EDITORIAL Águia morde a língua!
Se a que fica é a última imagem, pode o Benfica ficar com a consciência menos pesada!...
Uma vitória, por fim, ao sexto jogo desta Champions leva o Benfica a acompanhar o SC Braga na viagem para a Liga Europa. Se a que fica é a última imagem, então pode a águia, apesar de tudo, respirar um pouco mais de alívio por ter conseguido na Áustria não apenas o primeiro triunfo como também a melhor exibição nesta edição da maior prova europeia de clubes.
Não pode, porém, a equipa de Roger Schmidt deixar de morder de novo a língua, porque voltou a revelar exatamente o mesmo tipo de ineficácia que a deixou presa ao empate com o Farense na última jornada da Liga. Tivesse, por exemplo, o perdulário Rafa, na noite de ontem, conseguido concretizar só mais uma das flagrantes quatro desperdiçadas ocasiões de golo e provavelmente a águia nem sequer teria tido a necessidade de sofrer para seguir numa das carruagens europeias ainda disponíveis.
Depois da agitação nas águas da Luz com o impensável (e inaceitável) ataque a Roger Schmidt com objetos mais ou menos identificados lançados no jogo de sexta-feira por (poucos) sócios encarnados — que se espera sejam identificados e devidamente punidos pelos responsáveis do clube — e após o inqualificável e surpreendente conflito com Arthur Cabral, pouca coisa saberia melhor ao treinador alemão do que aquilo que veio a suceder, ontem, no regresso de Schmidt a uma cidade que bem conhece e onde já trabalhou.
Molhado, desta vez, apenas pela água da chuva, acabou Schmidt abençoado por aquela última substituição. Deu ao jogo o pecador Cabral e o avançado brasileiro pagou com a redenção de um último golo (e que golo!!!), decisivo para dar definitivamente à águia o voo para a segunda competição de clubes da UEFA.
Pode, na verdade, com a noite de ontem, ter Roger Schmidt ganho um novo ânimo, indispensável num momento de tanta desconfiança no interior da equipa e no coração dos adeptos. Precisará o treinador alemão, bem como alguns dos craques da Luz, porventura de um reset ao estado de alma. Não têm treinador e jogadores nada a ganhar em se afastar dos adeptos quando se sabe (e no Benfica isso é profundamente visível) que os adeptos são, de um modo geral, a maior força motriz de qualquer grande clube.
Acompanha já o Benfica para a Liga Europa (onde os espera um qualificado Sporting) um empenhado e elogiado SC Braga. É, apesar de tudo, e até ver o que fará hoje o FC Porto (a um pequeno passo de mais uma vez chegar, com indiscutível mérito e valentia, aos oitavos de final da Champions), a boa notícia portuguesa numa semana europeia que marca a queda do monstro Manchester United.
Deveria, assim, a semana europeia de futebol celebrar apenas o jogo, os golos e os artistas, não fosse o inqualificável, lamentável e indigno ataque ao futebol protagonizado pelo terrorista presidente (e outros responsáveis) de um clube turco, autores de bárbara agressão ao árbitro no final de um jogo da liga do país.
Se lamentavelmente sucedeu, que sirva, no mínimo, para metermos a mão na consciência e refletirmos sobre os péssimos exemplos dados, no futebol português, onde já muitos responsáveis foram autores de cenas que apenas abrem caminho à validação do pior que pode ter o comportamento humano.
Violência não é apenas o ato físico de agredir, e mesmo assim Portugal (a um nível menos mediático) já testemunhou impensáveis episódios com agressões físicas. O que se pede é que as autoridades desportivas nacionais saibam, de uma vez por todas, impor com exemplar rigor e dureza a exigência de um comportamento eticamente responsável. O futebol, como todas as outras modalidades desportivas, apenas sobreviverá se o crime for clara e justamente castigado. Sem castigo exemplar, o crime apenas conduzirá a mais crime. Não será?!