A resistência à mudança e o racismo
Cartão azul (IMAGO)
Foto: IMAGO

A resistência à mudança e o racismo

OPINIÃO13.02.202409:19

Decisão da APCVD demorou um dia e meio a ser tomada

1. Assim que se especulou sobre a possibilidade de se introduzirem expulsões temporárias no futebol, o mundo parece ter desabado, tal o conjunto de críticas que recaíram sobre aquela que seria, segundo tantos, mais uma invenção do International Board.

Os defensores do «lá vão eles estragar isto tudo» apressaram-se a (tentar) matar a ideia, em nome da velha lengalenga da fluidez de jogo e das emoções do adepto, sem sequer esperarem pelos testes. Sem sequer perceberem se, de facto, o cartão azul seria ou não uma medida positiva, capaz de tornar o espetáculo mais justo e apelativo. Não deixa de ser curioso perceber que essa corrente de opinião, protagonizada por figuras relevantes no panorama futebolístico internacional, é a mesma que tantas vezes aponta o dedo ao IFAB, sugerindo que é demasiado conservador, resistente à mudança e incapaz de acompanhar a evolução do futebol moderno. As mesmas pessoas que defendem intransigentemente a qualidade do jogo e a manutenção intacta das suas variáveis, opõem-se veemente a uma medida pensada precisamente para promover e melhorar essas premissas.

FIFA põe travão na ideia do cartão azul

8 fevereiro 2024, 21:56

FIFA põe travão na ideia do cartão azul

Organismo máximo do futebol considera «incorretos e prematuros» quaisquer testes relacionados ao cartão azul que se façam nos «níveis de elite do futebol »

No que me diz respeito, confesso que não tenho opinião formada sobre vantagens e desvantagens da proposta. Não sei como resultaria na prática. Por isso penso que seria sensato, inteligente até, esperar para ver. Aguardar pelos resultados das vários testes em curso e tirar conclusões palpáveis, de forma a perceber se o agora tão badalado cartão azul seria ou não viável em alta competição.

Outra coisa que é impossível não constatar é a manifesta falta de interesse da maioria das pessoas em perceberem o que levou ao aparecimento da ideia. De onde veio e porquê. Vejo muita gente preocupada com as consequências para o jogo, com as paragens em excesso, com a quebra de ritmo, mas quase ninguém pensa na causa e a causa é, pois claro, importante.

O futebol tem assistido a um acréscimo galopante de condutas desrespeitosas em relação ao jogo e, sobretudo, às equipas de arbitragem. Jogadores, treinadores e staff técnicos parecem cada vez mais intolerantes, reagindo de forma mais e mais intempestiva, por vezes até agressiva. O fenómeno é transversal. A introdução das expulsões temporárias - penalização mais forte do que o cartão amarelo e menos pesada do que a expulsão definitiva - foi pensada para dissuadir esses comportamentos. Para tentar evitar que os protestos aumentem e que as contestações escalem, até porque elas podem originar problemas nos bancos técnicos e nas bancadas. E foi também pensada para encurtar o número crescente de simulações grosseiras (que feio o que se tem visto em alguns jogos da liga portuguesa) e de práticas antidesportivas. No fundo, a ideia é nobre: tentar corrigir, pela via da punição momentânea, práticas que coloquem em risco os valores maiores do jogo, a sua imagem e bom nome.

2. O adepto que no passado sábado chamou de macaco o jogador Chiquinho do Famalicão (jogo em Faro) ficou ontem de manhã a saber, por notificação da Autoridade para a Prevenção e Combate à Violência no Desporto (APCVD), que tinha sido constituído arguido em processo contraordenacional e temporariamente impedido de entrar em recintos desportivos.

Caso seja condenado - como esperemos que aconteça - ficará sujeito ao pagamento de coima entre os €1.750 e €50.000, além de interdito a aceder a instalações desportivas até a um período de 3 anos. A decisão demorou um dia e meio (!) a ser tomada e publicada, graças à rápida ação da PSP de Faro (honra lhe seja feita) e à competência de um órgão que, de facto, merece sempre os meus mais rasgados elogios. Percebe-se porquê, não se percebe?