Bronze no Mundial de NBA2K: «Gostava de defrontar o Neemias»
Seleção de Portugal que no Mundial, participação inédita, só foi batida pelos Estados Unidos e a campeã europeia Turquia, e esta à melhor de três Fotografia FIBA

ENTREVISTA A BOLA Bronze no Mundial de NBA2K: «Gostava de defrontar o Neemias»

Henrique Ribeiro, capitão da Seleção que alcançou o 3.º lugar no Campeonato do Mundo de NBA2K nas Filipinas, um poste que até tem 1,88m e foi eleito o melhor defensor da competição também quer chegar à NBA e aos Jogos Olímpicos.

Há pouco mais de uma semana, Henri Jones (Henrique Ribeiro), Bihlarinho (André Castro), PTCreative (David Prezas), Simonbeballin (Simão Silva) e Nobrainsalazar (Alexandre Salazar), com André Cabral como team manager, conquistaram o bronze no Mundial FIBA de NBA2K disputado na cida de Clark, Filipinas. Foi a primeira vez que Portugal conseguiu estar no campeonato e foi possível após ter conseguido, três semanas antes, a medalha de bronze no Europeu, perdendo apenas na final para a superpotência Turquia.

A BOLA conversou com o capitão Henrique Ribeiro (ou Henri Jones), 23 anos, eleito o melhor defensor da competição. Apesar de ser o mais alto da Seleção, com 1,88m, é o único que nunca jogou basquetebol federado, mas como todos sonha com o profissionalismo no mundo virtual e, se possível, também atuar na NBA, só que na 2K League. Neemias Queta que se cuide se o defrontar diante um ecrã.

Aí tivemos o prazer de jogar contra os Estados Unidos, que são jogadores que, há quatro/cinco anos, vemos a jogar ao mais alto nível. São todos profissionais. Acaba por ser um pouco surreal estar lado e a jogar contra eles.

— Pela primeira vez, Portugal conseguiu disputar o Mundial da NBA2K, nas Filipinas, onde acabou por terminar com a medalha de bronze. Como é que foi terminar no pódio?

—  Foi muito bom, mas também muito difícil. Só chegar ao Mundial já sabíamos que seria muito complicado porque qualificar-se na Europa significa haver 22 seleções. É o continente com mais seleções e por isso o com maior competitividade. Mas, a partir do momento em que chegámos ao Mundial, só queríamos desfrutar. Tinhas consciência que seria uma experiência completamente diferente, num local completamente diferente. As coisas correram bem e a fase de grupos [Poule A, com Arábia Saudita, EUA e Argélia] também.

Aí tivemos o prazer de jogar contra os Estados Unidos, que são jogadores que, há quatro/cinco anos, vemos a jogar ao mais alto nível. São todos profissionais. Acaba por ser um pouco surreal estar lado e a jogar contra eles. Mas, passando a fase de grupos, o principal objetivo, passámos a lutar pelas medalhas. E depois de termos perdido nas meias-finais, os jogos para o 3.º lugar, justamente contra as Filipinas, com o público todo a puxar por eles, foi muito prazeroso e bom para nós.

—  Esse público que refere, era num pavilhão, como já aconteceu, no Madison Square Garden, em Nova Iorque, chegou a esgotar com eGames?

—  Não é tão grande, claro. Mas ainda lá estavam cerca de 1500 pessoas só a apoiar as Filipinas e a fazer muito barulho. Nós com os phones sentíamos quando começavam a gritar: ‘Defense! Defense!...’ Ouvia-se bastante. Foi uma experiência incrível. Queríamos defrontar as Filipinas também por isso, para sentirmos aquele ambiente. Já tínhamos visto jogos das Filipinas contra outras seleções e aquilo estava sempre ao rubro. Desejávamos aquele incentivo extra para ganhar.

—  Em Portugal seria possível criar esse ambiente? Ter um pavilhão cheio, numa fase final do Nacional ou em torneios internacionais de NBA2K?

