A Persistência da Memória

OPINIÃO17.11.202205:30

A Taça de Portugal persiste, com resistência, unindo o País numa jornada para sempre recordar. A memória tem de ser festejada

E STE título, além de ser um quadro famoso e fantástico de Salvador Dali, é também uma referência para manter com dignidade a Taça de Portugal, como património do nosso futebol. Perder a memória, é abandonar tesouros e a história construída ao longo dos tempos para a imortalidade. De facto, a Taça de Portugal também persiste, com resistência, unindo o País numa jornada integrada para sempre recordar. Como valioso património do futebol nacional, quanto menos se mexer na prova (a não ser para aumentar o número de clubes participantes) será sempre um momento de unidade, de pacificação, entendimento e festejo, independentemente do resultado. Os dirigentes, equipas e adeptos podem dizer para os vindouros: estivemos na Taça! A memória tem de ser festejada, acarinhada, nunca desvalorizada.
Com os jogos dessa competição, é como se Portugal mantivesse vivas as memórias de quem participou e deixou uma herança para ser defendida com amizade e nunca com polémicas. Todos os intervenientes têm de ter noção da prova, devem guardar fotos e outros adereços que poderão ser afixados num lugar de destaque na sede do clube e até com exposição pública periódica, na Junta de Freguesia ou na respetiva Câmara Municipal. São tesouros carregados de emoção e de história viva.
Nesta quarta ronda participaram 32 clubes: Liga I - apurados 7 e eliminados 4; Liga II - apurados 4 e eliminados 3; Liga III -apurados 3 e eliminados 3; Campeonato de Portugal - apurados 2 e eliminados 6. No jogo Estoril-Benfica, o clube da casa (que fez sete alterações em relação ao último jogo) ficou reduzido a 10 jogadores, por expulsão de Francisco Geraldes, e o único golo surgiu após uma intervenção desastrada do guarda-redes do Estoril. Em Mafra, após entrada duríssima de jogador da casa, o árbitro errou ao não assinalar falta que deixou marcas evidentes na perna de Grujic, expulsou Sérgio Conceição de forma precipitada, injusta, revelando incapacidade de relacionamento adequado com o jogo e os protagonistas. Deveria ter a capacidade para analisar o lance com eficácia, detetando a falta claríssima sobre o jogador do FC Porto. Tratando-se de árbitro de primeira categoria, faltou-lhe a capacidade para corrigir limitações técnicas e preservar um ambiente pacífico, porque bastava uma chamada de atenção para resolver situação mínima, que seria momento de formação e de dimensão profissional. Um lance insignificante, facilmente esclarecido, resultou numa expulsão desnecessária.
A APAF e o CA da FPF decidiram apresentar participação contra FC Porto junto do Conselho de Disciplina da FPF. Em vez de encontrar situações certas que poderiam reforçar a confiança entre os diversos intervenientes, há entidades que preferem o confronto que divide, em vez do diálogo que une e cria ambiente pacífico. Quem prefere as polémicas que desprestigiam o futebol nacional? Aprender com os erros pode ser uma das estratégias que permitam evoluções e entendimentos entre todos os agentes desportivos… Claro que isso exige outra forma de saber estar no futebol, corrigindo imperfeições e reforçando amizades e admiração, independentemente do clubismo. Assim se valoriza a independência. Os árbitros devem ter várias hipóteses para diversas situações: acalmar ânimos com firmeza e atitudes certas para controlar a emoção, penalizar com cartão amarelo, reforçar o equilíbrio emocional e ainda, o mais penalizador: cartão vermelho para casos extremos. Diálogos breves mas eficazes implicam um equilíbrio que pode contribuir para um jogo de qualidade ou para o oposto: um jogo de polémicas e de agressividade. Como profissionais, todos devem sentir a obrigação de preservar valores essenciais. Assim se defendem valores essenciais e um respeito mútuo que enriquece o futebol. Jogar para vencer, sabendo aceitar, mesmo que custe bastante, qualquer resultado é imprescindível para um desenvolvimento sustentável. Há sempre outro jogo a seguir e a dinâmica deve ser mantida como elemento de crescimento e qualificação. Quando os árbitros não conseguem controlar o jogo, a todos os níveis, não são as atitudes sobranceiras que o ajudam a resolver situações mais complexas: nesse momento só o equilíbrio emocional e a imparcialidade conseguem as palavras e atitudes racionais adequadas.


A ÚLTIMA JORNADA (DA PRIMEIRA FASE)

