As conclusões do fecho de mercado

OPINIÃO03.09.202306:35

Quando a janela de mercado fecha, os treinadores suspiram de alívio

Oúltimo dia do mercado de transferências acaba por ser um alívio para a maior parte dos treinadores que finalmente têm a certeza dos jogadores com os quais podem contar. A questão que podemos analisar é quem é que, no papel, se preparou melhor? Quem é que tem mais argumentos para a difícil época que acabou de iniciar? Quais as vantagens e desafios para cada um dos treinadores das principais equipas? 


BENFICA - EXPETATIVA E QUALIDADE 

NO início da pré-época, o Benfica teve uma presença forte no mercado que culminou nas entradas de Kokçu (melhor jogador do campeonato neerlandês), Di María e Jurásek que ainda tiveram oportunidade de participar no estágio de pré-época. Com estes jogadores, o clube tinha duas alternativas por posição e acrescentava qualidade e opções a Roger Schmidt. As expetativas dos adeptos aumentaram e o clima era de grande otimismo. Em termos concretos, a saída de Grimaldo foi compensada por um investimento de 14M€ num lateral jovem, mas que é uma grande aposta de toda a estrutura do Benfica. Kokçu reforçou as opções do meio campo, após a saída de Enzo, e Di María trouxe magia, experiência e a capacidade de fazer os adeptos sonharem mais alto. Esta abordagem inicial ao mercado passou a imagem de um planeamento bem delineado e capaz. O cenário começou a mudar quando o Benfica aceitou a proposta do PSG por Gonçalo Ramos. De uma forma pragmática, não se percebe como é que o Benfica, com liquidez (após o encaixe com Enzo e o sucesso do empréstimo obrigacionista), não antecipou esta venda e contratou um jogador que fosse ao encontro das caraterísticas pretendidas e com tempo de adaptação. Assim, a necessidade determinou que o Benfica contratasse rapidamente um avançado (Arthur Cabral) que não encaixa na perfeição na dinâmica ofensiva do Benfica, que vai ter de passar por um período de adaptação e que custou um valor bem mais elevado do que se o tivesse feito antecipadamente. De uma forma simples, o Benfica não agiu, reagiu!


BENFICA - CONFUSÃO E MÁ GESTÃO

QUANDO existem mais soluções e qualidade num plantel, a gestão do grupo fica mais complexa, pelo simples motivo que mais jogadores entendem que devem ser titulares. No último ano, Roger Schmidt utilizou praticamente o mesmo onze, sem grandes complicações. Os restantes jogadores foram percebendo o seu espaço, numa fase em que os resultados ajudaram a validar as opções do técnico encarnado. Ao contrário da última época, a primeira derrota surgiu cedo, no primeiro jogo do campeonato. Schmidt “aproveitou” essa derrota para encontrar um responsável pela mesma - Vlachodimos, assumindo uma forma de liderar que não lhe conhecíamos. De agregador passou a acusador. Pior, depois de ter finalmente duas boas soluções para o posto de GR, voltou à estaca zero e a ter apenas uma solução (Trubin). O técnico do Benfica refere que foi sincero quando falou do GR grego. A questão é que não o tínhamos visto ser tão sincero publicamente noutras oportunidades, como por exemplo em Chaves quando Otamendi teve um erro claro que originou a derrota do Benfica. A gestão das laterais foi outro problema levantado pelo treinador alemão. No lado esquerdo, Ristic era a opção óbvia para render o lesionado Jurásek (que ainda não convenceu), e que foi riscado em detrimento de Aursnes. Então se o treinador não contava com Ristic para aquela posição, porque jogou a titular frente ao Porto para a supertaça com Jurásek no banco de suplentes? Porque motivo fez Ristic toda a pré-época? Esta má gestão interna e as dúvidas em torno de Jurásek, “obrigaram” a administração a contratar Bernat (com um salário muito elevado) no último dia de mercado. Será que, para além da má gestão interna, o Benfica está a assumir que falhou na contratação de Jurásek? Feitas as contas, os dois defesas esquerdos que o Benfica vai ter este ano representam um custo total de 20M€ num ano, sendo que se o Benfica tivesse renovado com Grimaldo teria um custo de 30M€ em 3 anos!! E no lado direito? João Victor, aparentemente, não agrada. O Benfica vai ficar apenas com Bah? Numa equipa em que os laterais têm muita influência na dinâmica ofensiva, faz sentido o Benfica não ter ido ao mercado encontrar soluções? Num campeonato como o português não basta ter o melhor plantel, é preciso muita união e compromisso, de forma a que nos momentos menos positivos todos se agarrem e consigam ultrapassar os obstáculos. A liderança de Schmidt, nesta fase inicial da época, tem criado mais cisões do que união.


