Tudo o que disse João Sousa na última conferência de imprensa da carreira
Vimaranense falou de planos futuros, mensagens que recebeu e fez uma breve passagem pelos melhores momentos enquanto tenista profissional
- Qual é a sensação de te sentares enquanto jogador reformado?
É especial, hoje é um dia especial, pelo momento, obviamente, não pela derrota, mas também, era um bocadinho expectável. Acho que, apesar de não estar nas melhores condições físicas, dei tudo nos últimos tempos para estar a 100% aqui e, apesar de tudo, acho que não fiz um mau encontro.Muito mérito do Arthur [Fils], que acho que fez um excelente encontro. São muitas as memórias que me vêm à cabeça. Foram muitos momentos passados aqui e ser a última, enquanto jogador de ténis, é sempre especial. Mas, como digo, não é um momento de tristeza, é um momento de alegria. Estou de consciência tranquila. Gostaria de ter dado vitórias aos portugueses, mas não foi possível e, portanto, tenho que aceitar isso com naturalidade. Estou muito feliz pela carreira que tive ao longo de todos estes anos.
- Espera continuar ligado ao ténis?
Muito sinceramente, nunca pensei muito sobre isso. Foram muitos anos de desgaste, não só físico, mas também mental. Eu costumo dizer que o ténis é uma forma de viver, não é um desporto. Nós temos que viver o ténis. Segue-se um período de reflexão bastante profunda, para tentar descansar também da alta competição, que acho. Mas acredito que outros capítulos virão, certamente relacionados com o ténis, acredito que sim. Acho que faria sentido.
- Quais foram os momentos que te fizeram crescer mais?
Todas as derrotas são momentos duros, algumas doem mais do que outros, simplesmente porque a expectativa é diferente. Quando treinamos bem e aos resultados não acompanham essa expectativa, é frustrante. O ténis é muito frustrante, é difícil de aceitar muitas vezes. É um desporto de aceitação em tudo. Dos erros que fazemos, das bolas boas que temos, dos adversários. É muito exigente. Lembro-me de um momento duro que fiz umas nove ou dez primeiras rondas seguidas, numa série de derrotas gigantes, e são momentos em que duvidamos de muita coisa. Tudo faz parte da nossa aprendizagem. E eu consegui dar a volta a esses momentos. Sem a ajuda do Frederico Marques e de quem esteve ao meu lado não seria possível. Foi uma aprendizagem constante como pessoa, não só como jogador.
- Como vê a nova geração de jogadores portugueses?
Bom, eu olho com muito positivismo. Acho que temos jogadores muito bons. Eu gostaria de acreditar que dei alguns grãos de areia para que o ténis continue a melhorar em Portugal. Temos muito potencial. O Nuno [Borges] está top 100 neste momento. E portanto, acho que o futuro do ténis nacional é risonho.
- Quando o Pedro Sousa se retirou, disse que se sentia aliviado. Tambem sente essa sensação?
Eu não diria aliviado, eu diria realizado. O ténis é um desporto muito exigente, com competições todas as semanas, sempre com aquele nervosismo miudinho antes das provas. É difícil de gerir. Saber que não o vou ter não sei se vou sentir falta. Sinto-me aliviado. Mas realizado é a palavra adequada. Por incrível que pareça, estava zero nervoso.
- Quando se apercebeu que o fim estava a chegar?
Foi no match point. [risos] Precisamente. Se calhar antes do último jogo de serviço [de Arthur Fils]. Lembro-me de olhar ali um bocadinho para a minha box e eles estarem a olhar para mim assim já um bocadinho emocionados.
- Como vai ser o dia de amanhã?
O Frederico [Marques] queria que eu treinasse às 10 da manhã, não vai acontecer [risos] O dia de amanhã vai ser bem passado, com amigos que vieram para a minha despedida, que fizeram parte da minha carreira. Vou passar o dia com eles. Sou jogador de ténis, mas também sou humano. E esse carinho tem de ser retribuído. Houve momentos da minha vida em que não estive em momentos especiais deles, mas faz parte desfrutar agora um bocadinho daquilo que não consegui fazer. Não me sinto prejudicado por não o ter feito, mas sei que houve momentos que efetivamente não pude desfrutar. Havia pessoas que falavam de golfe, outros de kart, vamos ver o que se enquadra melhor.
- Que conselho daria para os mais novos, como o Jaime Faria e Henrique Rocha?
Eu digo sempre a mesma coisa e é um bocadinho cliché, mas é verdade. É trabalhar duro e acreditar nas pessoas que estão ao nosso lado. Acho que essas duas componentes são fundamentais para ter êxito e obviamente ser competitivo. Acho que toda a gente que está aqui é super competitiva, mas aquele que tiver mais capacidade de trabalho e de conseguir passar por esses altos e baixos que a carreira nos dá é aquele que se vai manter em cima.
- Se o convidassem, aceitava o cargo de selecionador nacional?
Futuramente, sim, eu acho que seria algo que eu poderia fazer. Por que não? A Taça Davis é uma competição que me diz muito, eu sempre fiz questão de o dizer e de mencionar. Sempre que fui convocado, nunca falhei uma única eliminatória e, portanto, é algo que realmente sinto que não existe maior honra do que representar o nosso país. Sim, sem dúvida, se no futuro essa opção surgir e se eu for convidado a fazê-lo, acredito que seria uma boa opção.
- O Gael [Monfils] disse que já lhe falou depois do encontro. Que mensagens de outros jogadores já recebeu? Rafael [Nadal] já lhe disse alguma coisa?
Não sei, ainda não vi o telemóvel. Vi que tinha 70 e tal mensagens por ler, se calhar o Rafa Nadal está aí. Durante esta semana, os meus colegas têm-me dado um carinho gigante, falei imenso tempo com o Dominic [Thiem], o Gael [Monfils] veio ter comigo. É bom receber esse carinho dos meus colegas, perceber que de certa maneira veem o trabalho que tive todos estes anos. É bonito sentir o respeito dos jogadores durante tantos anos. Não é fácil ter isso, mas acho que consegui e foi demonstrado durante toda esta semana. O Pedro Martínez veio ter comigo estava eu a tomar banho! Dei tudo o que tinha e os atletas sabem disso.