A primeira chave em Chaves

A primeira chave em Chaves

OPINIÃO14.04.202306:30

O campeonato é uma prova de regularidade e o Benfica tem plenas condições para retomar essa regularidade...

A NTES do clássico da Luz, poderiam ser 13, 10 ou 7 os pontos de avanço do Benfica na liderança do Campeonato. Dizia-me um amigo que as três hipóteses de avanço eram como se, à disposição, tivéssemos um saboroso peixe sem espinhas acabado de pescar (13 pontos), um peixe também sem espinhas, mas congelado ou de aquacultura (10 pontos), ou, por fim, um peixe pouco fresco e cheio de espinhas (7 pontos). Durante o jogo, aconteceram as três hipóteses piscícolas, para, por fim, termos de nos conformar com o peixe espinhoso. 

O que se passou neste encontro? Um Benfica inexplicavelmente tolhido anímica e psicologicamente, como, desde há muito, tem sido recorrente quando há jogos mais ou menos decisivos contra o FCP. Desta vez, porém, era algo de menos esperado. Primeiro, porque o avanço classificativo se apresentava como muito confortável; depois, porque Roger Schmidt tem feito um trabalho não condicionado por traumas antigos; e, também, porque a sorte do jogo até colocou bem cedo o Benfica a ganhar. No estádio, tive a sensação de que a equipa não sabia que resultado deveria prioritariamente preservar: se a vitória ou o empate. Deixou o FCP tomar conta do jogo, e, desde o apito inicial do árbitro, se viu que estava ali para ganhar. 
 

Na primeira volta  (29 de outubro de 2022) o Benfica derrotou o D. Chaves na Luz por 5-0


No desenrolar do campeonato, há um aspecto que é elucidativo e merece ponderada reflexão: Se considerarmos o conjunto das cinco equipas principais (SLB, FCP, SCP, Braga e Vitória) e o conjunto de todas as outras, o Benfica não perdeu nenhum ponto contra estas, ao invés do FCP que já deixou 12 pontos e do SCP que já desperdiçou 14 pontos. Já entre as equipas mais fortes, o Porto só perdeu 5 pontos (derrota em casa contra o Benfica e empate em Braga), e o Benfica (faltando ainda dois jogos) perdeu já 10 pontos (derrotas contra o FCP e Braga, empates contra SCP e Vitória). 

Sete jogos com sete pontos de avanço. Todos importantes. Todavia, o jogo mais decisivo para o Benfica alcançar o seu 38º campeonato é o de amanhã, em Chaves. Uma vitória tornará o caminho bem mais aberto para o título e fará reganhar a confiança que ficou algo abalada depois da derrota com o seu directo rival. Não se deve sequer pensar em hipóteses matemáticas de que se podem ainda perder ou empatar alguns jogos. Tal abordagem poderia tornar-se contraproducente. O campeonato é uma prova de regularidade e o Benfica tem plenas condições para retomar essa regularidade.  
 

«Cá para mim, nem oitenta, nem oito»


FOLHA SECA 

Viva a moderação! 

O futebol vive de hipérboles próprias da essência do seu pathos (paixão). Não vive entre extremos, vive é dos extremos. Umas vezes aumentando o optimismo, a ilusão, o elogio, o entusiasmo, o sucesso. Outras vezes, e em sinal contrário, explorando o pessimismo, o medo, a crítica, o desânimo, a frustração. Basta, aliás, dar uma volta pelas redes sociais. Os media também excitam o adepto com o primado da adjectivação que se espalha virulentamente no futebol. No futebol, tudo é volúvel e entre a verdade e a mentira tudo cabe. O curioso é que, nos tempos de agora, os números e estatísticas sob a capa de norma se juntam à exageração ficcional sob a capa de descrição analítica. 

Nestes últimos dias de maus resultados, a hiperbolização sobre o SLB assumiu o lado doentiamente negativo. A equipa, então fantástica e vigorosa, é vista agora uma como equipa fantasma e cansada. Há semanas, 7 pontos eram um avanço descansativo, são agora uma nesga pontual. Etc.

Cá para mim, nem oitenta, nem oito. Nem o Benfica era candidato a chegar à final europeia, como se ouvia e lia, nem agora pode soçobrar perigosamente na Liga. Nem o plantel era o melhor do mundo, nem a equipa se vulgarizou. Nem o treinador passou de glorificado a submetido à prova-do-jogo-seguinte.

Deixemos pois as hipérboles. Quando a borracha se gasta mais do que o lápis, é porque exageramos (nos erros). Também no futebol, a borracha da exageração é de evitar. Nunca gostei do sismógrafo emocional que, em curto espaço de tempo, vai da louvaminha a rodos à vaia precipitada e até injusta. Prefiro a moderação (crítica) face aos excessos da coligação emocionalizada dos supremos e dos ínfimos! 
 

JOGOS FLORAIS 

«Não sou obrigado a fazer cinco substituições»
Roger Schmidt treinador do Benfica 
 

Substituições ou reforços? 

NO Benfica-Inter, Schmidt acabou por só fazer uma substituição. E perguntaram-lhe porquê só uma? Por mim, respondo: porque, com a excepção de Guedes (no banco, mas ainda sem ritmo), quem poderia ter entrado, quem poderia ser «reforço»? Eis um modo de dizer que, retirando 13 ou 14 titulares, o plantel encarnado é relativamente modesto. Já agora, cadê os dois nórdicos? 
 

FAVAS CONTADAS 

Porquê? 

DETESTO substituições nos minutos finais dos jogos. Se a equipa está a ganhar, ainda as percebo na matreirice de perda de tempo, se está a perder não sei o que vai na cabeça dos treinadores quando assim procedem. Crendice ou palermice?
 

 


FOTOSSÍNTESE 

Os outros. A palavra BENFICA queima a língua de alguns protagonistas mediáticos do nosso futebol. O clube é quase sempre referido, em versão mais diplomática, por «nosso rival», ou, em versão mais incógnita, por «os outros», «eles» ou «a outra equipa». Isto para não referir nomes mais grosseiros, quiçá insultuosos. Custará assim tanto pronunciar as três sílabas do Benfica? Quem assim fala, gostaria de ser chamado por «o outro» ou coisa semelhante, em vez do nome a que tem direito? Até nisto se nota a pequenez sórdida do ambiente que teima em subsistir por cá!