PORTO - PREENCHER LACUNAS

QUEM perde Uribe e Otávio não pode ficar mais forte. Contudo, analisando o mercado do Porto, podemos concluir que foi positivo. Duas boas contratações para médios: Alan Varela e Nico González), que são jogadores de caraterísticas diferentes, com capacidade para ter mais segurança na posse de bola e de a fazer chegar com qualidade e (mais) imaginação ao último reduto adversário; um lateral direito que não é brilhante mas que tem caraterísticas diferentes de João Mário, mais forte defensivamente e com menos propensão ofensiva. A grande vantagem da chegada do lateral mexicano é que Pêpe pode jogar com mais regularidade na sua posição de origem, permitindo que a equipa azul e branca seja mais imprevisível e forte. Fran Navarro reforça o lote de avançados e é mais um com potencial para Sérgio Conceição desenvolver. Iván Jaime é um jovem jogador com personalidade, irreverência e golo. Francisco Conceição ajudará a agitar os jogos e a imprimir velocidade quando o seu treinador (e pai) assim o desejar. Por fim, Gonçalo Borges não foi uma contratação, mas tem-se mostrado um reforço: intenso, dinâmico, agressivo e imprevisível. No final, mesmo com dificuldades financeiras, o Porto tem um plantel equilibrado com duas soluções por posição e mantém o espírito, a competitividade e a união que o tornam um favorito em todas as competições internas.


SPORTING - CIRÚRGICO 

AO contrário do último ano, o Sporting mostrou-se cirúrgico no mercado. Definiu os alvos e com paciência conseguiu atraí-los. Gyokeres, o avançado que encaixa na perfeição na dinâmica ofensiva de Ruben Amorim e nas caraterísticas dos jogadores que estão no plantel. Forte, intenso, rápido, agressivo e móvel, permite ao Sporting ser uma equipa diferente do passado, mais intensa e com maior imprevisibilidade e versatilidade. Hjulmand, um médio que vem preencher uma posição fundamental no terreno de jogo. Não é um mágico, mas é cerebral. Sabe onde se posicionar, é agressivo na bola, controla o espaço e tem a capacidade de sair a jogar com simplicidade. Um dos problemas do Sporting no último ano foi na zona intermediaria do terreno, pela escassez de soluções. O jogador dinamarquês traz qualidade e agressividade. Fresneda é um jovem jogador com potencial, que terá oportunidade para ir ganhando o seu espaço. No curto prazo não deverá ter a preponderância dos dois reforços anteriormente descritos, mas terá tempo para ir crescendo e afirmar-se. O regresso de Daniel Bragança é fundamental num setor em que Ruben Amorim terá à disposição Hjulmand, Morita, Bragança e Pedro Gonçalves (que pode fazer posições no ataque e no meio campo). Por fim, é importante reforçar a liderança positiva de Ruben Amorim, que mesmo depois de um ano negativo e desgastante, consegue continuar a ter um grupo unido, focado, ambicioso e crente que o caminho apontado pelo seu líder é o correto.


BRAGA - EXPERIÊNCIA E QUALIDADE

O Braga continua o seu caminho. A entrada na fase de grupos da Liga dos campeões é um feito que vem dar motivação, robustez e capacidade financeira. Reforçou-se bem no mercado com um misto de jogadores com curriculum e outros que estavam a despontar no campeonato português.  Volta a ter um plantel muito equilibrado e com mais maturidade. A preocupação de trazer experiência e jogadores habituados a lidar com a pressão nos momentos decisivos (Fonte e Moutinho) é uma ajuda importante no processo de crescimento do clube.


A VALORIZAR
Braga

Cumpriu com qualidade o objetivo de entrar na fase de grupos. Justo vencedor das duas eliminatórias, demonstrou maturidade, segurança e solidez. Os milhões e a visibilidade da Champions League irão ajudar a consolidar o processo de crescimento do clube.


A DESVALORIZAR
Roberto Martínez 

A seleção tem de ser o espaço onde jogam e são chamados aqueles que estão em melhor forma. Com esta convocatória, começamos a perceber porque motivo Rafa e João Mário abdicaram da seleção no momento em que estavam em melhor forma…