Jogos Paralímpicos: «Estou devastado, a condenação já foi feita na praça pública»
Ciclista Luís Costa foi bronze no contrarrelógio da classe H5 (FEDERAÇÃO PORTUGUESA DE CICLISMO)

JOGOS PARALÍMPICOS Jogos Paralímpicos: «Estou devastado, a condenação já foi feita na praça pública»

MODALIDADES12.09.202407:10

Luís Costa revela que irá até às últimas instâncias para provar a inocência no caso de doping, mesmo com a noção de que dificilmente haverá volte-face. Condenação na praça pública e o possível fim de carreira são aquilo que mais lhe custa

Passaram 24 horas desde que o mundo de Luís Costa ruiu, quando ele atende o telemóvel para conversar com A BOLA sobre a notícia que, na pior das hipóteses, pode vir a terminar-lhe a carreira: o controlo positivo a uma substância proibida que levou à suspensão do paraciclista que conquistou a medalha de bronze no contrarrelógio H5 dos Jogos Paralímpicos, há pouco mais de uma semana.

Paraciclista olímpico Luís Costa acusa positivo em teste antidoping

10 setembro 2024, 15:36

Paraciclista olímpico Luís Costa acusa positivo em teste antidoping

Ciclista de 51 anos foi suspenso provisoriamente; retirada da medalha de bronze em Paris 2024 está em cima da mesa, porém «só acontece quando esgotados todos os recursos legais ao dispor do atleta», segundo o chefe da Missão de Portugal, Luís Figueiredo

«Estou devastado. São 12 anos de trabalho que estão em causa. Vai tudo por água abaixo por causa de um diurético. Atingi o topo, alcancei o sonho que tinha, uma conquista que saiu do meu empenho, sacrifício meu e da minha família e vejo-me perante uma situação em que estou inocente, mas isso não vai mudar a acusação», introduz, para reforçar aquilo que já tinha publicado na véspera, num curto comunicado nas redes sociais: «Não tomei qualquer substância deliberadamente para ter vantagem».

Apesar do clamor de inocência, o atleta de 51 anos assume não ter grande expectativa de que o resultado da contra-análise seja diferente do primeiro. A sua esperança mais racional é perceber como a chlortalidona pode ter ido parar ao seu organismo. «Há uma coisa que é preciso que as pessoas percebam: a amostra à B é do mesmo momento da amostra que deu positivo. Ou seja, a menos que tenha existido um erro grave no laboratório, o resultado será igual. Eu tenho a esperança, ingénua admito, que tenha havido um erro ou que dê inconclusivo, mas é muito pouco provável», nota o atleta. «Já dei muitas voltas para perceber o que pode ter acontecido, mas não encontro respostas. Não fiz qualquer tratamento médico, tomei os mesmos suplementos que tomo há vários anos», detalha.

Mas para ele é importante outra coisa também: que as pessoas percebam que esta substância de nome complicado não lhe dá qualquer tipo de vantagem em termos de performance. «A notícia saiu e as pessoas fazem imediatamente o julgamento. Só leem doping, nem vão ver que aquilo que eu acusei é um diurético, uma substância que não me dá qualquer vantagem, mas que é proibida porque pode ser usada para ajudar a encobrir outras substâncias que, essas sim, podem dar vantagem», refere.

Futuro depende da suspensão

O atleta que é também inspetor da Polícia Judiciária faz uma análise muito fria da sua situação. E por isso prefere aguardar antes de pensar a longo prazo e no que pode vir ainda a ser a carreira que ele esperava encerrar em Los Angeles, em 2024. «Sei que vou perder aquela medalha e tudo o que ela podia trazer, provavelmente deixar o alto-rendimento e mesmo a carreira poderá terminar por aqui. Porque não haverá condições mentais e financeiras para continuar, caso a suspensão seja longa. Se levar dois ou três anos de suspensão não vai dar tempo para voltar. Parto do princípio de que vai haver uma condenação, porque nós atletas sabemos que somos responsáveis por tudo aquilo que ingerimos, mesmo que seja por negligência. Eu vou defender-me até à última instância, mas só servirá para limpar a minha honra e deixar-me de consciência tranquila», concede.

De resto, Luís Costa já iniciou a sua defesa, enviando logo no dia em que foi conhecido o caso, a sua defesa por escrito para o Comité Paralímpico Internacional, requerendo a contra-análise. «Se não concordar com o resultado, terei de entrar com contestação, pedir a análise dos suplementos que vou entregar. Vai ser tudo às minhas custas, mas a minha honra vale mais do que todo o dinheiro», termina.