—  Em Portugal estando ainda numa fase muito embrionária só agora é que se vai começar a reconhecer o NBA2K como um eSport com potencial e interessante de se ver. Não é propriamente um eSport aborrecido ou o que quer que seja. Estando nessa fase ainda seria difícil. Até porque o basquetebol não é o nosso desporto-rei. Nem nunca o será. Mas, cada vez mais o basquete tem evoluído em Portugal e acontecendo isso vai acontecer o mesmo ao NBA 2K. Seria muito bom um dia isso acontecer e termos os portugueses a torcer por nós. Seria incrível!

Batemos a França, vice-campeões do mundo e com isso  fizemos com que fossem eles a defrontar a Turquia nas meias-finais. Tínhamos plena confiança que conseguíamos — até se fosse preciso derrotar os turcos —, onde era preciso dar tudo.

— Três semanas antes do Mundial haviam disputado a fase final do Europeu, onde foram vice-campeões após terem perdido a final contra a Turquia. O que é que isso mostrou à equipa?

— Aquilo que nós já tínhamos noção que podíamos conseguir. Salvo erro, antes desta edição já havíamos conseguido dois top 4 em que perdemos sempre para a Turquia nas semifinais. Sabíamos perfeitamente que evitando os turcos até à final, que seria sempre o jogo mais complicado, iríamos discutir o título. Este ano conseguimos. Batemos a França, vice-campeões do mundo e com isso  fizemos com que fossem eles a defrontar a Turquia nas meias-finais. Tínhamos plena confiança que conseguíamos — até se fosse preciso derrotar os turcos —, onde era preciso dar tudo. Só que esse nunca é um jogo fácil para nós. Normalmente eles levam o melhor, mas já os vencemos em vários torneios. Confirmámos que temos melhorado muito e possuímos capacidade para jogar ao mais alto nível e sermos campeões da Europa.

Os Estados Unidos fizeram oito pontos num período contra nós, o que é algo estranho numa equipa tão forte e com tantos recursos. A Seleção sempre se caracterizou pela defesa e tentamos sempre trabalhar bastante isso porque sabemos que os jogos podem ser ganhos no ataque mas os campeonatos vencem-se na defesa.

—  No Mundial foi eleito o melhor defensor do torneio, o que lhe deu um prémio de 2.500 euros, enquanto a equipa recebeu 6 mil pelo bronze. É isso que caracteriza o seu jogo, a parte defensiva?

—  Nem tanto. Há jogadores na Seleção que têm mais essa função. Claro que a minha posição [poste] acaba por também ser defensiva, mas é uma função muito mais ofensiva e defensiva. Ou seja, tenho importância nos dois lados do campo. Acredito que foi um pouco para premiar a nossa caminhada ao longo do Mundial, onde fomos uma das melhores equipas defensivas. Os Estados Unidos fizeram oito pontos num período contra nós, o que é algo estranho numa equipa tão forte e com tantos recursos. A Seleção sempre se caracterizou pela defesa e tentamos sempre trabalhar bastante isso porque sabemos que os jogos podem ser ganhos no ataque mas os campeonatos vencem-se na defesa. Fui eu o escolhido, mas também podia ter sido o Simão [Silva] ou o Bih [André Castro], dois jogadores muito importantes na nossa defesa. No entanto, estou muito feliz por ter ganho.

—  É fundamental haver espírito de equipa no NBA2K?

—  Sem dúvida. Com este cinco jogamos juntos há cerca de, no mínimo, três anos. Como todas as equipas, seja de futebol, basquete ou NBA2K, existem discussões, discórdias. Vamos sempre tentar melhorar e às vezes não concordo com alguém e outro não concorda comigo, mas sabemos que lutamos todos para o mesmo e se não estivermos juntos as coisas serão sempre mais complicadas. Por isso, o espírito de equipa é essencial no eSport.

A partir daí foi começar a explorar tudo a nível mais competitivo, que é o que jogamos, cinco contra cinco, e então tornou-se numa paixão. Adorava aquilo e a competição. Ainda hoje jogo pela competição, não apenas para me divertir.

 —  Como é que tudo começou para si até chegar à Seleção?