A 13.ª jornada da Liga principal (a última antes da paragem por causa do Mundial-2022, que alguns consideram um erro de casting, mas que esperemos corra o melhor possível nos estádios) teve desafios, incluindo o dérbi da cidade do Porto, que confirmaram a qualidade e confiança dos clubes, embora para alguns possa ser um tempo para recuperar. Para já, há clubes que surpreenderam positivamente e outros dos quais se esperava muito mais. Arouca (com 8 jogos sem perder) perdeu em casa com o Rio Ave, que marcou um golo solitário numa partida equilibrada. O Boavista-FC Porto, sempre emotivo e disputado com intensidade, revelou um dragão muito forte, com posicionamentos que impediam circulação adversária, mantendo ritmo elevado, constante, com os azuis e brancos a controlarem o jogo que venceram naturalmente por 4-1.
O Paços de Ferreira tem de aproveitar a pausa para reforçar processos, começar a vencer e subir na classificação. O V. Guimarães conseguiu um remate feliz que deu a vitória. O Portimonense marcou primeiro mas o Braga conseguiu reverter o resultado, embora com muitos protestos da equipa da casa. O Casa Pia foi surpreendido em casa pelo Chaves, que fez um excelente jogo.  Aos 17 minutos o jogo estava empatado 1-1, mas o Benfica conseguiu mais dois golos e a vitória. O Famalicão recebeu o Sporting, esteve a perder por 0-2 e os leões sentiram necessidade de congelar a bola especialmente após o golo do Famalicão. O Santa Clara ao vencer o Estoril subiu na classificação.


MUNDIAL: A SELEÇÃO PORTUGUESA

«SOMOS obrigados a pensar em grande», afirmou o selecionador nacional, Fernando Santos. As suas escolhas terão de ser as de todos nós, mesmo que outros preferissem alternativas.  Mas não basta pensar assim, é imprescindível agir em conformidade, com total concentração e espírito de unidade. «A fronteira que separa ganhar de perder é muito ténue» confirmou o presidente da FPF. Mais do que um sonho, porque não real, temos de saber honrar o nosso País, manter a dignidade e a seriedade que tem de estar presente em todas as situações. Que as vossas palavras se transformem em golos e vitórias e acreditamos que todos saberão prestigiar a camisola que representa Portugal. Contamos com a vossa dedicação e entrega ao jogo, do primeiro ao último segundo. Estamos convosco!
Esperemos que após este Mundial, regressemos a um caminho mais justo, que coloque o futebol no topo das opções, num percurso inclusivo e exemplar. Que corra o melhor possível e que mal acabe, regressemos à tradição que esperamos seja um marco importante para o futebol português a todos os níveis. Depois de escolhidos, temos a obrigação de apoiar todos os jogadores. Numa seleção, o que está em jogo é Portugal e, por isso, terá sempre o apoio total. Tempos plantel com valor, equipa com diversas opções e esperamos que os jogos nos corram bem. Acreditemos na vitória, esperando que os jogadores nos orgulhem.
Após esse Mundial e regressando ao campeonato, poderemos analisar as consequências quer na prova, quer em cada clube e jogador convocado. Os clubes que não cedem jogadores às seleções poderão aproveitar o tempo para recuperar lesões e melhorar a qualidade do jogo. Após finalizar esta competição, o futebol poderá finalmente regressar a situações que envolvem união, preocupações sociais e não permitir a subversão de princípios essenciais, onde a justiça e a dignidade serão titulares, ficando de fora, para sempre, a vergonha e a desumanidade. Acredito que Cristiano Ronaldo vai mostrar de que é feito e do que é capaz de fazer! O Mundial do Catar, com os estádios das mil e uma noites alterou o paradigma da competição, quebrando a tradição do jogo, com apoiantes destinados a cada seleção: o futebol é outro universo!


FIFA E UEFA

D A FIFA e do seu presidente seguiram 32 cartas para federações que vão estar presentes no Mundial do Catar. As entidades internacionais dos direitos humanos pedem para se centrarem apenas nos jogos evitando opiniões e críticas sobre o que se passa nesse país. Das 32 federações, 9 (incluindo a FPF) afirmaram que os direitos humanos por serem universais, aplicam-se em todas as regiões. Mesmo reconhecendo algumas alterações efetuadas no Catar (sem termos a convicção de que podem ser meramente passageiras) que envolvem legislação menos restritiva, maior defesa dos trabalhadores migrantes e uma melhor segurança. Mesmo assim, ficaram muitos áreas não adequadas aos direitos de cada cidadão. O presidente da FIFA deve ter feito exigências, embora a liberdade de circulação, inclusivamente dos jornalistas, deixe muitas dúvidas… O futebol tem de ser um espaço de convivência entre povos e não um espaço de proibição, mas de liberdade e convivência. Por outro lado, o presidente da UEFA participou numa cimeira juntamente com a Associação Europeia de Clubes (ECA) e a empresa que pretende implantar a Superliga (A22), com Barcelona, Real Madrid e Juventus. Reunião longa, posicionamentos opostos. Elogiando o evento a A22 tentou uma mensagem de união e a necessidade de novos cenários competitivos. A UEFA jogou ao ataque, afirmando que o futebol europeu se opõe à criação da Superliga. Mas certamente que as discussões não ficarão por aí e talvez surjam novos episódios de uma novela que não se cansa de continuar. 


REMATE FINAL 

Alguma comunicação social afirmou que o FC Porto está em guerra com a arbitragem; trata-se precisamente de um equívoco, pois o universo da arbitragem é que deixa a ideia de estar continuamente em conflito e provocação contra o clube.

Lewandowski ganhou a sua segunda Bota de Ouro.

Galeno a fazer uma época fantástica e Eustaquio a superar números de Vitinha: 5 golos e 5 assistências. Plantel azul e branco regressa ao Olival no dia 21 deste mês.