André Villas-Boas, ao lado de Vítor Bruno, exibe camisola do FC Porto com o número 2026, ano até ao qual vai o contrato do treinador
André Villas-Boas e Vítor Bruno na apresentação do treinador. Foto: FC Porto

OPINIÃO DE DIOGO LUÍS O que está por trás da contestação a Vítor Bruno?

OPINIÃO09:10

O treinador do FC Porto é fortemente contestado porque o alvo que pretendem alcançar é André Villas-Boas, que está a assustar muita gente que pensava ser intocável

Sempre que o FC Porto tem um jogo menos conseguido aparece uma enorme insatisfação que muitas vezes ultrapassa o limite do razoável. A forma exagerada da contestação tem dois objetivos: o primeiro é o de criar uma onda que promova a instabilidade no clube e que culmine com o despedimento do seu treinador; o segundo e o principal visa atacar indiretamente o presidente do FC Porto.

Auditoria forense

«A auditoria forense é um marco fundamental para reforçar a governança e transparência da FC Porto SA, evidenciando o compromisso em corrigir irregularidades e más práticas de gestão ocorridas no passado.»

Num pequeno parágrafo o FC Porto explicou o objetivo de uma auditoria forense. Em apenas sete meses André Villas-Boas e a sua administração concluíram uma auditoria forense abrangente e revelaram conclusões que só deixaram perplexos os mais distraídos. A realização de uma auditoria forense independente não tem como objetivo perseguir quem quer que seja. Tem como objetivo perceber o quê e a forma como era gerida a empresa no passado, identificando desvios e formas de melhorar os processos de decisão e fiscalização, potenciando a transparência interna e externa de toda a organização.

Este passo que André Villas-Boas e a sua administração deram é um grande exemplo para o universo do desporto. Perceber, avaliar e corrigir o que foi mal feito. Identificar padrões que originaram a degradação de recursos. Analisar se as decisões tomadas estão devidamente justificadas. Verificar se existem motivos para seguir a via judicial e procurar recuperar recursos gastos indevidamente.

Não posso deixar de comparar a forma de atuar de André Villas-Boas e Rui Costa. André Villas-Boas pretendeu esclarecer e perceber o motivo pelo qual tantos recursos se perderam ao longo dos anos. Rui Costa anunciou uma auditoria forense que se restringiu à avaliação de 55 contratos de jogadores. Villas-Boas conquistou credibilidade no mercado, não teve receio (quem não deve não teme!), procurou respostas e imprimiu aquilo que muitas vezes falta no desporto: transparência. Rui Costa optou por anunciar uma coisa e fazer outra. Não foi abrangente. Não se preocupou em reforçar a governança e a sua transparência. Por fim, André Villas-Boas apresentou uma auditoria forense real em sete meses. Rui Costa apresentou um trabalho sobre 55 contratos que demorou dois anos e sete meses a ser concretizado…

Contestação extrafutebol

A contestação a Vítor Bruno tem várias causas. A auditoria forense veio demonstrar muitas delas. A anterior direção vivia num mundo à parte. Dispunha de bons salários e de prémios fantásticos que eram pagos mesmo tendo em conta a degradação constante dos recursos do clube/SAD. A somar a tudo isto, a auditoria forense demonstrou que os administradores usufruíam de enormes despesas de representação sem justificação ou suporte documental. Percebemos por aqui que não existia um sistema de controlo interno na organização Porto, o que acabava por beneficiar um conjunto restrito de pessoas.

Adicionalmente, a anterior administração distribuía benefícios monetários (venda de bilhetes) e de géneros (viagens de luxo) pela claque ou pelos seus líderes. Percebemos também que muitas transações de atletas não tinham documentação de suporte, como relatórios de scouting ou uma justificação. Concluímos também que as comissões pagas foram bastante superiores ao que deveria ser praticado.

Não deixa de ser estranho como é que ninguém questionou estas práticas ou os desvios identificados na auditoria agora realizada. Todos estes factos apresentados esta semana demonstram bem o receio de muita gente que gozava de privilégios incríveis. Muitas destas pessoas poderão ter de responder nos tribunais por atos de gestão danosa ou por desvio de dinheiro. A forma corajosa e profissional com que André Villas-Boas e a sua administração estão a gerir o clube deixa muita gente desconfortável. Parece-me óbvio que este é um dos motivos para a forma agressiva como a contestação a Vítor Bruno surge nos momentos negativos e se acalma nos momentos positivos.

Contestação desportiva

Desportivamente a época não está a ser brilhante. Analisando o plantel do Porto, percebemos que a qualidade e a liderança dentro do relvado têm vindo a diminuir. Isto é apenas a consequência da degradação financeira dos últimos anos. Menores recursos originam menor investimento e menos capacidade para ir ao mercado. Acho que ninguém tem dúvidas que este plantel é o mais fraco dos últimos anos, apesar de ter jogadores com enorme potencial como Nico, Samu ou Rodrigo Mora. Se compararmos o plantel do Porto com os rivais, também percebemos que tem menos soluções. Partindo deste facto e para percebermos a contestação a Vítor Bruno, devemos analisar o comportamento da equipa nos últimos anos, à 17ª jornada. Ora, em 2022/2023 o Porto tinha 39 pontos e no último ano tinha 38 pontos. Hoje tem 40 pontos e uma segunda volta em que vai receber os principais rivais. Portanto, com um plantel mais fraco, este ano, o Porto tem mais pontos que nos últimos anos.

Podemos olhar para o futebol jogado. Com melhores jogadores a probabilidade é jogar melhor. Mas será que o Porto jogava muito melhor nos últimos dois anos? Claro que o jogo com o Nacional foi dececionante. A equipa não reagiu e foi apática. Não deixa de ser engraçado que a enorme contestação a Vítor Bruno surge num jogo em que podia ter saído líder e com grande reconhecimento, mas teve o pior jogo da época e voltou a ser agressivamente contestado.

A exigência nos três clubes grandes tem de estar sempre presente. De uma forma racional vou terminar como comecei: Vítor Bruno é fortemente contestado porque o alvo que pretendem alcançar é André Villas-Boas, que acabou com vícios, que mudou procedimentos e que está a assustar muita gente que pensava ser intocável.

A valorizar: Schjelderup

Numa semana tudo muda. Está a demonstrar qualidade e muita personalidade.

A desvalorizar: ex-administração do FC Porto

A auditoria apresentou números que confirmam todas as suspeitas. A questão que fica por esclarecer é: tendo em conta o que está aos olhos de todos, qual a intenção de se terem recandidatado?