A «mãozinha» de João Pereira no Sporting

OPINIÃO13.11.202409:30

Percebo que os adeptos achem que o melhor é o novo treinador não fazer nada e não estragar, mas não fazer nada é, na verdade, estragar

Ruben Amorim partiu em grande para o Manchester United, com vitórias (ambas com reviravolta) sobre Manchester City e SC Braga nos dois últimos encontros pelo Sporting, e com isso tornou a herança ainda mais pesada para os ombros de João Pereira. O novo treinador dos leões começa esta quarta-feira a trabalhar com a equipa e em mãos tem um presente envenenado. Pelo menos para esta época. Se tudo correr bem, o mérito será, provavelmente, mais atribuído a Amorim que ao novo técnico. Se algo correr mal, será fácil responsabilizar João Pereira. Sobretudo se ele for pondo «a mãozinha», como disse na apresentação de anteontem sobre algumas coisas que inevitavelmente mudarão.

E disse bem. O Sporting deste ano (o do ano passado também, mas este parece ainda mais impressionante) é uma máquina. Bem oleada. Mas em nenhum carro o óleo é eterno. Por muito que esteja bem oleado num momento, o óleo vai-se gastando e tem de ser substituído ao fim dalguns milhares de quilómetros. Percebo que alguns adeptos do Sporting fiquem com um calafrio ao ouvir falar na «mãozinha» de João Pereira, e que achem que o melhor é não fazer nada para não estragar, mas não fazer nada é, na verdade, estragar. Uma equipa não pode ficar imobilizada no tempo e no espaço. Se assim fosse, nem precisaria de treinador.

O novo técnico dos leões também afirmou que o «maior erro seria querer imitar alguém», sendo que o alguém era, obviamente, Ruben Amorim. E essa é a outra justificação para pôr a «mãozinha». Não há treinadores iguais, nem personalidades iguais. João Pereira até poderia tentar copiar Ruben Amorim (e não tenho dúvidas de que vai tentar aproveitar grande parte do trabalho feito), mas não é Ruben Amorim. Por isso, tentar fazer as coisas da mesma forma seria um perigo enorme — dificilmente seria convincente quando não acreditasse verdadeiramente que o que Ruben faria em determinada situação era a melhor solução; dificilmente os jogadores aceitariam que alguém se apresentasse a tentar fazer igual a uma pessoa com quem criaram fortíssima ligação durante anos, mais de quatro, nalguns casos.

Haveremos de ter, pois, um Sporting à imagem de João Pereira. Não logo de início, claro, mas irá sobressaindo a pouco e pouco. Não acho que vá ser assim tão diferente do de Ruben Amorim, pelo menos esta época. Melhor? Pior? Só o tempo o dirá.