As alterações no VAR

OPINIÃO14.04.202003:00

Como já foi noticiado nas páginas centrais do Jornal A BOLA (de sábado, dia 11), o IFAB aprovou, em Fevereiro último, as alterações às leis de jogo para a época 2020/2021. A questão maior, nesta fase, não é percebermos que impacto terão essas mudanças na qualidade e dinamismo do espetáculo: é sabermos quando entrarão em ação.


Ainda existem muitas dúvidas sobre o que falta jogar desta época. Maiores serão as relativas à fixação dos calendários da próxima. Mas sobre essa questão (e respetivas implicações) já dei a minha opinião, em crónica escrita neste espaço, na semana passada. Quanto ao que aí vem, há algumas alterações interessantes. Uma delas tem a ver com a sugestão que o IFAB passou a dar aos seus árbitros para que visionem, na área de revisão, todos os lances do protocolo que sejam subjetivos ou discutíveis.  Ou seja, aquela que era a sensação generalizada que todos tínhamos, aquela que era a ideia que a opinião pública criara há muito, passará finalmente a ser prática frequente.


Não me parece que essa mudança tenha sido totalmente inocente. Aliás, toda ela tem, na intenção, um destinatário bem claro: a Premier League. Como sabem, os árbitros ingleses raramente recorriam aos ecrãs para rever lances após intervenção do VAR. Isso valia para todas as situações, nomeadamente para as que o protocolo recomendava que o fizessem. Ao atuar dessa forma, ficavam totalmente desresponsabilizados das decisões maiores do jogo. A atitude era uma espécie de lavar de mãos, algo eventualmente conveniente para eles, mas bastante injusto para os seus colegas de sala. Após cada lance discutível, víamos todos o mesmo: o juiz de campo a colocar o indicador no ouvido, pedindo a jogadores e técnicos que se acalmassem para - com um ar sereno e de alheamento total - esperar pelo veredicto final do (pobre do) videoárbitro.  Depois, a parte teatral: abanavam a cabeça, com expressão séria e atenta, como quem diz: «Humm, estou a ver.... ah... certo, claro, ok então»... e pronto. Toca a reverter ou validar a decisão anterior, explicando aos mais contestatários que nada havia a fazer, porque estavam apenas a cumprir as indicação do VAR.


A opção não era apenas feia, censurável e irresponsável. Era sobretudo covarde, porque desvirtuava uma das premissas-base do futebol moderno: o árbitro é a autoridade máxima em campo! Árbitros assistentes, quartos árbitros, VAR’s ou AVAR’s são apenas auxiliares, colegas com quem pode e deve contar no apoio à decisão. Essa tem que ser sempre dele. E isso implica assumir e ter coragem! Implica dar a cara, perante tudo e todos. Ser líder é praticar a máxima: «Quando corre bem, o mérito é de todos. Quando corre mal, a culpa é minha.» Não é para quem quer, é só para quem pode.


A parte menos das alterações tem a ver com o facto de continuarmos privados de acompanhar o processo de decisão Árbitro/VAR: as comunicações entre ambos continuarão a não ser públicas, portanto as suspeitas, o ruído de fundo e as insinuações tenderão a agarrar-se. É frustrante quando poucos tardam a ver o que tantos veem há demasiado tempo: o óbvio. Mais dia menos dia, vai acontecer. Claro.