A complexidade do ‘naming’

OPINIÃO28.04.202107:00

Que o futebol não se deixe aprisionar por cantos de sereia que desviam a razão para um oceano de cativação

NA próxima época a Liga Portuguesa perde a NOS, abandona o acordo com a Betano e vai designar-se Liga Bwin, prevendo-se encaixe superior aos 5,5 milhões de euros por época, eventualmente acordados com a Betano, num negócio em que a Liga decidiu recuar em cima do acontecimento. Memorando de entendimento acertado, com finalização prevista para este abril. Num repente, a Liga informou a Betano de que outro concorrente acionou cláusula contratual que impedia a assinatura desse contrato. O assunto poderá ir parar aos tribunais e a Liga fica com uma imagem desfocada, o que começa a ser hábito que convinha perder. A polémica não tarda e será mais uma acha para uma fogueira que não ajuda a prestigiar o nosso futebol. O presidente da Liga pode ter lapsos de memória e vontade em levar o futebol para a indústria, mas como empresário há muito a mudar. Que o futebol não se deixe aprisionar por cantos de sereia que desviam a razão para um oceano de cativação! Pode surgir conflito indesejado que potencie suspeição lamentável.
Quer a Betano quer a Bwin são casas de apostas e, para já, a última será o novo naming da Liga principal do nosso desporto-rei. Casas de apostas a patrocinar o futebol são possibilidades como muitas outras, mas o início e conclusão deste processo será oportunidade para uma escolha forte em quem vai vencer!
Aqui está um tema que merece atenção e investigação profunda. As apostas são assim mesmo, um universo efervescente e sempre a cativar mais adeptos, para além dos clubismos (que se vão esfumando) pelo desejo de um golpe de sorte, se não for de azar. As mudanças não param e maiores surpresas virão certamente. E o futebol, como fica? Vamos apostar?
 

«Pode ter vontade em levar o futebol para a indústria mas como empresário há muito a mudar»

A FORÇA DOS ADEPTOS OU OS MILHÕES

INGLATERRA, Pátria do futebol. Depois do tsunami virtual de uma Superliga impossível, os adeptos do futebol saíram à rua e deslocaram-se às portas dos estádios. A harmonia entre adeptos do futebol, jogadores, treinadores e ex-treinadores, Liga, Federação, Governo, patrocinadores e público em geral, foi um exemplo de unidade. A paixão pelo futebol não se afirma, prova-se a cada momento, para além dos clubismos. Várias lições se podem tirar dessa noite de 20 de abril: A alma do futebol continua presente e bem protegida pelos adeptos. Os oportunistas das promessas fantásticas tentaram seduzir donos de clubes, mas a paixão pelo jogo revelou-se indestrutível. O futebol inglês (outros países também festejaram essa decisão) deixou avisos à navegação para não se exagerar nos investimentos e conseguir manter um sustentável equilíbrio financeiro. As arbitragens devem ser exemplo para todo o planeta, assim como as estratégias para defender a verdade desportiva. A união dos capitães de equipa que, desde o início, se apresentaram para uma jogada decisiva, foi excelente. Ficam algumas questões por esclarecer, como por exemplo: as novas competições que vão surgir na UEFA serão o caminho mais certo ou poderão criar graves problemas em ligas mais pequenas? Piqué, um dos capitães do Barcelona, afirmou: «O futebol pertence aos adeptos. Agora mais do que nunca.» No entanto, ninguém destacou o fim do fair-play financeiro, com influência decisiva nas classificações. As emoções a comandar, embora fiquem dúvidas se vai ser mesmo assim… Que a nova Champions não se revele uma desilusão!
O futebol é cada vez mais espetáculo televisivo. O lucro da bilhética é o parente pobre dos financiamentos: direitos televisivos, publicidade, merchandising, apostas desportivas, transferências, a nível planetário. Ficaram muitas pontas soltas por resolver, incluindo a exigência de pagamento da cláusula obrigatória de saída da Superliga Europeia, com dimensão milionária: 300 milhões de euros! Recordando o Acórdão Bosman de 1995, que provocou alterações profundas, fica a dúvida se a UEFA poderá manter o monopólio das competições de futebol na Europa, caso uma decisão de Tribunal Internacional o contrarie. O futuro próximo do futebol joga-se dentro de momentos…
 

LIGA

JORNADA 28 — O Farense foi a Paços de Ferreira vencer por dois golos sem resposta. O Santa Clara e o Moreirense empataram sem golos. O Marítimo conseguiu três pontos apesar do maior domínio do Rio Ave. O Braga venceu o Boavista por 2-1. O Sporting voltou a empatar, desta vez com o Belenenses SAD, no minuto 90+6’. O Tondela ganhou ao Nacional. O Gil Vicente foi goleado em casa pelo novo Famalicão. O Benfica foi a Portimão golear o clube algarvio e o FC Porto ganhou ao Guimarães, reduzindo a diferença pontal para o líder.

