Basquetebol: «Galomar chegou para ficar na elite»
Equipa do Galomar preparada para a temporada 2023/24

Basquetebol: «Galomar chegou para ficar na elite»

BASQUETEBOL22.09.202322:33

Mesmo para muitos adeptos um desconhecido, o clube da cidade do caniço está pela primeira vez entre as principais equipas. Técnico Luís Amaral quer um estilo de jogo para atrair os fãs

- A cerca de 24 horas da estreia do Galomar Basket na Liga Betclic, que será ante o Sporting, como é que sente que está a equipa e o núcleo de pessoas, entre técnicos e staff de apoio? Quais são as emoções e o ambiente?

— Por sermos estreantes na Liga existe um sentimento de alguma ansiedade positiva para este jogo. Será o primeiro de sempre do clube na Liga e ainda para mais contra um dos candidatos ao título, por isso é, sem dúvida, um sentimento especial. Em relação à equipa e aos jogadores, como estamos a treinar já há algum tempo, desde 16 de agosto, e visto, se calhar, não termos a possibilidade de realizar tantos jogos-treino como as formações do continente, a vontade de jogar é ainda maior. Diria que todas as setas estão apontadas ao Sporting e estamos a afinar os últimos detalhes para o encontro. 

—Desconhecendo como, na realidade, estão os adversários, que ambição pode ter o Galomar?

— Como referi, será a época de estreia do clube na Liga e na nossa mente está sempre dignificar o nome do clube, com a consciência de que também representamos a região. Mas sem dúvida que agora que o Galomar chegou à elite do basquetebol português, tudo irá fazer para lá se manter. 

Dinis Amaral é, com 26 anos, o mais jovem entre os 12 treinadores da Liga

— E é fácil um clube como o Galomar, até pela sua insularidade, conseguir jogadores para montar uma equipa de Liga?       

— Bem, se falarmos de estrangeiros, da mesma maneira como erradamente uns treinadores olham para as estatísticas dos basquetebolistas apenas para os contratar e muitas vezes serve para rejeitar alguns, há também jogadores que olham para as estatísticas do clube na I Divisão, que são inexistentes, e tomam uma decisão precipitada. Mas penso que com os estrangeiros seja mais fácil de resolver pois a oferta é maior e para eles será uma nova realidade, num país novo. Já para o basquetebolista nacional, por vezes isso é uma barreira. Tivemos elementos que abordámos este ano que optaram por não vir, mas não por estarmos a subir à Liga pela primeira vez, mas por nos situarmos na ilha da Madeira, o que implicava uma mudança em que teriam de trazer família. É diferente para um jovem de 20 anos sair de casa e alguém com 30 e família formada mudar-se para cá. 

— E que estilo de basquetebol é que deseja que a equipa jogue? 

— Um basquete que ganhe jogos ... [risos]

— Mas esse é o que todos querem…

— Esse é o que estamos a buscar. Sendo um treinador mais jovem [26 anos] gosto de acompanhar as novas tendências e tanto a nível defensivo como ofensivo acredito que agora o basquete está muito mais rápido, as posses de bola são mais curtas, o jogo muito bem espaçado para fora da linha dos três pontos, inclusive os jogadores grandes. As influências da NBA estão a chegar à Europa a todo o gás, gosto muito dessa ideia e queremos aplicá-la no nosso estilo. Não porque seja bonita, mas por achar que será a forma mais eficaz de conseguirmos marcarmos mais pontos do que o adversário. 

— Mas a fase final do Mundial de basquetebol não o fez pensar também no estilo mais antigo de jogo, onde há postes importantes, ainda que venham atirar de fora?

— Sim, a verdade é que agora existem equipas a tornarem-se irreverentes por praticarem o basquete que, se calhar, se jogava antigamente, mas penso que o jogo caminha cada vez mais para jogadores sem posições, basquetebolistas grandes a fazerem bloqueios diretos, pequenos a bloquear e a postear… Essa versatilidade tornar-se muito difícil de defender porque é bastante mais complexa a tomada de decisão do defensor e para um treinador fazer scouting de uma equipa que atua com tanta anarquia é mais desafiante. E torna-se também uma vantagem para o ataque. 

— E é fácil ser Galomar na Madeira?

— Cheguei ao Galomar na época passada. Sou de Ovar. Durante 20 anos, desde atleta a treinador, fiz parte da Ovarense. Apanhei o Nuno Manarte como adjunto, depois fui adjunto dele, assim como do Pedro Nuno, e antes de vir para a Madeira fui adjunto no V. Guimarães. No ano passado a realidade era diferente, tratava-se de um clube da Proliga, enquanto o CAB Madeira, histórico do basquetebol, era a equipa da Liga. Desde que nasci que o CAB estava na principal divisão, por isso, pessoalmente, esta temporada vai ser muito esquisita sem o CAB Madeira. Mas, apesar de ser estreante, o Galomar tem o peso extra de agora ser o único representante da ilha, a par do andebol [Marítimo], nas principais divisões masculinas. E queremos mantermo-nos lá. 

— Como é que vai ser levar os fãs de basquetebol da Madeira, que não são do Galomar e estavam habituados a ir ver as melhores equipas de Portugal a jogarem contra o CAB? Será preciso fazer alguma coisa para atraí-los? 

— O Funchal não fica muito longe do Caniço. A nível de distância isso não será um problema…

Galomar Basket foi o vencedor da Proliga 2022/23, ao derrotar na final o Portimonense por 2-0 no 'play-off'

— Mas, por vezes, a distância psicológica é a pior. 

— É verdade. Mas pelo que conseguimos fazer na época passada e pela enorme presença que tivemos de adeptos nos play-offs da Proliga, isso mostrou-nos que a equipa gerou algum entusiasmo na região. Houve curiosidade em ver o que fazíamos e quiseram confirmá-lo. Pelo basquete que estávamos a praticar atraímos público. Vamos fazer tudo para que isso volte a acontecer. Será benéfico termos casa cheia em todos os jogos e não apenas contra os grandes. Precisamos do apoio dos adeptos. