13 outubro 2024, 20:18
Deputado da IL defende venda de álcool nos estádios portugueses
Bernardo Blanco dá o exemplo de Itália, Dinamarca e Países Baixos como países onde esta lei não existe
Seremos nós, os portugueses, o último bastião da sensatez? Perguntem aos clubes o que acham sobre este tema. A Europa vai dando o exemplo
O debate sobre o consumo de álcool nos estádios portugueses é recorrente e, mais uma vez, estamos perante a necessidade de uma reavaliação séria. O regulamento disciplinar da Liga Portuguesa, alinhado com o decreto-lei 339/80, proíbe o consumo de álcool nas bancadas, algo que foi alvo de tentativa de revisão em 2019, na Assembleia da República, mas sem sucesso. Esta foi uma oportunidade perdida, e precisamos urgentemente de reabrir o diálogo, porque estamos a ficar para trás na comparação com os nossos congéneres europeus.
Como sempre, a questão gera uma série de interpretações e opiniões — porque, afinal, quando o assunto é controlo e proibições, não há escassez de ideias. Mas o curioso é que, enquanto os nossos regulamentos e leis proíbem o consumo de álcool nos estádios, a Europa não parece muito interessada em seguir o nosso brilhante exemplo de contenção. Aparentemente, por lá, acreditam que a festa do futebol não precisa de ser tão... seca.
Eis-nos de novo a navegar pelas políticas desportivas de outros países, esses rebeldes que insistem em não seguir o nosso exemplar puritanismo. Lá fora, na vastidão europeia, cada liga parece ter adotado a selvagem prática de permitir o consumo de álcool. Na Premier League, esse suposto melhor campeonato do mundo — e quem somos nós para discordar? —, os ingleses permitem que os adeptos consumam álcool. Ora, que audácia! Segue-se a Alemanha, onde o álcool flui livremente tanto nos bares como diretamente nas bancadas, durante os jogos. França, Irlanda, Escócia — todos em conluio para tornar os jogos de futebol numa festa verdadeira.
13 outubro 2024, 20:18
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E então perguntamos: seremos nós, os ilustres portugueses, os últimos bastiões da sensatez, a preservar as bancadas limpas e os adeptos sóbrios, escondidos atrás do infalível argumento de que o álcool «pode alterar o estado físico e emocional das pessoas e contribuir para potenciais problemas de segurança»? Ah, a nobreza da nossa resistência à diversão — alguém tem de manter a ordem neste caos festivo que ameaça a Europa.
Mas será que estes argumentos justificam mesmo a proibição total? O futebol é uma celebração popular, que transcende classes sociais e une as pessoas em torno de uma paixão comum. Assim foi desde a sua génese e assim continua a ser. Impedir o consumo moderado de álcool nas bancadas não evita comportamentos problemáticos — pelo contrário, leva os adeptos a consumir fora dos estádios, durante horas, antes de entrarem, muitas vezes já com o jogo a decorrer, provocando aglomerações e atrasos que só complicam a logística dos clubes e da segurança.
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Vamos lá enfrentar os factos: a proibição atual não está a resolver problemas, está a criar outros. Autorizar uma venda regulamentada de álcool dentro dos estádios contribuiria para uma melhor gestão dos acessos e poderia até reduzir as tensões nos momentos de entrada. Perguntem aos clubes — profissionais e não profissionais — quantos não gostariam de ter uma ocupação a 80%, uns dez minutos antes do início do jogo. E perguntem a clubes amadores e de menor dimensão sobre a importância da receita dos bares em dias de jogo — e esses rendimentos, amiúde, são vitais para a sua sustentabilidade.
Só quem nunca esteve envolvido na gestão de um clube pode não entender a urgência desta questão. Desde 1863 até aos dias de hoje, o futebol cresceu, tornou-se numa indústria gigantesca, que emprega milhões de pessoas e atrai centenas de milhões de fãs em todo o mundo — estima-se que mais de 265 milhões de pessoas tenham no desporto-rei a sua principal preferência.
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Esta indústria precisa de ser sustentada, e retirar uma potencial fonte de receita aos clubes, sob o pretexto de segurança, é uma solução simplista e, no fundo, contraproducente.
É hora de reavaliarmos a lei e devolvermos a festa ao futebol: organizada, segura, mas, acima de tudo, para todos.