EuroBasket: «Venha quem vier, vai ser muito difícil»
Selecionador Nacional Mário Gomes Fotografia FIBA

EuroBasket: «Venha quem vier, vai ser muito difícil»

BASQUETEBOL27.03.202508:35

Selecionador Nacional Mário Gomes conversou com A BOLA sobre o sorteio para o 42.º Campeonato da Europa 2025 que hoje se realiza em Riga e do que significa este momento pessoalmente e para o grupo que terá a «injusta» missão de reduziu a 12 jogadores em agosto.

Portugal vai ficar a saber, hoje, em Riga, que, são os adversários que, entre agosto e setembro, terá pela frente no EuroBasket-2025, quarta presença de sempre no evento. A BOLA conversou com o selecionar nacional Mário Gomes sobre o momento.

— A menos de 24 horas do sorteio dos grupos para o EuroBasket-2025, em Riga, estes últimos momentos causam-lhe alguma ansiedade ou expectativa quanto a saber quem serão os adversários de Portugal este verão?

— Ansiedade propriamente, não. Agora, expectativa, claro que sim. Até porque, seja qual for o resultado do sorteio, será sempre uma tarefa muito difícil. Como é sabido, estamos no último pote, portanto, à partida, as outras cinco equipas do grupo serão, por ranking, todas mais fortes. Agora, e não me estou a lembrar de nenhum caso em particular, admito que seja normal que, dentro de cada pote, existam seleções com quem nós nos encaixamos melhor ou pior. E isso pode fazer alguma diferença. Mas, à partida, expectativa sim, porque, venha quem vier, vai ser muito difícil.

— Não podendo escolher os adversários, que tipo de basquetebol é que seria vantajoso para Portugal? Até por causa das limitações como, por exemplo, de jogadores junto ao cesto, apesar da ajuda do Neemias Queta, normalmente, há sempre menos opções face a adversários deste nível?

— É difícil responder a isso, porque ainda nem sequer sabemos, provavelmente os outros países também não, exatamente quem são os basquetebolistas que estarão efetivamente presentes. Os planteis das seleções tudo indica que vão ter algumas diferenças, relativamente à fase de qualificação, porque nem todos os jogadores da Euroliga atuaram e os da NBA não jogaram. As equipas podem apresentar-se muito diferentes daquilo que foram até aqui. Do ponto de vista pessoal, não gostaria de repetir adversários da qualificação no grupo. Não sei se é possível ou não, se há algum arranjo no sorteio, mas não o desejo Mas isto é uma questão pessoal. Os treinadores também têm as suas manias.

Fotografia FPB

De resto, adversários que sejam muito móveis, que tenham muito movimento sem bola, que repartam o jogo mais ou menos equitativamente por muitos jogadores, normalmente são os que nos causam mais problemas. Muitas vezes nem são as equipas com elementos muito grandes que nos causam maiores dificuldades, porque, até certo ponto, aquilo torna-se mais previsível. Nesta altura ainda é tudo um bocado em abstrato porque depois depende realmente de cada jogador.

Veio-me agora à cabeça uma coisa: quando há dois anos jogámos o pré-olímpico, muita gente estava preocupada com o jogador grande que a Polónia tinha que era o Aleksander Balcerowski [2,16m], que agora está no Málaga. Foi dos que nos criou menos problemas. Conseguimos montar um esquema defensivo para limitar a ação de alguns adversários. Agora, quando é mais ou menos a repartir por todos, com bastante movimento, jogo sem bola, e adversários grandes e móveis, normalmente aí temos mais dificuldades. Mas, é o que vier.

PORTUGAL NO EUROBASKET

Paris-1951 (15.º classificado)
José de Almeida
Domingos Diogo
José de Oliveira
César Cardoso
Máximo Couto
Rui Duarte
João Coutinho
Mário de Almeida
Avelino do Carmo
Lenine dos Santos
António Cardoso
Bernardo Leite
Treinador: Fernando Amaral

— Apesar dessa distância e de não se saber os jogadores presentes no campeonato, espera que este Europeu seja uma imagem do basquetebol atual, com muito lançamento exterior?

— Também vai depender bastante das equipas. Nós, por exemplo, jogamos um bocadinho em contraciclo com esse basquete que agora vai predominando, precisamente porque não temos jogadores com essas caraterísticas. Temos alguns que são bons lançadores, mas não são aquilo que chamamos, os grandes atiradores, que sabemos que temos que carregar o jogo para eles e esse ser o principal argumento. Temos que procurar variar aquilo que vamos à procura no encontro. Mas, tentando encontrar alguma lógica nisto, é normal que assim seja. Hoje em dia há muitas equipas que lançam tanto 3 pontos como de 2 e até mesmo mais triplos e é bem provável que isso seja uma tendência no europeu.

— E estarem ou não os que vêm da NBA vai fazer muita diferença?

