2023: evolução ou continuidade?
Também no futebol, o tempo percorre o seu caminho e só não muda quem recusa ser um agente de desenvolvimento
E NTRE a demissão de ministros e entrada de outros, o país vai dificultando o desenvolvimento de que carece. Na vida coletiva padecemos de vícios ancestrais e temos dificuldade em alterar, porque aceitamos sem reagir perante erros que dividem o país, como se o poder fosse um direito só de alguns. Temos a obrigação de exigir decisões competentes e justas. É inaceitável que quem governa com maioria absoluta se perca em minudências e esqueça o desen- volvimento urgente do país. Tal co- mo no futebol, quem entra como titular deve ser quem revelou mais capacidade e maior competência.
É urgente mudar este paradigma de falar muito, mas sem mudar, que nos conduz para situações que impedem desenvolvimento e que aprofundam realidades tristes como a crescente pobreza. Recuperemos a coragem de superar mares e de unir esforços e capacidades, para darmos o grande passo em frente de que estamos necessitados. «Muita parra e pouca uva» criando dificuldades às mudanças inevitáveis. Sabemos do que o futebol pre- cisa (competência, coragem, sustentabilidade e transparência). Por isso é tão fundamental a análise independente e rigorosa, para conhecermos a realidade e o caminho certo para percorrer. Em vez da ação de lóbis, para controlar os poderes na capital, temos de reforçar e prestigiar o jogo, criar condições para que decorra sem influências externas. Urge descobrir caminhos inovadores, para se aproveitarem os enormes recursos humanos que temos. Na equação de um jogo, é urgente garantir-se a imparcialidade sem olhar à cor das camisolas.
Há vitórias que tiveram ventos favoráveis e outras em que foi preciso ir para além do máximo, para conseguir superar os obstáculos. As arbitragens competentes são decisivas para a verdade dos resultados. Analisadas as competições, semana a semana, verificam-se tendências que devem ser ultrapassadas corretamente: há jogos onde a arbitragem teve influência no resultado. Todos os intervenientes no jogo têm de saber evoluir e de procurar ser exemplares e sem inclinações. Antes que seja tarde, temos de mudar e de colocar no centro do jogo a competência, a imparcialidade, os critérios uniformes, sem prepotências.
O tempo percorre o seu caminho e só não muda quem não pretende ser agente de desenvolvimento. As mudanças para melhorar o jogo e até o país, dependem da capacidade de liderança e do reconhecimento das populações. Portugal é muito mais do que a capital e basta observar as carências pelas diversas regiões, para entender a necessidade de evolução justa. O exemplo do governo deixa muita preocupação em todos nós… Não basta ter uma equipa, é indispensável que seja capaz de trabalhar em sintonia e com dimensão nacional. À medida que se aproximam eleições na Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e na Liga Portugal, já se notam movimentações, algumas para não deixar mudar o que acham importante para garantir a continuidade de um poder que se tenta perpetuar: é urgente saber fazer com justiça e imparcialidade, impedindo prepotências de quem se julga dono do jogo. E já se notam movimentações para tentar não alterar… O futebol é uma herança reforçada de várias gerações.
Por exemplo, saber «ser Porto» aprende-se no berço e reforça-se na idade adulta, por diversas razões: pelo símbolo da liberdade, pela amizade criada, por combater centralismos… O clube funciona como família alargada. Podemos não vencer sempre, ter dificuldades em conseguir, mas nunca desistimos. É chegada a altura das tutelas serem preenchidas com base no rigor e na competência. O nosso FC Porto será sempre uma realidade e ao mesmo tempo um sonho. As cores da bandeira azul e branca e o emblema, tornaram-se parte de cada adepto. O passado de cada clube é tesouro a preservar. Sofremos quando o futebol tem momentos infelizes e quando os jogos acabam com resultados forçados por erros de arbitragem. O FC Porto é centenário e o seu Presidente considerado o melhor do mundo, pelos inúmeros troféus conquistados, em diversas modalidades. No futebol, conquistamos troféus nacionais e internacionais, dos mais importantes. Mas é preciso renovar, dar lugar a quem o entenda e defenda.
Sérgio Conceição mantém o que faz dele diferente: sem facilitismo, com exigência máxima, análise rigorosa e coerente. Os jogadores entendem o que Sérgio lhes transmite. No FC Porto, nascem os líderes e temos o Presidente mais titulado do futebol. Mas a mudança requer humildade, seriedade e grande dimensão. E se alguns pretendem continuar no jogo das cadeiras do poder, vão ter de abandonar porque os tempos exigem outra mentalidade, outra forma de entender o que é urgente e importante. O próprio Sérgio Conceição afirmou que ainda há quem não reconheça o valor que Pinto da Costa acrescentou ao clube, à região e até ao país. Provavelmente só daqui a uns anos é que vão valorizar a sua obra, que felizmente continua com forte dedicação. Há algumas tarefas urgentes: melhores relvados, mais conforto nos campos, tolerância entre adeptos e árbitros imparciais que acompanhem o jogo com capa- cidade física e aplicação das regras, com certeza, apoio competente e beneficiando do VAR que NUNCA pode falhar, porquanto tem o apoio da tecnologia suficiente para manter a justiça, sem possibilidade de erro. As falhas de arbitragem são marcas que podem originar violência! As transmissões televisivas podem ser um meio importante de entendimento, se forem comentadas com rigor. O árbitro que passa despercebido, dá uma prova da sua qualidade. E o universo Porto, que nunca se dá por vencido, lá estará no próximo jogo, confiante na vitória. Medida urgente: a nomeação dos árbitros tem de ser entregue a quem escolhe com certeza e competência, porque aí começa o sucesso ou a confusão e violência! Por mais exigência que se consiga impor num clube, a marca e a coerência dos treinadores são essenciais para procurar o sucesso. Dois grandes clubes, dois excelentes treinadores, mas cultura desportiva diferenciada.
