar com respeito e educação e elogiar com sinceridade e genuinidade, ganhamos todos.
Eu sei disso. Os treinadores sabem disso. Os dirigentes sabem disso. Vamos tornar este campeonato no melhor exemplo possível para os nossos filhos. Eles não vão ficar desiludidos se não insultarmos alguém só porque achamos que errou. Não vão ficar aborrecidos se não fizermos barulho ou criarmos polémicas que não beneficiam ninguém. Vão é rebentar de orgulho por perceberem que resistimos à tentação de fazer tudo isso, quando fazer tudo isso era o caminho mais fácil.