— Presumo que sim. Depende quem forem, porque não são todos iguais, também do grau de motivação com que venham e da maneira como as equipas se organizem para tirar partido deles. Para nós, muitas vezes, não quer dizer que seja sempre, causam-nos menos problemas equipas que procuram jogar com base em isolamentos com um jogador ou outro, do que propriamente equipas onde o lançamento ou a solução ofensiva pode vir de qualquer um dos cinco. Mas, à partida, claro que sim. Os que estão na NBA, se não todos estão a maioria dos melhores do mundo, é claro que vai fazer diferença. Também esperamos ter o nosso [Neemias] para fazer alguma diferença.

— Não podendo escolher os adversários, se pudesse escolher uma das cidades, qual seria?

— Já só podemos ir para uma de duas, não é? Riga ou Tampere. As outras não serão porque o Chipre está no nosso pote do sorteio e a Islândia também e a Polónia escolheu-a para ficar no grupo em Katowice. O que é que posso dizer? Por um lado, se formos para Tampere, há a curiosidade de virmos para uma cidade que pessoalmente não conheço. É difícil escolher entre uma ou outra, mas há uma coisa que sei: em Riga vamos ficar bem de certeza absoluta. Não só em termos da cidade, mas do tratamento que temos lá tido e das condições de alojamento, treino, transportes e organização. Tem sido sempre impecável. Se formos para Tampere, presumo que isso também vá acontecer.

PORTUGAL NO EUROBASKET

Espanha-2007 (9.º classificado)
Miguel Minhava, Benfica
Mário Fernandes, Placencia (Esp)
Sérgio Ramos, Mallorca (Esp)
Paulo Cunha, FC Porto
Francisco Jordão, Petro Luanda (Ang)
Filipe da Silva, Los Barrios (Esp)
João Gomes, Barreirense
Jorge Coelho, Palencia (Esp)
Paulo Simão, Belenenses
Elvis Évora, Ovarense
Miguel Miranda, Ovarense
João Santos, Valladolid (Esp)
Treinador: Valentin Melnychuck

— Comparando com Espanha-2007, este será um EuroBasket no qual a Seleção não vai poder contar tanto com apoios portugueses na bancada. E isso valeu muito.

— Claro, ajuda bastante. Se bem que, mais do que é costume, há algum pessoal, seja ligado ao basquete ou por ligações pessoais que está a pensar em ir ver. Desse ponto de vista é um bocadinho diferente para melhor do que tem acontecido em outras circunstâncias. Creio que, de uma maneira ou de outra, este apuramento conseguiu ter um impacto um bocadinho maior do que é costume em Portugal. Também porque foram dois apuramentos, contando com o da Seleção feminina. Mas, claro, não é a mesma coisa do que se fosse aqui em Sevilha [2007] ou aí perto.

Fotografia FPB

— Ao contrário da equipa toda [retirando o técnico de equipamentos José França e o diretor José Pinto Alberto], o Mário será o único repetente do último Europeu.

— Sim, mas ali daquele número do jogo, o Mário... Sim, serei o único que vou repetir o campeonato.

— O que significou para si, a ida ao EuroBasket-2011, até comparando com esta qualificação?

— O sentimento é semelhante, independentemente da função que se desempenha. Em 2011 era adjunto, agora sou treinador principal, mas a emoção é a mesma. Relativamente a este caso particular, fiquei, obviamente, muito feliz com o apuramento. Mas sou sincero, fiquei até mais por ter ajudado um grupo que é extraordinário do ponto de vista do caráter e da química como pessoas. É dos melhores grupos de campo que já trabalhei. Fiquei muito feliz por ter ajudado estas pessoas, jogadores e não só, a experimentar algo que já vivi e sei que é muito bom estar lá. Pessoalmente, enquanto técnico adjunto, felizmente, participei em muitos pontos altos, digamos assim, de coisas importantes que as equipas das quais fiz parte foram conquistando. Já como treinador principal, apesar do sentimento ser o mesmo, tenho noção que este é o resultado mais relevante da carreira.

Fotografia FIBA

— Uma vez que refere que esta é uma equipa especial, que diferenças há em relação à do EuroBasket-2011?

— Antes de procurar responder o mais objetivamente possível — já o disse várias vezes e repito porque é verdade — não tenho, nem como treinador adjunto, nem como principal, razão de queixa de nenhum jogador que tenha passado por seleções. Nenhum. Há sempre pequenos conflitos, digamos assim, que são normais entre treinadores e jogadores, não há equipas que vivam sem isso, mas não tenho razão de queixa de ninguém. Todos os jogadores foram impecáveis, trabalharam, deram o melhor.

Agora, a diferença fundamental é que, enquanto aquela equipa de 2011, para muitos jogadores aquilo já começa a ser o princípio da parte final da carreira, nesta predomina o inverso. São basquetebolistas que têm praticamente tudo para conquistar, que ainda não ganharam muitas coisas, apesar de alguns já terem conquistado algumas nos clubes, e isso levou a que criassem uma química, coesão e espírito de grupo diferente. Sente-se que o ir à Seleção não é muito mais do que um dever, é um prazer e uma vontade. Cada vez que se vão embora, ficam a pensar na próxima ocasião. E isso é naturalmente diferente face às caraterísticas do grupo de 2011.

