Aura. Sabe-se apenas que uns têm e outros não

OPINIÃO26.06.202004:00

João Henriques

Esta não é a primeira vez que o nome de João Henriques aparece referido nestas colunas. Mas o tempo de observação e avaliação do seu trabalho não terminou só agora, com a vitória sobre os ainda campeões, e em casa destes. Tal como seria um tremendo equívoco pensar que a vitória na Luz não passou de um epifenómeno. Afinal, se o Benfica só havia vencido 2 dos últimos 10 jogos que disputou, já dos açorianos - que, relembre-se, não vão realizar, nesta fase decisiva, um único desafio em casa! - se pode concluir o exacto oposto: só perderam 2 dos últimos 10 desafios. Notável! E com um plantel que considero o mais fraco de entre todos quantos participam na Liga.

Rúben Amorim

A aura. Não se sabe bem o que é. Não se confunde com bom astral nem com boa sorte. Sabe-se apenas que uns têm e outros não. Sem que se saiba porquê. Parece não haver dúvidas que Rúben Amorim goza dessa aura. Porquê? Nada disso agora importa. Mas desconfio que, desta vez, o negócio entre leões e bracarenses, quando se fizerem as contas finais do deve e haver, vai revelar-se - surpresa! - uma mina para os leões e uma perda inestimável para os arsenalistas.

Bibota

Parecem apontar no sentido certo, e por isso constituem um importante sinal de esperança, as primeiras mudanças nas áreas da formação e do scouting decididas por Fernando Gomes, o para sempre Bibota, que agora se estreia em funções directivas. E que, tal como o novo vice-presidente Vítor Baía, depois de encerrar a sua carreira profissional como futebolista nunca enveredou por outras saídas profissionais, nomeadamente como técnico.

Novas sobre o título que ninguém deseja

E pronto: está escrito mais um capítulo sobre a intrigante novela concebida a duas mãos (sem contar, portanto, com as de Rúben Dias), uma azulada e outra encarnada. Já não me recordo bem se foi Bruno Lage ou Sérgio Conceição quem, antes dos desafios desta semana, veio recordar as supostas metamorfoses de besta para bestial ou, no sentido inverso, de bestial para besta, conforme a moeda lançada ao ar do destino mergulhe virada para o lado da cara ou da coroa.

A verdade é que na época transacta foi mais o demérito do FC Porto do que o mérito do SL Benfica quem decidiu a sentença final do campeonato. Da mesma sorte que agora parece possível, para não dizer muito provável, que tudo se venha a passar como num jogo de espelhos, isto é, em efeito simétrico da realidade. Atenção, porém: ainda ficam a faltar 6 jogos a cada um. Ora, conjugando a categoria própria deste duopólio com o respectivo estado de forma, não acredito que qualquer dos contentores faça um percurso limpo até ao fim, o que significa que ambos vão seguramente perder pontos. E os campeões em título estão apenas à distância de dois empates do actual líder isolado. Aliás, para alcançar tal resultado não será preciso recorrer a nenhum reforço do Além. Pelo contrário, trata-se de algo cujo modus operandi até o último dos últimos saberá explicar.

Desejo ardentemente, como sempre, a vitória dos Dragões. Mais espero que tal triunfo, a acontecer, não leve à reivindicação de atributos e predicados de que esta equipa não goza nem, muito menos, à tentação de ocultar as fraquezas que, de verdade, a atingem. E que muito nos afligem. A nós, portistas com o coração de uma só cor. Porque não será a hipotética conquista do título a providenciar, de per se, um modelo de jogo, ou melhor, um livro de estilo, que obrigue a um verdadeiro compromisso com a formação. Fica dito. Para memória futura.