Balanço inicial
DECORRIDAS que estão as primeiras três jornadas da Liga NOS, há algumas ideias que parecem saltar à vista. A mais importante, parece-me, é a postura cordial dos vários intervenientes no espetáculo. A sua correção pós-jogo.
Neste período, os ditos grandes já perderam, empataram e perderam e, apesar de críticas pontuais às arbitragens (estão no seu inteiro direito), o tom utilizado nunca foi corrosivo, malicioso ou lesa-futebol.
Este sinal, dado não apenas por essas mas, na verdade, por todas as outras equipas, é importante para o espetáculo. Passa uma mensagem positiva para dentro e para fora. Dá estabilidade, evita histerias desnecessárias e acalma as emoções efervescentes da opinião pública.
No momento de criticar, criticamos, mas quando as circunstâncias justificam elogios, então que se elogie. E, por enquanto, este savoir faire geral de quem merece o nosso elogio e o nosso mais sentido aplauso.
Outra conclusão a retirar é o reduzido número de expulsões. Até domingo passado, foram exibidos apenas três cartões vermelhos em vinte e sete partidas (apenas um direto).
Em tese, isso significa que entradas violentas, atitudes agressivas, injúrias ou faltas grosseiras têm estado longe, bem longe do que acontece lá dentro, nas quatro linhas. O respeito pela integridade física dos adversários (leia-se colegas de profissão) é uma forma muito positiva de mostrar a quem gosta de futebol que, em campo, há valores bem maiores do que o pequeno valor da vitória.
A terceira e última nota do dia vai para a qualidade global das arbitragens. E a verdade é que, de um modo geral, as coisas têm corrido bem.
Esta apreciação - que naturalmente tem em conta não dois nem três, mas todos os jogos disputados até à data - é sinal de que a entrega, o compromisso e profissionalismo dos árbitros é cada vez maior.
Não se pense que esta análise é autista. Não é. Sabe que já ocorreram erros de avaliação, mas a verdade é que esses ou não tiveram impacto direto no resultado ou foram falhas de pura interpretação.
Na única situação em que o equívoco foi flagrante - golo validado a um jogador que estava em clara posição irregular - quer o VAR, quer o seu Conselho de Arbitragem, assumiram publicamente a falha, explicando por A + B o que esteve na sua origem. A justificação técnica, embora não tenha resolvido o facto consumado (nunca resolverá) foi honesta e corajosa, tendo o mérito de abrir uma saudável via de comunicação para o futuro.
Este ambiente é bom. Há respeito, educação, civismo. Há reconhecimento da valia desportiva do adversário. É um ambiente puro, que alimenta a esperança.
Portugal, país que ama fuebol e que produz competência aos molhos (dentro e fora dos relvados), precisa urgentemente de manter um futebol assim, onde impere a cordialidade e a paz. Não uma paz estratégica e a prazo, não uma paz mesquinha e mal-intencionada, mas uma paz genuína, sincera e de longa duração.
Uma paz que resista aos erros que aparecerão e à pressão que se fará sentir. Que resista à tentação de seguir o caminho mais fácil. E que seja alicerçada na convicção de que o verdadeiro caráter deve prevalecer sobre qualquer atitude evitável.
Quando o quilate moral das pessoas é elevado, não há nada nem ninguém que consiga travar o seu caminho para o sucesso. É que, não duvidem... as coisas boas acontecem sempre às boas pessoas.