JORNADA 29 — O Marítimo foi vencer ao Bessa. Rio Ave e Paços de Ferreira empataram. O Braga com 11 perdeu com o Sporting apenas com 10 jogadores desde muito cedo, na primeira parte, o que foi uma surpresa. O Belenenses SAD venceu o Gil Vicente. Famalicão e Tondela empataram. O Benfica ganhou ao Santa Clara. O Nacional venceu o Guimarães. O jogo Moreirense-FC Porto terminou empatado, após arbitragem triste e reconhecidamente favorável, que perdurará como desempenho inaceitável e intolerável, prejudicando o FC Porto: assim não!
A cinco jogos do fim, a luta pelo título ficou manchada e o risco de descida de divisão aumenta a partir do 12.º classificado. Que mais árbitros não sejam protagonistas centrais e decisivos! Portugal pode ficar mais pequeno,  empobrecendo a extensão geográfica da nossa liga.
 

MAIS TECNOLOGIA

USANDO a inteligência artificial, os suecos afirmam terem criado uma tecnologia que poderá assinalar fora-de-jogo no imediato, sem perdas de tempo. Adiantam conseguir, graças a imagens tridimensionais, eliminar os erros e definir com precisão o momento em que a bola é tocada e o posicionamento do atacante e do defensor adversário. Afirmam que vão conseguir essas decisões em tempo real. Para isso, no relógio do árbitro assistente acender-se-á uma luz vermelha e ele levantará a respetiva bandeira. Pensa-se testar essa nova tecnologia no Mundial do Catar e, se for um sucesso, essa nova ferramenta será utilizada já em 2023/2024. A tecnologia avança célere, imparável, e se os resultados forem os prometidos, não haverá conflitos com a desumanização do jogo, mas mais tempo para os jogadores criarem lances e jogadas fantásticas. Ir para além da humanidade na relva já será exagero destrutivo. Manter o jogo e reforçar a verdade desportiva sem falhas é afinal o que todos os jogadores, treinadores e adeptos desejam e, para isso, são úteis as novas tecnologias que corrijam as atuais, pois estas ainda possuem uma larga margem de erro, com influência nas classificações e interpretações que potenciam desconfiança. Além de resolver os lances de fora-de-jogo, só faltará um algoritmo que não permita falhar nos casos de grande penalidade. No último jogo do Farense com o Sporting, o resultado teria sido diferente. A tecnologia pode ser útil se infalível e ajudar a aumentar o tempo de jogo com a verdade desportiva.
 

REMATE FINAL

AFIRMAÇÕES de Roberto De Zerbi, treinador do Sassuolo, Na conferência de imprensa que antecedeu o jogo com o Milan (21/04/2021): «Foi como um golpe de estado. É como dizer aos filhos de operários que nunca podem ser médicos. Sinto raiva. Em dezembro estávamos em quarto mas não pedi nada ao meu clube porque sei a situação que enfrentamos. Se esses clubes têm tantas dívidas, deveriam perguntar-se como geriram as contas. Fizeram desastres e agora querem que sejam os mais pequenos a pagar, ou os jogadores que sonham disputar a Champions (…) Estou desapontado. Disse aos jogadores como estava furioso com isto. Foi feito sangue no domingo. O futebol é de todos e baseado na meritocracia. Podiam ter feito tudo às claras e não num comunicado à meia-noite (…) Amanhã [quarta-feira] não queria jogar com o Milan e disse-o ao meu clube. Se me obrigarem vou, mas estou furioso.»
Para a história: o Milan marcou primeiro, mas o Sassuolo, nos últimos 25 minutos, conseguiu vencer com dois golos da garra que o seu treinador transmitiu à equipa.