A ilusão da pausa

OPINIÃO18.11.202003:00

Os compromissos das Seleções, da terceira eliminatória da Taça de Portugal e as projeções para a próxima janela de mercado, contrariam a impressão de que os treinadores vão ter tempo suficiente para aprimorar aspetos do seu projeto de jogo. Há clubes onde isso poderá acontecer e outros em que as ausências são numerosas. FC Porto (12) e por ordem decrescente Benfica e Sporting, entre outros, terão vários jogadores nas respetivas seleções, que na principal, quer na Sub-21.

A nossa Seleção A apresenta unicamente um jogador do FC Porto, um do SC Braga e mais nenhum de clube português. Momento difícil para os treinadores dos clubes onde atuam jogadores estrangeiros de qualidade. Por exemplo, Marchesín fará 22 mil quilómetros e outros terão também deslocações longas. Conseguir estratégias para a integração de novos jogadores é tarefa difícil. No Olival, intensifica-se processo de assimilação do modelo para as contratações mais recentes. Fernando Santos levantou a questão dos jogos particulares que não aportam benefícios e cujo espaço temporal seria melhor para descanso. Preciso a indicar as suas prioridades. Otimizando o tempo que dispõe, consegue manter o equilíbrio entre o físico e o mental e cria ambiente agradável, para assumir tarefas com confiança e bons resultados. A Liga das Nações é uma alternativa para manter seleções sem ser necessário agendar jogos particulares. Portugal apresenta Seleções cada vez com menos jogadores da nossa Liga: o mercado a funcionar! Para estes três jogos da Seleção havia objetivos coletivos e individuais a atingir: apuramento para Final four da Liga das Nações, 8 golos em falta para Cristiano Ronaldo para se tornar o melhor marcador de sempre numa Seleção A e o facto de ter alcançado a centésima vitória na principal equipa nacional. «A Seleção mais em forma da Europa» declarou Koldo Álvarez, selecionador de Andorra. Humildade com talento é projeto para vitória. O espírito de equipa, um dos maiores triunfos.

Seleção Nacional

No particular com Andorra, estrearam-se Paulinho do SC Braga com dois golos, Pedro Neto com um golo e o central Domingos Duarte. CR7 marcou mais um golo. Jogo controlado como o resultado comprova: 7-0.


No sábado, no jogo decisivo, França entrou melhor, com mais pressão e a construir superioridade no espaço da bola. Portugal, com o primeiro onze inicial da Seleção A sem um único jogador da Liga nacional, demorou a soltar-se e a criar lances com perigo para a baliza adversária. Franceses criaram mais oportunidades. Alguns jogadores nacionais não conseguiram impor velocidade na transição. Por momentos, Portugal partiu-se e os atletas arriscaram menos. Na segunda parte manteve-se a dinâmica e a França marcou o golo da vitória, após defesa incompleta. A entrada de Moutinho mudou o jogo, passámos a ter mais bola e melhor circulação. Perdemos oportunidades e as substituições poderiam ter acontecido mais cedo, em função da menor produção de alguns jogadores. França geriu o tempo final com circulação a toda a largura. Aconteceu assim como poderia ter sido um resultado contrário. Venha a próxima competição. França vence o grupo e segue para a Final four. França venceu a Suécia (4-2), Croácia perdeu com Portugal (2-3). Suécia desceu ao Grupo B. Fernando Santos descontente com jogo sem dinâmica, sem objetividade, mesmo num relvado que impedia circulação de bola para ambas as equipas, só o resultado foi melhor que a exibição. Jogadores sem a intensidade habitual, desligados, apáticos, com falhas defensivas, sem pressão sobre o adversário. A entrada de Trincão trouxe mais intensidade, mais rigor e criatividade e arrastou a equipa para melhor qualidade de jogo. Contra 10, sofrer um golo assim, não pode voltar a acontecer. Temos qualidade para mais organização, atitude constante mais forte, capacidade para marcar golos e ganhar segundas bolas, controlando o jogo para obter o triunfo desejado. É preciso repensar tudo, afirmou o nosso selecionador.

Como se prepara o tempo, com tempo

Com Fernando Santos e a sua equipa técnica, Portugal é hoje reconhecido como uma das melhores Seleções do Mundo e os resultados comprovam. Foi muito difícil atingir esta dimensão. Planeamento competente, bom trabalho dos clubes, coesão nas decisões, uma excelente base de dados e de acompanhamento dos atletas, em função do presente mas também de futuro sustentável. Com gestão eficiente e reforço de um ambiente saudável de união, o plano deu e dará resultados porque era precisamente o que nos atrapalhou durante décadas: a ausência de um modelo integrado e inclusivo como prioridade absoluta. A FPF ao apoiar também as Seleções mais jovens estimula a vontade de aproveitar o talento sem desperdício. O projeto tornou-se o mais importante e isso confirma que a inteligência é sempre a desmarcação decisiva para o golo. O jogo da nossa Sub-21, em Portimão, com a Bielorrússia, mais que a vitória de 3-0, transmitiu confiança e orgulho no futuro porque há muitos jogadores de grande nível. Ainda no Algarve, no estádio de Lagoa, a nossa Sub-21 venceu a de Chipre por 2-1 e apurou-se para a fase final do respetivo Europeu-2021.

Inaceitável

A seleção da Croácia foi à Turquia disputar um particular. Além do resultado, o jogo criou polémica com gravidade e incompetência. O central croata Vida jogou a primeira parte, desconhecendo que estava infetado com a Covid-19. Fez o teste na segunda-feira e o resultado foi negativo. Passados uns dias voltou a realizar o teste e só no decurso do jogo a equipa médica croata foi informada de que o jogador estava infetado. O selecionador substituiu-o ao intervalo. Portugal jogou ontem com a Croácia, em Split. Entretanto, outro jogador infetado, Brozvic, e mais um elemento do staff.


Três questões importantes:
1. Terá o central Vida infetado alguém durante o jogo?
2. Foi garantida a segurança à nossa Seleção no jogo na Croácia?
3. Quem assume a responsabilidade dessa falha inaceitável?

UEFA não se manifesta!

A frontalidade de Toni Kroos

«Se os jogadores fossem ouvidos, não jogaríamos uma Liga das Nações nem a Supertaça de Espanha na Arábia Saudita», afirmou o médio alemão.
Sem perder o sentido das realidades, o jogador do Real Madrid, manifestou discordância em relação ao aumento da carga competitiva, bem como à clivagem entre os clubes, em função do seu poder financeiro. Classifica as novas competições como estratégias económicas que levam os jogadores aos limites da capacidade humana. Tudo deve ficar como está. Em relação à Superliga europeia, entende que o eventual interesse desportivo cavaria maior diferença entre os mais poderosos e os outros. Afirmou que os jogadores deveriam ser ouvidos na planificação do futuro do futebol. Nem tudo tem de ser mais dinheiro, concluiu enquanto se manifestou contra a criação da Superliga.
Em Portugal, o CEO da SAD do Benfica afirmou: «A minha opinião é contrária, mesmo que o Benfica fosse um dos clubes representados na Superliga europeia. Se acontecer [o convite] quase nem é preciso pensar, mas preferia que não acontecesse.» Diga lá outra vez…