—  Já começou há uns aninhos. Se não me engano, no 2K18, em que comecei a jogar com os meus amigos de escola, sempre na desportiva. Depois eles preferiam outros jogos: CS, FIFA, o que é normal, mas eu acabei por gostar bastante e acabei por começar a conhecer outros portugueses que o jogavam, ou seja, comecei a entrar na comunidade portuguesa de 2K, que na altura também era muito pequena. Ainda hoje não é muito grande porque uns vão saindo, outros entrando… A partir daí foi começar a explorar tudo a nível mais competitivo, que é o que jogamos, cinco contra cinco, e então tornou-se numa paixão. Adorava aquilo e a competição.

Ainda hoje jogo pela competição, não apenas para me divertir. Essa comunidade nacional começou a gostar e aparecerem as equipas e torneios. Foi-se tudo desenvolvendo. A primeira vez que fui chamado à Seleção — a primeira que houve era 2K21 —, e desde então acho que fui convocado para todas. Isto apesar de nas duas primeiras ter ficado no banco. Foi um processo e agora sou medalha de bronze no Mundial.

Tenho uma licenciatura em gestão de marketing, neste momento estou à procura de emprego na minha área, mas vou trabalhando noutra coisas: trabalho em bares, já estive em vendas, portanto, vou fazendo algumas coisas para conseguir conciliar tudo.

 —  E para ter esse nível obriga-o a quantas horas de treino?

—  Atualmente, já não treinamos todos os dias diariamente. Até porque há quem trabalhe ou tenha faculdade. A nossa vida não é isto, mas, sem dúvida, pelo menos quatro horas cinco dias por semana.

 —  Diz que uns trabalham, outros estudam, e qual é a sua ocupação?

—  Tenho uma licenciatura em gestão de marketing, neste momento estou à procura de emprego na minha área, mas vou trabalhando noutra coisas: trabalho em bares, já estive em vendas, portanto, vou fazendo algumas coisas para conseguir conciliar tudo. A partir do momento em que começamos a ter um contrato com uma equipa e a ter salário e objetivos, sempre tive o foco de conciliar as duas coisas: à noite tenho de poder jogar e durante o dia trabalhar. Viver os dois encantos.

—  O sonho é poder tornar-se profissional?

—  Sem dúvida. O que mais me vejo a fazer é jogar. Não é algo de que me canse pois, por vezes, não é apenas jogar. É preciso ver outros a fazê-lo, como o fazem, rever os nossos jogos, os das outras equipas… Portanto, é uma coisa que ocupa bastante tempo. E quando se quer ser bom tem de gastar muito tempo. Foi o que fiz e continuo a fazer, e se pudesse ser profissional e fazer só isto na vida seria um sonho.

Ir para os Estados Unidos e estar na 2K League é o sonho de qualquer um de nós. Não só pelo facto de ser profissional, também por todos os contatos e possibilidades que nos dá a competirmos ao mais alto nível. É para isso que trabalhamos todos os dias.

—  Jogou basquetebol?

—  Nunca a nível federado. Sou o único da Seleção que nunca praticou basquetebol federado [risos], apenas futebol e voleibol.

— Para um jogador de NBA2K o sonho também é chegar à NBA2K League nos Estados Unidos, que pertence à NBA?

— Sim, ainda que agora a 2K Legue tenha feito uma paragem e estão a reformular a liga. Não se sabe muito bem como vai ser isto mas, sem dúvida, que ir para os Estados Unidos e estar na 2K League é o sonho de qualquer um de nós. Não só pelo facto de ser profissional, também por todos os contatos e possibilidades que nos dá a competirmos ao mais alto nível. É para isso que trabalhamos todos os dias. Não sei se será possível nos Estados Unidos nos próximos anos, mas esperamos que na Europa comece a haver competições mais profissionais. Fala-se que pode haver Jogos Olímpicos e a FIBA também está em crescimento. É esperar que o eSport em si evolua porque se isso tudo é possível.

Quando defrontámos os Estados Unidos, eram cinco jogadores: um havia vencido três 2K League, outro foi MVP e ganhou duas, outro foi MVP e ganhou uma… São jogadores que já ganharam muitos milhares, mas o que já ganhou três 2K League recebeu mais de um milhão.

