Aí está o novo mito urbano

Aí está o novo mito urbano

OPINIÃO19.06.202306:30

Já é exigido a Martínez que, em três jogos, crie uma química que não se criou em anos

ROBERTO MARTÍNEZ é um treinador espanhol e, como tal, altamente influenciado pela escola do seu país, que tem o 4x2x3x1 como esquema preferido. Mais do que o sistema, a cultura é ter bola, controlar e dominar os encontros. É uma cultura de ataque. A passagem de Martínez pelo Wigan, em Inglaterra, levou-o a uma curta experiência com o 3x4x3, que recuperou, depois de alguns jogos, ao serviço do Bélgica. O contexto era totalmente diferente, porém provavelmente pelas fragilidades do setor, o mais fraco dos diabos vermelhos, achou por bem ter mais uma unidade no eixo central. Foi assim, ao comando da geração de ouro belga, fruto de um trabalho extraordinário da federação após um Euro-2000 dececionante - situação semelhante à da Alemanha, embora com menor campo de recrutamento e num país bem mais dividido culturalmente, ao ponto de ter de introduzir o inglês como língua franca -, que conduziu a um terceiro lugar no Mundial-2018, aos quartos de final do Europeu três anos depois e, sim, ao fracasso no Catar. Pelo meio, qualificações espantosas. A equipa envelheceu, perdeu capacidade de pressionar, baixou um pouco mais o bloco, apostou mais nas transições e perdeu identidade. Terá estado aí o seu principal problema, a incapacidade de provocar roturas e criar novas dinâmicas. Teremos de esperar para ver, sobretudo quando apertar a exigência, se aprendeu ou não a lição.

O 3x4x2x1 de Martínez na seleção portuguesa é visto agora como algo saído de uma caixa de Pandora, mesmo que esteja no terceiro jogo no cargo - com um saldo irrepreensível, sublinhe-se - e tenha de estabelecer uma química que o anterior selecionador não conseguiu em muitos anos. Embora não concorde com algumas das suas decisões, é urgente acabar com o mito urbano: nada na sua ideia de jogo mostrou que seja um treinador defensivo.