Com Sérgio Conceição há regras e procedimentos claros, coerentes e consistentes. Quem pisar o risco, seja quem for, sabe o que vai acontecer (recordam-se de Casillas sentado no banco de suplentes?). Desde cedo, Sérgio revelou as especifi- cidades que o tornam um excelente treinador a nível global. Apoiando sempre os lesionados e os que lutam pela possibilidade de entrar na equipa principal, Sérgio exige o máximo e os jogadores compreendem que assim será, com apoio total da estrutura e reconhecendo a entrega ao jogo. Roger Schmidt é também um qualificado treinador, com uma equipa que tem bons valores individuais, mas foi ultrapassado por jovem craque (no Mundial, considerado o melhor jovem Jogador) que decidiu fazer uma viagem relâmpago para a Argentina, faltando aos treinos, sem a devida autorização, onde festejou a passagem de ano. Enzo terá usado intencionalmente o Benfica como barriga de aluguer, desvalorizando o clube, colocando a sua prioridade num eventual contrato milionário, nas Ligas mais valiosas. Em relação a ambos os técnicos, certamente que a decisão seria idêntica. Porém, a diferença talvez se faça notar pelas decisões do clube no desenrolar do caso, que o futebol profissional tem de penalizar como exem- plo. A indisciplina é um virus destrutivo que não se pode tolerar.
Na jornada 14 da nossa Liga, distinguiu-se a goleada e exibição do FC Porto frente ao Arouca (mesmo derrotado, revelou-se uma equipa bem organizada, lutando até ao fim), em vez de euforias, cria cada vez mais responsabilidade, sem deslumbramentos e com coesão, humildade e determinação durante todo o jogo: há sempre obstáculos que acrescentam dificuldades, mas o FC Porto luta para os superar. O Benfica, após 28 jogos sem conhecer a derrota, foi vencido pelo Braga com um resultado alargado, justo e inesperado, numa excelente exibição dos minhotos e numa estratégia tática de grande qualidade. A primeira parte foi completamente dominada pelos locais, com o maestro Ricardo Horta a liderar, com circulação rápida de bola e de jogadores, criando diversas oportunidades e bloqueando o adversário. A segunda parte mostrou-nos um Benfica que procurou controlar o jogo, mas o Braga, recuando, saiu em ataques rápidos e poderia ter ampliado o resultado. O Mundial do Cartar, pela época em que se realizou, iria ter consequências inovadoras. O Casa Pia, venceu em Portimão e mantém-se nos lugares cimeiros.
PELÉ, A LENDA
N ASCIDO em terra humilde, com a realidade precoce de querer ajudar a família, o futebol e ele tinham inevitavelmente de se encontrar. Com 15 anos jogava na primeira equipa do Santos e muito cedo se tornou o astro maior da constelação do futebol. Num momento feliz, Edson Arantes do Nascimento foi batizado como Pelé, para sempre, simbolizando o jogo como momento de arte, de paixão e de magia. Único campeão em três mundiais, Pelé fez tudo o que o futebol tem e antes de todos os outros. A sua capacidade em superar obstáculos era um prodígio de soluções inovadoras. O seu percurso e o seu sorriso cativava todos sem exceção. O único jogador que representa completamente o futebol de todos os tempos, o tal tesouro que o Rei conseguiu trans- formar na alegria do povo. Pelé partiu, mas a sua memória perdurará quer os estádios mais sofisticados, quer nos campos de terra batida, onde muitos jovens per- seguem sonhos e alguns são capazes de concretizá-los.
Pelé também foi ministro do Desporto durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 a 1998) e eleito desportista do século XX pelo Comité Olímpico internacional (1999) e o futebolista do século XX pela FIFA (2000). O futebol será sempre Pelé e Pelé sempre o futebol. A simplicidade do Rei, por momentos, leva-nos para um espaço sem tempo, onde os milagres acontecem e a memória nunca se perde.
REMATE FINAL
Confirmou-se a esperada contratação de CR7 para o Al Nassr, que deverá superar mais um recorde, o de jogador mais bem pa- go do planeta; contudo, mais do que a admiração dos milhões, fica a desilusão de o ver em competições menos mediáticas. A escolha foi feita!
Taremi ocupa uma das posições cimeiras dos jogadores com mais participações nos golos de 2022, nas principais Ligas europeias (totalizou 34, mais 17 assistências).
Sérgio Conceição voltou a refletir a importância das situações de bola parada, concluindo: «Quando um jogo está difícil, uma bola parada pode decidir e nós temos plena noção disso (…) O golo na Alemanha foi o que mais gostei na carreira de treinador, quando o Diogo Costa meteu a bola no Galeno e ele passou por dois jogadores…»