A emenda e o soneto

OPINIÃO28.07.202306:40

A decisão de divulgar as conversas entre árbitros apenas uma vez por mês

ANUNCIOU o Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) a profilática medida de passar publicamente a divulgar, nesta nova época, áudios das conversas entre árbitro de campo e árbitro do vídeo. Uma boa medida? Claro que sim. Aliás, para não haver equívocos, clarifique-se o que já por aí vi nublado: não serão divulgados todos os áudios, mas serão divulgados os áudios de todos os lances que levarem o árbitro de campo a recorrer ao monitor vídeo colocado no estádio. O que na verdade não é bem a mesma coisa que dizer simplesmente que serão divulgados, apenas, alguns áudios e sob escolha de alguém.

O compromisso assumido pelo Conselho de Arbitragem, que só pode, naturalmente, esperar-se ver cumprido, é o de revelar publicamente as conversas mantidas pelos diferentes árbitros (de campo e de VAR) em todas as situações, sublinho, todas as situações avaliadas no monitor que cada árbitro tem ao dispor no estádio desde 2017, ano em que entrou em vigor a videoarbitragem, como forma de levar as novas tecnologias a auxiliar as decisões do árbitro principal em cada jogo de futebol, à semelhança do que há muito tinham adotado modalidades como o râguebi ou, muito em particular, diversas das competições profissionais realizadas nos Estados Unidos.

Quanto às opções de divulgação, estamos, pois, conversados. Tem de se começar por qualquer lado, e a decisão de revelar os áudios das conversas em todos os lances de avaliação no monitor já é um significativo passo em frente. A escolha não é aleatória, não serve um critério (que levantaria dúvidas, aumentaria a polémica e criaria ainda mais ruído) nem obedece a alegados interesses. São os áudios de todas as situações descritas naquele contexto.

Não são ainda os áudios de todas as conversas ao longo do jogo, mas já não é nada mau!

Assim, o Conselho de Arbitragem, como se espera, faça cumprir o que oficialmente comunicou: «Na época que se inicia agora o CA divulgará, uma vez por mês, os áudios das conversas entre árbitros de campo e VAR em todos os lances avaliados no ecrã disponível no relvado.»

Estamos esclarecidos e devemos, sem qualquer dúvida, aplaudir a medida.

Já o mesmo não se poderá dizer da anunciada decisão de revelar esses áudios apenas… uma vez por mês. Uma vez por mês? Então não é na semana seguinte aos jogos?

Admito, evidentemente, estar a ver mal o problema, mas não me parece que contribua para a transparência do jogo, da competição e da relação com o adepto revelar um áudio de uma conversa entre árbitros sensivelmente um mês após a realização do jogo a que essas conversas se referem e após toda a controvérsia que porventura venham a provocar algumas das decisões de arbitragem.

Ou seja: se vão ser revelados os áudios de todos os lances com recurso ao monitor, então faria todo o sentido fazê-lo, na pior das hipóteses, 48 horas após a jornada.

Um exemplo prático: a conversa entre os árbitros tida num jogo no início de um mês corre o sério risco (o mais do que provável risco) de ser publicamente ouvida apenas trinta dias depois, o que é verdadeiramente incompreensível.

O que o Conselho de Arbitragem vai fazer é juntar os áudios de uma mão cheia de jogos (muito cheia) e revelá-los, uma vez por mês, todos de uma vez!

Por mais voltas que dê, não consigo encontrar argumento que o sustente.

Ora se vão ser reveladas as conversas de todos os lances com recurso ao monitor de vídeo, se não vai ser necessário tempo para os avaliar e escolher (seria péssimo se assim fosse), por que razão é preciso esperar por um momento único no mês?!

Imaginemos um clássico (Benfica-FC Porto, Sporting-Benfica, FC Porto-Sporting…) com muita discussão, como é normal, à volta de algumas decisões do árbitro, horas intermináveis de debate, intensas polémicas e muita contribuição para o ruído indesejado e para a atmosfera tóxica que se procura combater. Quando ficamos a conhecer as conversas entre árbitros? Quem decide quando as divulgar? Sob, nesse caso, de que critério? Se o jogo for no início do mês teremos de esperar até ao final desse mês? E se o jogo mais para o final do mês?...

