A revolta

OPINIÃO23.02.202305:30

É urgente tornar o futebol português mais exigente e com uma arbitragem mais prestigiada

SEMPRE foi natural os adeptos, com muitas esperanças e competências, ficarem tristes quando a sua equipa não consegue vencer um jogo. Todos sabemos que há momentos em que até a bola “queima” e deixa os jogadores perdidos, sem confiança e mais ainda, quando os adeptos abandonam o estádio antes do fim do jogo. Nos momentos de insegurança, os atletas sentem a bola a fugir e tentam passá-la de imediato para evitar falhanço e serem atacados por assobios e insultos que ainda aprofundam mais as possibilidades de erro.

Dentro das quatro linhas, há jogadores que se revelam e outros que não se conseguem superar. O Presidente do clube, como principal figura e símbolo da tradição, nunca pode esquecer a sua função: unir o clube, manter os princípios, apoiar os atletas. Nos momentos mais complicados, são necessários aplausos, incentivos e equilíbrio emocional, para atrair responsabilidades e libertar os atletas para darem tudo por tudo, porque sabem que o líder os defenderá sempre, nunca permitindo que a equipa seja maltratada por quem os deve apoiar.

Paralelamente, é urgente tornar o futebol nacional mais exigente (uma arbitragem prestigiada é essencial, porque muito urgente) para evitar clubes que internamente estão nos lugares cimeiros da classificação, mas perdem jogos internacionais, porque os consideravam acessíveis. A competitividade interna é fraca, o tempo útil de jogo deve aumentar com eficácia, as simulações de lesões têm de acabar (penalizando-as: como é que um toque nas costas cria uma lesão num joelho?), castigar com determinação pisadelas nos adversários e, para além do profissionalismo, as arbitragens são também decisivas para que o nosso futebol se prestigie pelo exemplo! Basta que as entidades o queiram, se implante a transparência e se acabem com decisões de justiça que são autênticos atentados à igualdade de procedimentos. Começar pela arbitragem é essencial! Quem beneficia com os protestos intensos dos adeptos? O FC Porto é um bom exemplo de apoio constante à ‘nossa família’.


APRENDER SEMPRE

O Conselho de disciplina da FPF, finalmente conseguiu aperfeiçoar regras que preservam a unidade, sem exceções. Decisão adequada, porque impede privilégios para os clubes que acabam por conhecer as penalizações dos seus atletas e descobrem forma de contornar as punições. 

Os clubes têm de ser tratados da mesma maneira, caso contrário há subversão de princípios. O caso Paulinho (que não é novo), permitiu usar ‘estratégia legal’ para uma ultrapassagem pouco recomendável.

Impedir a repetição destes casos é uma vitória e se for universalizada, evita que os clubes entrem em campo com o conhecimento antecipado das sanções, criando expedientes para as superar. A grande mudança, que torna o futebol mais igual em termos de regras, representa um passe fantástico para que o jogo não tenha inclinações. Não é suficiente, mas representará um avanço de qualidade. A interpretação sobre os prazos no processo sumário poderá (e deverá) ‘impedir a decisão em tempo útil dos recursos interpostos das sanções aplicadas’. Desse modo, as sanções poderão ser conhecidas no dia do jogo a disputar, impedindo recursos oportunistas. A partir de agora, para se manter o mesmo tratamento, tem de haver garantia de prazos iguais para todos.

A justiça desportiva carece de valorização, de credibilidade e de reconhecimento transparente sem ‘casos especiais’.


PROVAS EUROPEIAS 

DEPOIS da vitória do Benfica na Bélgica, para a Champions, em Alvalade, o Sporting acabou surpreendido pelo Midtjylland, que não competia desde novembro, surgindo com intensidade num futebol com qualidade e objetividade, perante um adversário a passar uma fase menos favorável. Perto dos 80’, os dinamarqueses marcaram (aproveitando falha que revelou o instável estado de espírito da equipa) tiveram mais oportunidades, enquanto o Sporting não conseguiu ultrapassar fase menos boa; não será com assobios dos radicais que qualquer clube vai conseguir sucesso, mas antes com aplausos e incitamentos. 

De qualquer modo, os leões lutaram sempre, tiveram azares, lutaram até ao fim e, em cima da hora, Coates empatou e talvez esse golo possa trazer confiança futura e permita vencer o play-off de acesso aos oitavos de final da Liga Europa.

Em casa, o Braga, colapsou no play-off para a Conference League, sofrendo pesada derrota, com consequências inevitáveis. Refletir sobre as prestações das equipas nacionais é tarefa imprescindível.

Na Champions, o FC Porto bem organizado, fechou espaços ao Inter, controlou o jogo, teve oportunidades porém, o segundo amarelo desnecessário de Otávio, perto do fim,  enfraqueceu a estratégia definida e o Inter acabou por marcar um golo: nada está perdido! Falta competitividade à nossa Liga que, que mesmo com resultados equilibrados não revelam futebol mais agressivo e sem paragens.

Nestes jogos, fixamos um pormenor interessante: ao melhor jogador jovem do recente Mundial, Enzo Fernández, agora no Chelsea, surgiu-lhe, com a bola dominada, o avançado do Dortmund, Karim Adeveni, ainda no campo do adversário e, com 11 toques na bola, avançou a velocidade fantástica (9 segundos em 65 metros) deixando para trás o argentino e marcando golo. Não são os comentadores que fazem os jogadores mais virtuosos, porque somente o talento o consegue comprovar! A qualidade das prestações desportivas, nem sempre está de acordo com os milhões investidos em transferências milionárias. O tempo dirá quem investiu erradamente ou com acerto. Por isso, vale a pena acompanhar.

