A atualidade em revista
João Pinheiro (IMAGO)

A atualidade em revista

OPINIÃO28.11.202308:00

Só uma base forte e bem trabalhada permite alcançar mais e maior qualidade no topo

Parece ter pernas para andar a ideia de Arsène Wenger em relação à lei do fora de jogo. O conceituado treinador francês, agora um dos homens fortes da FIFA, defende que um jogador em posição atacante só deve ser sancionado se todo o seu corpo estiver adiantado em relação ao do adversário. Se coincidirem, ainda que minimamente, a infração não deve ser assinalada.

Duas notas rápidas sobre esta ideia: a primeira para sublinhar que partiu de um agente desportivo relevante que não pertence à arbitragem, o que só reforça a importância de envolver todos os intervenientes do jogo neste tipo de discussões; a segunda para referir que, a ser aplicada, não terminará com a controvérsia habitual em redor de decisões milimétricas, mas permitirá oferecer ao jogo aquilo que ele tem de mais apelativo e entusiasmante: os golos. É que deste modo haverá uma redução substancial do número de infrações assinaladas, o que beneficiará a equipa que ataca (não esqueçamos, foi sempre foi esse o espírito da Lei 11).

Claro que nas situações em que a coincidência dos corpos de defesa e atacante for ínfima (os tais 2, 3 cms), haverá sempre discussão, mas o número de vezes em que isso acontecerá será inferior ao que vemos hoje.

Vamos esperar para ver se as coisas mudam. A próxima reunião técnica do IFAB deverá acontecer em março. Só nessa altura é que saberemos que propostas e alterações serão aprovadas para a nova época.

A outro nível, está a ser equacionada (e testada) a possibilidade de se introduzirem as chamadas expulsões temporárias no futebol, tal como já acontece noutras modalidades. A ideia é introduzir a aplicação de castigo momentâneo ao jogador culpado de conduta irresponsável, suspendendo-o durante determinado período (10% a 15% do tempo total de jogo). Em estudo estão ainda formas de combate mais feroz às perdas de tempo, se bem que a paragem do cronómetro está por enquanto afastada.

Também os jogadores que insistam em rodear o árbitro questionando-o sobre as suas decisões, passarão a ser alvo de ação disciplinar. Essa função deverá caber só ao capitão, em tom e modo apropriados.

João Pinheiro e a sua equipa (assistentes Bruno Jesus e Luciano Maia) dirigem hoje o Argentina-Alemanha, meia-final do Mundial de sub-17, na Indonésia. O árbitro internacional português arbitra assim o seu quarto jogo na prova, após Panamá-Marrocos e Japão-Argentina (fase de grupos) e Marrocos-Irão (oitavos). Notícia fantástica para a arbitragem portuguesa, que premeia a qualidade do melhor árbitro português da atualidade.

A reboque do que fez recentemente a UEFA, a Federação Portuguesa de Futebol (e/ou o seu Conselho de Arbitragem) lançou recentemente a campanha Faz Parte do Jogo, iniciativa de âmbito nacional que visa recrutar árbitros de futebol. A ação nasce da necessidade, há muito detetada, de aumentar o quadro de árbitros em Portugal. O trabalho amador e tantas vezes hercúleo levado a cabo pela maioria das associações de futebol tem agora apoio de peso, uma campanha bem planeada, cujos resultados serão contributo valioso para a classe.

Há não muito tempo, o número de árbitros no ativo não chegava aos quatro mil, estando abaixo dos registados em... 1998! Esse é um cenário inaceitável, face à evolução que o jogo teve e ao aumento de condições e meios que entretanto a arbitragem passou a dispor.

A entrada de novos árbitros e a capacidade em segurá-los na função são os maiores desafios que o setor enfrenta no presente. Só uma base forte e bem trabalhada permite alcançar mais e maior qualidade no topo. É quase matemático, só não vê quem não quer.