1 novembro 2024, 11:48
Bagnaia recusa correr em Valência e está disposto a abdicar do título
Cheias fizeram mais de 150 mortos; Populações isoladas recebem ajuda dos vizinhos; campeão do Mundo diz que «não é ético» correr ali
Campeão do Mundo de Moto GP recusou disputar Grande Prémio em região devastada e com grande perda humana; 'Para lá da linha' é uma opinião semanal
O que fazer perante uma tragédia? Há incredulidade, depois pânico, por fim tristeza. Esta semana fica marcada pelo fenómeno meteorológico que fez chover num dia, em algumas zonas da província de Valência, em Espanha, o mesmo que num ano. Houve tornados e cheias instantâneas na noite de terça para quarta e quem estava a salvo conseguiu registar nos telemóveis o que passou naquele final de tarde, em que muitos acabaram por não chegar a casa após um dia de trabalho. À hora a que escrevo são 214 os mortos confirmados, as autoridades não se atrevem a dar um número de desaparecidos.
Mas há também a coragem: pessoas que lançaram cordas e lençóis para salvar alguém que vai a ser arrastado pela rua, e aquelas que tomam a única atitude possível à distância. Dentro de duas semanas a região seria palco do último Grande Prémio de Moto GP da época, a luta ao rubro entre o espanhol Jorge Martin e o italiano Francesco Bagnaia, campeão em título.
1 novembro 2024, 11:48
Cheias fizeram mais de 150 mortos; Populações isoladas recebem ajuda dos vizinhos; campeão do Mundo diz que «não é ético» correr ali
Ora o italiano tomou uma posição de força e afirmou ser contra a realização da corrida, disposto a desistir de lutar pelo título. «Não me parece correto correr lá do ponto de vista ético. Mesmo à custa do objetivo máximo, não estou disposto a correr em Valência», disse ao jornal especializado Motosport, na Malásia. Bagnaia não quis ir lá participar numa festa, atitude louvável e de desprendimento, se calhar rara. Foram os habitantes das povoações vizinhas que sim foram lá, e se organizaram para ajudar quem está sem luz e água, e sente medo durante a noite, devido a pilhagens.
A verdadeira medida da tragédia que se vai encontrar no lodo que ficou ainda não é conhecida. Com a subida repentina das águas, muitas das vítimas acabaram por morrer presas em lojas térreas ou garagens. Outras arrastadas dentro dos carros, na hora de ponta da tarde. Os avisos da Proteção Civil chegaram tarde demais.
A corrida de MotoGP foi mesmo cancelada, um pouco de decência no meio da escuridão, que não se refletiu no futebol, em que apenas foram cancelados os jogos na região.