“Academias”
Entre ficar na miséria e tentar algo nas mãos de desconhecidos por um punhado de dólares, arrisca-se a segunda (e com ela, por vezes, a própria vida)
NÃO há nada de el dourado para todos os envolvidos na mais recente operação assim denominada pelo SEF no desporto nacional. Sobretudo para todas as vítimas (atletas e respetivas famílias) que caem numa rede que lhes poderá causar danos a vários níveis (físico, emocional, psicológico). Noutra posição distanciada, surgem os arguidos ‘vendedores de sonhos’ neste processos rocambolescos que ocorrem amiúde em transferências de futebol amador ao verdadeiro estilo de tráfico humano. A estes se reserva, se provado, uma punição exemplar. A FIFA tenta combater o flagelo enquanto atualiza regulamentos internacionais para poder praticar maior fiscalização sobre federações, associações e academias nacionais ou internacionais de jovens jogadores. Contudo, alerta-se para um problema que raramente é discutido e que se revela quase impossível de contornar na prática: existem pais que dão tudo o que têm (e o que não têm) para que os filhos se despeçam forçosamente das suas famílias e saiam da sua zona de conforto para tentar a sorte lá fora. É o caso de miúdos oriundos de países ditos de terceiro mundo, pobres e sem esperança. Entre ficar na miséria e tentar algo nas mãos de desconhecidos por um punhado de dólares, arrisca-se a segunda (e com ela, por vezes, a própria vida). Por experiência própria em quase 17 anos nesta matéria e com particular enfâse nos PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa), perdi a conta aos casos ‘culturais’ que me chegaram de pais que recriminaram e afastaram os seus próprios rebentos por estes, por alguma razão, terem voltado ao seu próprio berço por terem falhado rotundamente na única oportunidade concedida para singrar num mundo e realidade em que, obviamente, raros são os casos de sucesso. Há pais que não o deviam ser. Urgentemente correto é denunciar sempre. Assim foi em 2015 quando o SEF celebrou protocolo com a Federação, Liga e Sindicato de Jogadores para combater o crime após contabilização acima de mil futebolistas ilegais. A renúncia de Mário Costa ao cargo de Presidente da Mesa de Assembleia Geral na Liga era expectável. Porém, parece-me que já existia incompatibilidade no exercício do cargo ao abrigo dos Estatutos da entidade.