Ano novo, vida nova
O sucesso dá muito trabalho e raramente cai do céu; e quando cai, não dura muito tempo
TODOS queremos mais e melhor. Todos esperamos mais da vida, mas, infelizmente, nem todos nos lembramos que isso exige esforço, dedicação e trabalho. Nem todos nos lembramos que chegar mais longe implica percorrer caminhos que nem sempre são fáceis de pisar. O sucesso dá muito trabalho e raramente cai do céu (e quando cai, não dura muito tempo).
Ambicionar-se uma vida boa é bom, propor-se a novas metas é fantástico, mas fazer por isso é ainda melhor.
Quem está no futebol tem a mesma pretensão. É inegável o peso que a indústria tem hoje no nosso Produto Interno Bruto (PIB) e a forma como mexe no sentimento nacional. Esse é um trunfo que não se pode nem deve desperdiçar. O nosso futebol tem talento em campo e capacidade fora dele.
Parece-me que um dos grandes desafios que enfrenta agora é o saber transitar de uma visão ainda al- go amadora para uma outra dimensão, francamente mais profissional. Para que o avanço da indústria seja efetivo, é preciso que alguns agentes (e sociedades desportivas) deem o salto. Um salto na forma de pensar, de gerir e de atuar. Um salto ao nível das infraestruturas e até da sua visão, a médio/longo prazo.
A verdade é que ainda há desnível acentuado entre clubes que militam nos mesmos escalões e, enquanto esse fosso não for reduzido, as diferenças serão sempre abismais, não obstante a chegada prometida da centralização dos direitos televisivos.
O repto é difícil, sejamos sinceros. O território português não é to- do igual e as pessoas não pensam todas da mesma forma. Além disso, nem todos dispõem das mesmas condições, meios e recursos. Tudo certo. Mas há sempre algo que pode ser feito para melhorar, para acrescentar, para maximizar.
Uma boa dica é começar ao nível das mentalidades. O futebol de topo não pode ser discutido apenas em torno do penálti duvidoso ou da expulsão exagerada. Essa visão, mais terrena e fugaz, tem lugar, sim, mas apenas na boca do adepto, do simpatizante apaixonado ou da própria imprensa, que procura sempre produto quente para venda maciça.
Mas quem gere, quem manda e quem define o futuro de uma instituição tem que ter visão de negócio diferente. Tem que pensar acima dessas boçalidades, dessas discussões. Claro que se percebe a velha estratégia do pressionar, condicionar, vitamizar ou desviar atenção pontual, mas essa deve ser sempre a excepção, não a regra.
Ao torcedor o que é do torcedor, ao gestor o que é do gestor. Quando a forma de pensar e agir dos dois é a mesma, não se consegue distinguir quem votou, de quem foi eleito para levar o clube ao sucesso.
Também na arbitragem, os desafios são enormes. Embora a visão do mundo se centre apenas nas decisões que se tomam em três jogos por jornada, há vida para lá disso. O recrutamento de jovens para a classe continua sem investimento, sem rumo nem estratégia. Temos menos de 5000 árbitros no ativo, para uma realidade desejável de 10.000 (no mínimo). Dos que temos, muitos não têm vocação técnica nem valor(es) para cá estar.
Não se sabe bem o que se pretende para a arbitragem nacional nos próximos 5 ou 10 anos: que metas queremos atingir, quem queremos ver no topo, como vamos trabalhar até lá, o que propomos mudar, que comprimissos assumimos ter?
Há muitos desafios para agarrar em 2023.
Força nisso.