Amnistia a Conceição

Amnistia a Conceição

OPINIÃO28.07.202306:30

De tão devoto que é, Sérgio Conceição pode ter pensado que beneficiaria da amnistia que entrará em vigor por Lei aquando da visita do Papa (o verdadeiro com residência no Vaticano). Está com azar pois o regime disciplinar desportivo é autónomo e independente da responsabilidade penal. Assim estipula o 6.º do Regulamento Disciplinar da Liga. Caso contrário, ainda tentava escapar à pena irrisória de 30 dias de expulsão que a secção profissional do Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol lhe aplicou.

Pelo menos, a multa já foi mais respeitável (10.200,00 EUR) tendo em conta todas as anteriores ao longo de vários anos de carreira que o treinador leva. O que aconteceu no jogo frente ao Casa Pia foi grave. Mas, no nosso futebol, há sempre uma tendência para minorar as anormalidades e atrocidades verbais ou gestuais cometidas por dirigentes, treinadores e atletas. Após o deplorável ato de insinuação de Conceição, logo veio a sua comunicação defensiva focar as atenções no treinador adjunto dos gansos.

Como se isto isentasse os atos praticados pelo seu treinador naquele jogo visando, em particular, o seu colega de profissão Filipe Martins. Se não há dúvidas que Conceição é a figura chave azul e branca desde a época 2017-18, a verdade é que tal se deve, em determinada parte, a uma ausência total de aplicação pura de reincidência disciplinar ao seu cadastro desportivo. O seu comportamento é límpida e genuinamente antiético. É verdade que não o esconde. Assume-o.

Mas isso não constitui circunstância atenuante. Só reforça a medida cáustica que lhe deve ser repetidamente aplicada por cada vez (e vai acontecer, seguramente, mais vezes) que prevaricar. Veja-se que, perante o ódio destilado das palavras, gestos ou olhares de Conceição, apenas mudaram os seus destinatários ao longo dos tempos: jogadores de outros clubes, do próprio clube, dirigentes de outros clubes e, pelo menos, um do seu próprio clube que se senta junto a si no banco e já se viu servir de “saco de pancada”. Nem árbitros escapam a confrontações com perdigotos no final de jogos ou falsas intenções de apertos de mão. Conceição é um caso raro de reincidência contínua. Só faltam punições adequadas.