Como exemplo, a eventual mudança de donos no Chelsea, com alteração de equipa técnica e com resultados que, para já, ficaram muito distantes das previsões: o clube inglês mergulhou em águas profundas e somou uma derrota com o último classificado da Premier League.
 

LIGA PORTUGAL 

É urgente exigir um futebol mais forte e consistente, sem perdas de tempo sucessivas e evitáveis. Já é a hora de os jogos merecerem maior atitude e rigor imparcial. O futebol tem de ser um espetáculo de imprevisibilidade e encantamento, fazendo com que adeptos motivem a sua equipa durante todo o jogo, especialmente quando os jogadores precisam de mais apoios. É isso que também distingue os clubes e os adeptos. 

O FC Porto, com mais de meia equipa lesionada, lutou com raça e determinação, conseguindo mais uma vitória, perante um Rio Ave bem organizado, com Toni Martinez a faturar e o clube a conseguir os 3 pontos.O Braga venceu o Arouca e mantém-se nos lugares cimeiros. O Benfica derrotou o Boavista com uma segunda parte intensa e justa. O jogo do Chaves com o Sporting, acabou por se tornar uma ‘ofensa à verdade desportiva’, porquanto os flavienses foram muito prejudicados ao não serem assinaladas duas grandes penalidades. Os especialistas de arbitragem dos jornais A BOLA e de O Jogo foram unânimes ao considerar que esses lances foram erros graves não assinalados. E se o árbitro falhou, onde estava o VAR? Além de continuar a revelar falta de competência, vai prosseguir sem vergonha nem arrependimento: o nosso futebol carece de isenção. Esses erros incríveis deveriam provocar efeitos imediatos na liderança da arbitragem, ou vai manter-se o silêncio, não dos inocentes, mas dos culpados? Dessa forma, não se conseguirão trazer mais adeptos para os nossos estádios…
 

DESESPERO?

PERIODICAMENTE, nos últimos anos, o Barcelona aparece na Comunicação Social, por motivos muito estranhos. Desta vez, mais uma situação desprestigiante refere avultado pagamento ao antigo vice-presidente do Conselho Técnico de Árbitros da Real Federação Espanhola de futebol (entre 2016 e 2018). Segundo a imprensa espanhola, os pagamentos foram detetados e esse vice-presidente não indicou a origem dessas verbas (1,4 milhão de euros, sem impostos). O clube justificou ter contratado um consultor técnico para explicar aos jogadores como se deveriam comportar perante os árbitros. A informação sobre os árbitros será hábito que continua para o presidente do Barcelona? As entidades judiciais estão a investigar essa grave situação.
 

ADMITIR O ERRO

A dimensão de quem assume publicamente o erro é sempre um exemplo importante. Em Inglaterra, em dois jogos houve falhas inacreditáveis, que tiveram influência nos resultados. Quem tem essa função, é uma empresa que contactou os clubes para reconhecer falhas graves.

O golo da igualdade no Arsenal-Brentford, foi observado pelo vídeoárbitro, mas no momento errado, pois o VAR não colocou as linhas para confirmar a posição do jogador que marcou o golo; por essa falha, o árbitro do VAR retirou-se da arbitragem: grande exemplo de dignidade! O outro erro aconteceu no mesmo horário do jogo Crystal Palace-Brighton, ao anular um golo ao Brighton, porque a colocação da linha de fora de jogo não foi referenciada ao último jogador, mas antes num jogador em posição legal.

Em Portugal, na jornada 20, o treinador do Marítimo criticou, com razão, a decisão de grande penalidade para o Braga, apontando falha nunca esclarecida cabalmente. Um antigo árbitro internacional afirmou que quando a mão está apoiada no solo e a bola bate na mão, não deve ser considerada falta porque não houve movimento intencional para jogar a bola. E assim, um eventual erro de aplicação das leis de jogo, adulterou o resultado. Mas, na nossa Liga, ninguém assumiu o erro. Essa a diferença que nos atrofia!
 

REMATE FINAL 

— O ganês Christian Atsu, antigo jogador de FC Porto e Rio Ave, foi encontrado sem vida, após duas semanas do sismo que  assolou Turquia e Síria. Sinceros e sentidos pêsames à família e ao futebol.

— Pepe, o capitão portista, afirmou sobre Sérgio Conceição: «Os jogadores que passam pelo Sérgio Conceição, a nível tático, saem do FC Porto quase com o terceiro nível de treinador (…) Só vão dar valor ao nosso mister quando ele sair de Portugal. Espero que nunca. Com os mesmos jogadores, podemos jogar de quatro ou cinco maneiras. É interessante, trabalhamos essas quatro ou cinco maneiras para determinados jogos. Como jogador, apesar dos 40 anos, sinto que aprendo a cada dia com ele».

— Para a Conference League, o jogo entre o Sheriff Tiraspol e o Partizan, não terá adeptos, em virtude da instabilidade política que pode originar um golpe de Estado.

— A Seleção feminina de futebol venceu a equipa dos Camarões e apurou-se, pela primeira vez, para um Mundial. Muitos parabéns!