Não consigo, com toda a franqueza, compreender o contexto em que o Conselho de Arbitragem passará a divulgar, apenas uma vez por mês, como anunciou em comunicado oficial, os áudios das conversas mantidas entre árbitro de campo e videoárbitro em todos os lances visionados pelo árbitro de campo no monitor do estádio.

Creio que ninguém quererá ser mais papista do que o papa, mas o melhor é mesmo esperarmos para ver como resulta esta iniciativa, alguns anos depois de se ter experimentado (em 2017) revelar as primeiras gravações com o péssimo resultado, sem qualquer benefício para o jogo, que o próprio Conselho de Arbitragem admitiu.

O que se deseja, obviamente, a favor do futebol, é ver a louvável medida agora anunciada significar um passo em frente e não dois atrás. Mas lembro que pode a emenda (divulgar) acabar por ser pior do que o soneto (só uma vez por mês). Não é isso o que se costuma dizer sempre que tentamos arrumar alguma coisa e a deixamos, afinal, pior do que estava?!...

YAMILA RODRÍGUEZ, uma jovem futebolista argentina que joga no Palmeiras do Brasil e está no Campeonato do Mundo feminino, tatuou a figura de Maradona, na coxa esquerda, e a figura de Cristiano Ronaldo mais abaixo, na perna esquerda. Diz ela que Maradona e Ronaldo são os melhores jogadores da História e justifica ainda a decisão de tatuar o rosto de Cristiano Ronaldo com a admiração pelo português como atleta, mas também como pessoa.

Já a brasileira Ary Borges, de 23 anos, uma nordestina de São Luís do Maranhão, como é conhecida a capital do estado maranhense, que joga futebol nos Estados Unidos e acaba de se estrear num Mundial ao serviço da seleção do Brasil com a módica autoria de três golos no jogo inaugural (4-0 ao Panamá), exibiu-se na partida realizada em Adelaide, Austrália, ao estilo de Cristiano Ronaldo, celebrando, pelo menos um dos golos, com o famoso salto, braços cruzados à frente e logo estendidos para trás e só não foi possível confirmar se entoou o famoso siiuuuu, mas é muito provável que sim, que o tenha feito.

No caso da rapariga argentina, o impacto da decisão de tatuar o rosto de Cristiano Ronaldo na perna esquerda foi, porém, como se previa, incomparavelmente maior, e mais uma vez as redes sociais serviram para incendiar o que a pobre Yamila tornou viral, obrigando-a a defender-se como pôde dos fortíssimos ataques de que se viu alvo por não  ter tatuado o rosto do astro argentino Lionel Messi no lugar onde pediu para lhe desenharem o de Cristiano Ronaldo.

«Basta!», escreveu a moça no Instagram, pedindo que a deixassem em paz. «Por favor, parem! Não estou a passar bem. Em que momento eu disse que sou anti-Messi? Parem de dizer coisas que eu não disse porque, na verdade, estou a ficar mal (no meio de um Mundial onde represento o meu país). Não fico mal por vocês, mas sim pelas barbaridades que dizem, sem piedade. Uma pessoa não pode ter um ídolo ou um jogador de que goste mais do que de outro? Gostar mais de um, não é odiar outro. Por favor… jamais disse que sou anti-Messi, jamais seria. (…) É futebol e cada um tem as suas preferências (…) todos podemos gostar de coisas distintas e isso devia ser válido», suplicou Yamila, na trincheira das redes sociais.

Podemos, pois, dar Cristiano Ronaldo como acabado, podemos criticá-lo com o argumento de ter desvirtuado a dimensão da carreira no futebol com a opção pela Arábia Saudita, podemos até julgá-lo a mais na atual Seleção Nacional. Mas o impacto universal que Cristiano Ronaldo continua a ter é ridículo, como dizem os norte-americanos sempre que se referem a algo impressionante.

Sim, não temos todos de amar Ronaldo e muito menos de concordar com tudo o que ele faz ou com tudo o que diz.

Mas como pode um país tão pequeno como o nosso desdenhar, por vezes tanto, de uma figura tão grande como Cristiano?!

PS: A seleção feminina de Portugal esteve imparável frente a uma boa seleção do Vietname, no 2.º jogo no Mundial. O futebol feminino asiático, menos conhecido na Europa, é forte, e deve, por isso, valorizar-se o que conseguiram as portuguesas, todas em bom plano. Mas não me levem a mal o destaque: a miúda Kika Nazareth joga muito!...