— Na NBA2K League os salários eram bastante atrativos. Chegaram a ter de aumentar os vencimentos mais baixos da G League ao nível dos jogadores do NBA2K. Existia ainda uma série de mordomias, condições de treino e jogo e até seguro de saúde. Isso existe na Europa?

- Não, na Europa não existe nada nem de perto parecido. A liga americana é exatamente como a NBA. É preciso ser draftado —  temos que nos apurar para o draft e depois uma equipa tem que nos escolher. Não é fácil, já houve alguns jogadores europeus a conseguir entrar. No ano passado foi para lá um jogador francês depois de fazer também um grande mundial, como nós fizemos. E depois é um contrato de um ano em que o salário base são 36 mil dólares (34,7 mil euros) e depois sempre que é atingido um dado objetivo, como ganhar uma série qualquer, são adicionados mais prémios. É muito atrativo.

Foi como referi, quando defrontámos os Estados Unidos, eram cinco jogadores: um havia vencido três 2K League, outro foi MVP e ganhou duas, outro foi MVP e ganhou uma… São jogadores que já ganharam muitos milhares, mas o que já ganhou três 2K League recebeu mais de um milhão. Trata-se de uma realidade completamente diferente. Na Europa temos a EuroLiga, uma competição de basquetebol muito grande e se um dia houver essa aposta, com certeza que será interessante.

—  Da mesma forma que em Portugal as pessoas ficam acordadas à noite a ver os jogos da NBA na televisão, também acompanha os da NBA2K League?

—  Claro! Sempre. Por isso disse que quando estávamos frente a frente contra eles parecia surreal. Tínhamos estado quatro/cinco anos a ver aqueles jogadores na 2K League. Não é a mesma coisa, mas é como agora ir assistir a um jogo dos Lakers e ver o LeBron ao vivo. Será também surreal. Esses jogadores dos Estados Unidos são isso para nós: acompanhamo-los, analisamos as jogadas, como é que jogam e se adaptam. Passámos aqueles anos todos a vê-los e poder defrontá-los foi mesmo incrível.

Há muita gente que é LeBron James, outros Michael Jordan... eu não tenho um em especial. Neste momento diria o Nicola Jokic [Nuggets], para mim o melhor basquetebolista do mundo e atualmente sem comparação.

 —  E já foi assistir a algum jogo da NBA?

—  Não, infelizmente ainda não.

— Tem algum ídolo na NBA2K League?

 —  Tenho um que também é poste, o Dayfri. Venceu dois títulos em três finais, considerado o melhor jogador de sempre da Liga e é dos que mais dinheiro conseguiu. 

 —  E na NBA, quem é o seu ídolo?

—  Há muita gente que é LeBron James, outros Michael Jordan... eu não tenho um em especial. Neste momento diria o Nicola Jokic [Nuggets], para mim o melhor basquetebolista do mundo e atualmente sem comparação. Já o clube, infelizmente apoio os Nets. Desde que comecei a ver a NBA sempre gostei deles e na altura estava lá o DLo [D’Angelo Russell]. Desde então a equipa mudou muito, ainda tivemos uma fase muito boa, mas as lesões não permitiram ganhar o título…

 —  Já alguma vez jogou NBA2K contra algum jogador da Seleção Nacional?

—  Acho que não. Se calhar já, nem sei… . Defrontei os do V. Guimarães quando tivemos lá o dia de imprensa.

Ser atleta olímpico por Portugal é algo que nem sequer dá para imaginar.

 —  E se pudesse defrontar algum qual gostaria que fosse?

—  Tinha que ser o Neemias [Queta]!

—  E se fosse um da NBA, quem seria?

—  Ora, quem é que tem pinta de jogar bem? O LeBron, acho que joga mais futebol americano. O Stephen Curry  também acho que não joga muito… Talvez o Kyrie Irving. Acho que já o vi a jogar 2K.

—  Fala-se na hipótese de se realizar uns Jogos Olímpicos de eSports. Para isso seria outro sonho?

—  Claro! Ser atleta olímpico por Portugal é algo que nem sequer dá para imaginar. O que se diz é que seria algo bem maior do que alguma vez se fez. Esperamos que aconteça e, supostamente, o NBA2K estará lá e que eu também.