Râguebi: Mundial é para 20 nações, mas só quatro foram campeãs

Râguebi: Mundial é para 20 nações, mas só quatro foram campeãs

RÂGUEBI08.09.202301:00

África do Sul, campeã em título, e Nova Zelândia somam três títulos. Austrália, dois e Inglaterra, um. Anfitriã França quer tocar na Taça Webb-Ellis após três finais perdidas

A 10.ª edição do Campeonato do Mundo de râguebi, que se prolonga por sete semanas, 49 dias, de 8 de setembro a 28 de outubro, decorre em França pela segunda vez na história da competição.

Nove cidades e outros tantos estádios — Paris (Stade de France), Toulouse, Bordéus, Lille (Pierre Mauroy), Nantes (Beaujoire), Lyon (OL), Marselha, Nice e Saint-Etíene (Geoffroy-Guichard) — acolhem as 48 partidas do quarto Mundial realizado na Europa, a coincidir, este ano, com o bicentenário das celebrações do nascimento do jogo em Inglaterra, no longínquo ano de 1823, na universidade da cidade de Rugby, Inglaterra. 

O jogo de abertura, apitado por Jaco Peyper (África do Sul), celebra um duelo de gigantes de distintos hemisférios. A europeia França, país organizador, e a Nova Zelândia, o XV vestido de preto vindo dos mares do Sul, digladiam-se no Stade de France (80 mil espetadores), em Paris.

Será o oitavo encontro entre os dois países no evento planetário (5 vitórias para os neozelandeses), num frente a frente no qual salta à vista a meia-final de 1999, em Twickenham, que assistiu a uma estrondosa recuperação dos Les Bleus (10-24 para 43-31, marcando 33 pontos em 28 minutos) diante da poderosa seleção de Jonah Lomu.

A partir do som do mesmo apito utilizado para os jogos inaugurais desde 1995, na Austrália, entregue em Paris por Ron Rutlhand - sul-africano que pedalou 21 mil quilómetros de Auckland até à capital gaulesa para angariar dinheiro para o ChildFundRugby, associação de solidariedade social - 20 nações distribuídas entre o norte e sul do planeta, entras quais, Portugal, disputam a Taça Webb-Ellis. O troféu foi batizado em honra do criador que deu a nomenclatura e as regras ao jogo, William de primeiro nome.

Contrariar a história

O desporto ganhou contornos de profissionalismo na terceira edição, em 1995. Foi o primeiro evento desportivo a ter lugar na África do Sul no pós-Apartheid. O campeão em título, 3.ª do ranking e candidato a sagrar-se bicampeão, não entrou no restrito lote de 10 nações totalistas dos 10 Mundiais, em virtude do boicote sofrido nas primeiras duas edições (1987 e 1991) por força do regime político vivido entre 1948 e 1994.

Com o ponteiro da bússola dos títulos mundiais virado quase na totalidade para o hemisfério-sul, a europeia Inglaterra é o único outsider entre os três vencedores sulistas nas 9 edições anteriores (os tricampeões, África do Sul, Nova Zelândia, e a Austrália, esta última campeã duas vezes e colocada no Grupo de Portugal). Um dos pontos de interesse é saber se no França 2023 se testemunhará o eventual desempate do palmarés de troféus (3), que a seleção sul-africana (Springboks) divide com a Nova Zelândia (All Blacks), estando esta duas seleções colocadas nos Grupos A e B, respetivamente. 

Outro ponto interessante será, em paralelo, perceber se a seleção africana consegue igualar a nação da Oceânia com dois títulos mundiais consecutivos (2011 e 2015), também ela na pole position dos candidatos crónicos a vencer a competição. 

A Irlanda (Grupo B) sobrevoou o Canal da Mancha e aterrou em território francês na qualidade de líder do ranking mundial da World Rugby, tal como já tinha acontecido no Japão, em 2019. 

Por esse facto, os 33 homens de verde são apontados como um dos putativos candidatos à (primeira) conquista do Mundial. Mas atenção. Os irlandeses (das poucas nações que não usa uma alcunha, embora possa apropriar-se do Trevo desenhado no emblema), nunca foram além dos quartos de final, fase onde caíram sete vezes, e estão no chamado grupo da morte, ao lado da Escócia (4.º) e dos sul-africanos. 

A França (Grupo A), n.º 2 do ranking e outro dos favoritos, tem igualmente o peso da história contra si. Finalista derrotado em três ocasiões (1987, 1999 e 2011), transporta esse fardo aos ombros. O mesmo sucede com a seleção da Rosa, vencedora em 2003 e derrotada nas finais de 1991, frente à Austrália, e 2007 e 2019, num duplo embate com a África do Sul. Salvou a honra em 2003 no prolongamento no pontapé de drop de Jonny Wilkinson. 

Se olharmos ao rácio de sucesso de país organizador e vencedor, só por duas vezes o anfitrião levantou a taça cujo design remonta a 1906. Nem mais nem menos do que África do Sul (1995) e Nova Zelândia (2011). Um dado que constituirá mais uma barreira meramente estatística a ultrapassar pela seleção comandada por Fabien Galthié.

CURIOSIDADES 

10 totalistas dos Mundiais

Nova Zelândia, Austrália, Inglaterra, França, Escócia, Irlanda, País de Gales, Japão, Itália e Argentina. 

Chile, primeiro Mundial 

Para o Chile, Grupo D, este é o primeiro Mundial. Os Condores são a única seleção estreante e ocupam o lugar mais baixo da tabela do ranking (22.º) entre as 20 nações. Ganharam direito a estar em França após venceram os EUA no apuramento americano.

Os mais e os menos

Sam Whitelock (NZ) é o jogador mais internacional na lista dos 20 países. Vestiu 146 vezes a camisola dos All Blacks. 

O australiano Max Jorgensen, que também é o mais novo, 19 anos, entra em França sem uma única internacionalização. 

O japonês Naoto Saito e o irlandês Craig Casey são os mais baixos (1,65m). Richie Arnold (Austrália) é o mais alto (2,08m). Ben Tameifuna (Tonga) apresenta-se como peso-pesado (148 kg). Já Alin Conache (Roménia) e Damian Stevens (Namíbia) carregarão o estatuto de pesos-plumas com 72 quilos.

Uma mulher no VAR

A irlandesa Joy Neville foi nomeada para o TMO e será a primeira mulher num mundial masculino. A antiga internacional pela Irlanda, 40 anos, é um dos sete árbitros a estar à frente dos monitores. O inglês Wayne Barnes baterá o record de cinco Mundiais com o apito.