2019
Foi um ano duro. Profissionalmente tentei manter o rumo, com a mesma consistência e sensatez. Não sei se consegui, mas tentei. Neste mundo, de subjetividade brutal e escrutínio desenfreado, asseguro-vos que não é fácil. Onde quase todos veem o essencial - a opinião técnica sobre lances dos três grandes - eu vejo o acessório. É que um ex-árbitro deve ser mais do que aquela figura que sacia o ego de uns (quando a sua opinião coincide com a deles) ou hostiliza o de outros (quando a sua análise colide com o que gostavam de ouvir).
No que me diz respeito, a visão é muito clara: onde começa a minha vontade real - a de partir de um lance concreto para a explicação legal ou clarificação das regras - termina a do interesse geral. Poucos, muito poucos, são os que realmente querem aprender ou entender as leis de jogo. O que a malta quer mesmo é saber qual o veredicto técnico do comentador, porque é esse que servirá de arma de arremesso para a briga ou para a contagem de espingardas entre rivais eternos. Somos tão poucochinho.
Reparem. A Liga NOS tem nove jogos por jornada (18 equipas em ação). Não acham uma tremenda falta de respeito só dar voz aos erros dos árbitros em relação a três dessas partidas? Então e o que acontece nos outros jogos todos? É irrelevante? Não conta? Os restantes 15 clubes? Não têm adeptos, objetivos, história?
Mais. Como é que conseguem afirmar que os erros de arbitragem são o que mais pesa num jogo? Então as decisões de três ou quatro árbitros são mais relevantes do que as de 22 jogadores? Então um jogador que se expulsa e prejudica a sua equipa... um jogador que falha o golo a meio metro da baliza... um jogador que faz um auto golo... um jogador que comete um penálti desnecessário... um jogador que põe a bola nos pés do adversário... um jogador que não impede a bola de entrar na sua baliza... não comete um erro com influência?
Mas quem é que queremos enganar? Que lavagem cerebral é essa que vos põe nesse estado comatoso sem sentido? Então não conseguem perceber isto pela vossa cabeça?
Meus amigos, acordem. Sejam intelectualmente honestos. Abram os olhos. Por favor.
O futebol é encantador porque tem variáveis que controlamos e outras que não controlamos. Umas por vezes ajudam, outras por vezes não. Isso é transversal a todas as equipas, em todas as ligas do mundo. A melhor equipa é sempre aquela que mais se adapta a essas condições. É a que tem mais qualidade, competência e resiliência. É a que trabalha mais e melhor. É a que está mais focada e não dispersa com menoridades. É a que reage melhor à adversidade.
Tudo o resto são canções de embalar que já se cantam há dezenas de anos. São canções que atenuam dores e escondem males maiores. Não vão na cantiga, que já não têm idade para isso.