Fotografia FIBA

Este grupo que tem gente muito mais jovem, a ambicionar querer chegar todos os dias o mais longe possível, precisamente porque ainda tem uma carreira mais por fazer do que já feita, ao contrário do de 2011. Estará aí esssa questão que se tem falado, de que a grande diferença nesta Seleção é do ponto de vista mental, da mentalidade de encarar a competição, e que tem a ver com o trabalho que vai sendo feito, mas também com as caraterísticas de cada um. Realmente grudaram uns com os outros, não é muito habitual. E considero que isso é a principal força desta equipa.

PORTUGAL NO EUROBASKET

Lituânia-2011 (21.º-24.º classificado)
António Tavares, Benfica
José Costa, FC Porto
Miguel Minhava, Benfica
Fernando Sousa, Académica
Cláudio Fonseca, V. Guimarães
Filipe da Silva, Evreux (Fra)
Carlos Andrade, FC Porto
José Silva, Barreirense
Élvis Évora, Benfica
Marco Gonçalves, Académia
Miguel Miranda, FC Porto
João Santos, FC Porto
Treinador: Mário Palma

— Esta equipa tem uma semelhança com a do EuroBasket de 2007: metade joga no estrangeiro. Essa é outra vantagem?

— Sim, porque mesmo que os jogadores não estejam nas principais ligas, e na maioria dos casos, nas principais divisões dos países onde jogam, o simples facto de terem dado o passo de se porem à prova, de arriscarem para dar um rumo diferente à carreira, é algo que os torna mais fortes mentalmente, mais resistentes e habituados a lidar com dificuldades sem ter o quentinho próximo da família e amigos. São eles que têm de ultrapassar as dificuldades, e tudo isso torna-os mais preparados para as complicações da competição. Desse ponto de vista, acho que isso também ajudou a que esta equipa, com exceções, porque as coisas também não têm corrido sempre tão bem como gostaríamos. Mas contamos com um conjunto de elementos que se fez à vida, como se costuma dizer, e que nos sítios onde está, conta com eles para ultrapassar as situações difíceis no jogo ou na vida, porque é diferente quando se tem a família e amigos a milhares de quilómetros. Isso transmite-se para a equipa.

— Depois do sorteio, a grande dificuldade vai ser escolher a Seleção para o EuroBasket-2025?

— Infelizmente não temos um grupo muito alargado. Não são só os 14 jogadores que estiveram nas duas últimas convocatórias, existe mais meia dúzia, mas não é um lote muito alargado. Obviamente que vamos contar com o Neemias Queta, esperemos que não haja problemas, mas a convocatória não será muito diferente.

FASE DE APURAMENTO

2.ª ronda pré-qualificação – Grupo F
Roménia-Portugal, 59-75
Portugal -Chipre, 102-69
Portugal-Bulgária, 88-78
Portugal-Roménia, 92-62
Chipre-Portugal, 66-75
Bulgária-Portugal, 90-82
Classificação: 1.º, Portugal, 11 pts; 2.º, Bulgária, 11; 3.º, Roménia, 8 pts; 4.º, Chipre, 6 pts.

Dispensado da fase inicial, Portugal entrou direto na 2.ª ronda da pré-qualificação. Num Grupo onde só o primeiro passava, Portugal e Bulgária terminaram com 11 pontos (5 vitórias - 1 derrota), mas no desempate por confronto direto valeu a vitória, em novembro de 2022, por 88-78, apesar de ter perdido o último jogo, em fevereiro de 2023, por 90-82, depois de ter tido uma desvantagem de cerca de 20.

No entanto, será muito difícil para mim escolher os 12 para o Europeu. Qualquer jogador que fique de fora vai sentir isso, independentemente deles saberem, que procuramos tomar decisões, sendo o melhor para a equipa e mais justas possível, não vai haverá nenhum que eventualmente participou nas pré-qualificações e das qualificações, que venha a ficar de fora, que não o sinta como uma injustiça. Todas as decisões que vamos ter que tomar, mas onde depois a última palavra é minha, sobre cortar este ou aquele jogador, eu próprio acho-o injusto, porque todos mereceriam estar no Europeu.

Fotografia FPB

Infelizmente, vamos ser obrigados a escolher 12. Mas não dependerá muito dos adversários, será, fundamentalmente, daquilo que entendermos que é o estado de forma de cada um. Vamos começar com 15 e só iremos tomar a decisão no fim da preparação. Dependerá da leitura que os treinadores fizerem do estado de forma em que cada jogador se encontra. Isto esperando não haver outros contratempos que às vezes tomam as decisões por nós. Espero que isso não aconteça.

QUALIFICAÇÃO – GRUPO A

Portugal-Israel , 70-72
Ucrânia-Portugal, 77-79
Portugal-Eslovénia, 82-74
Eslovénia-Portugal, 83-82
Israel-Portugal, 84-78
Portugal-Ucrânia, 60-88

Classificação: 1.º, Israel, 11 pts; 2.º, Eslovénia, 10; 3.º, Portugal, 8 pts; 4.º, Ucrânia, 7 pts.
Qualificavam-se os três primeiros