A hegemonia do Benfica
Kika Nazareth festeja tetracampeonato com o resto da equipa. Foto: TIAGO PETINGA/LUSA

OPINIÃO A hegemonia do Benfica

OPINIÃO23.05.202410:00

O Benfica juntou à conquista da Liga, a quarta seguida, todos os troféus a nível nacional

Com a final da Taça de Portugal, no último domingo, caiu o pano sobre as competições nacionais de futebol feminino e é tempo de balanço. O Benfica acentua a sua hegemonia, tendo conquistado o quarto campeonato seguido (venceu todos desde a interrupção devido à pandemia em 2019/2020), e este ano juntando todos os troféus internos em discussão.

Assente numa estrutura em boa parte sustentada pela máquina do futebol profissional masculino, o Benfica percebeu rapidamente que o futebol feminino é um fenómeno que veio para ficar e durar e depressa criou bases que lhe permitem cimentar o sucesso, alavancado pela imensa massa de adeptos — como se viu domingo no Jamor, onde se bateu o recorde de assistência na Taça, com 18.124 espectadores — e esta época tendo chegado também a inéditos quartos de final da Champions.

Não sendo caso único a nível europeu — em Espanha o Barcelona leva igualmente quatro títulos consecutivos; em França o Lyon foi tricampeão, mas na última década venceu por nove vezes; na Alemanha, Wolfsburgo (seis títulos na última década) e Bayern (cinco); em Inglaterra Chelsea leva oito títulos nos últimos 10 anos; e em Itália a Roma foi agora bicampeã após o domínio da Juventus nos cinco anos anteriores — esta questão da hegemonia encarnada tem de obrigar a concorrência a reflexão atenta. Se por um lado é sinal de um trabalho sustentado, por outro não deixa de ser revelador das dificuldades a vários níveis sentidas pelos restantes emblemas. Veja-se o exemplo do SC Braga: na época passada ficou no pódio (3º lugar na Liga) e final da Taça, esta temporada não foi além do 5º lugar e saiu da Taça nas meias.

Sem o apoio de uma Liga profissional, por si só os clubes, a maioria deles pelo menos, não conseguirão desenvolver-se para fazer evoluir o futebol feminino nacional.

Na próxima época Benfica e Sporting estarão na Liga dos Campeões e na época seguinte serão três os emblemas a ter acesso às provas europeias. Está por isso na hora de todos refletirem e apostarem no caminho da profissionalização da Liga, da melhoria de condições estruturais. Porque há muito, mesmo muito por fazer… basta ler a entrevista corajosa que a atleta Rafa Sudré há dias deu à Rádio Renascença para, se dúvidas houvesse, o perceber.

O FC Porto anunciou que vai entrar no futebol feminino, criando projeto de raiz a partir da 3ª divisão. Parece-me decisão ajuizada.