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OPINIÃO07.04.202206:55

Apesar de tudo, a melhor forma de se dar mais verdade ao futebol é o VAR...

Meu caro Nelson Rodrigues:

VOCÊ que fazia literatura da melhor descobriu que não se faz boa literatura nem bom futebol com bons sentimentos - e, apesar da sua zarolhice (de facto), também o disse:
– No futebol, o pior cego é o que só vê a bola…
Eu acrescento-lhe: ainda pior é o cego que só vê a bola com o coração.  Não, não se esquente: não estou a falar-lhe assim para o azucrinar, garanto-lhe até: para mim, uma das suas brilhantes (e poéticas) ideias é aquela que atirou para dentro de uma crónica de um Fla-Flu (com o coração quente nos olhos vesgos):
– Só o juiz gatuno, o juiz larápio dá ao futebol uma dimensão nova e, se me permitem, shakespeariana. O espetáculo deixa de se resolver em termos especificamente técnicos, táticos e esportivos. Passa a ter uma grandeza específica e terrível. Eis a verdade: - o juiz ladrão revolve, no time prejudicado e respetiva torcida, esse fundo de crueldade, de insânia, de ódio que existe, adormecido, no mais íntegro dos seres. O mínimo que nos ocorre é beber-lhe o sangue...
Estando, você, por aí: pelo alto da sua eternidade, decerto soube que, por cá, se deu ao futebol uma das suas melhores invenções: o VAR - coisa que não havia quando você, meu caro Nélson, o exclamou numa quente discussão sobre um penálti contra o Fluminense que a TV mostrava clarinho como o VAR mostrou o do Paulinho no Sporting-Paços:  
– Se o videoteipe diz que é penálti, pior para o videoteipe. O videoteipe é burro...
Imaginando, retorcido, no brado:
– Se o VAR diz que é penálti, pior para o VAR, o VAR é burro...
queria dizer-lhe que só os meus piores dos cegos (os que têm apenas o coração a ver...) é que não veem o óbvio ululante que há no VAR: ser a melhor forma de se dar ao futebol mais verdade  - mesmo que, às vezes, aconteçam coisas estranhas, como o penálti sobre o Darwin, passar incólume ao sr. Manzano - e aos olhos estrábicos de quem está no VAR...