A final da Taça da Liga
João Pinheiro esteve mal num conjunto de decisões que o expôs a um critério disciplinar incoerente
O espaço desta crónica não será suficiente para tudo o que gostaria de dizer sobre o último Sporting-FC Porto. A única forma de contornar o obstáculo é sendo claro, direto e pragmático.
Por partes, então:
ARBITRAGEM
João Pinheiro é o melhor árbitro português da atualidade. Ponto. Mas a verdade é que o bracarense esteve francamente mal num conjunto de decisões que o expôs a um critério disciplinar incoerente, em prejuízo direto do Sporting. Isso foi factual, não vale a pena dizer o contrário. Otávio, Pepê e João Mário não foram advertidos como deviam, Wendell não foi expulso como tinha de ser; Paulinho viu dois amarelos com justiça, mas baseados num rigor que faltou antes. As opções beliscaram a credibilidade da arbitragem, dando azo a velhas conversas de taberna. Pior: quase fizeram esquecer a gravidade da conduta de Tanlongo e, sobretudo, de Matheus Reis. Nenhum devia ter ficado em campo.
TOCHAS E PIROTECNIA
Continua a ser muito perturbador ver que é possível entrar num estádio com material inflamável e perigoso para a segurança dos presentes. Essa liberdade permite que meia dúzia de irresponsáveis de cara tapada atirem tochas acesas para cima dos próprios adeptos (e não só), colocando em risco sério a sua saúde. Coreografia é uma coisa. Armas que magoam e podem matar alguém num recinto desportivo são outra. Um a um, passo a passo, terão o caminho que merecem. Eu acredito.
BANCOS TÉCNICOS
A dado momento, cada falta, cada lançamento, cada decisão, originava um autêntico levantamento de rancho. Todos de pé, aos saltos, a esbracejar, a protestar, a usurpar funções. Não é dos nervos, não é da latinidade, não é do calor do momento: é da má educação, da falta de respeito e da falta de formação desportiva de quem está obrigado a controlar-se em campo. Um exemplo, mas mau. Infelizmente.
JOGADORES
Alguns deviam rever o jogo para sentirem vergonha alheia da figura que fizeram. Saltos para a piscina de fazer corar qualquer batoteiro profissional, socos intencionais na barriga de colegas de profissão, joelhadas noutros com a bola a 20 metros, protestos sucessivos, empurrões e até cabeçada no árbitro (?). Emoções ao rubro, sim... mas isto? Tão feio.
IMPRENSA
A mesma que critica o norte por achar que tem complexo de inferioridade por fomentar guerra estéril contra o sul, seguiu estrategicamente o mesmo caminho, sugerindo que a proteção disciplinar a jogadores do FC Porto foi deliberada/premeditada ou, pior, movida a medo. Não gostei. Não gosto de sectarismo e provincianismo a este nível. Não me revejo em quem se socorre desse expediente menor para alavancar audiências ou vender jornais. Nalguns casos dá a sensação que o adepto não abandonou o profissional e isso é triste. Analisar com rigor, com classe, com pragmatismo e equidistância. O resto fica para o coração dos adeptos e para a boca de comentadores afetos a clubes. Pode ser?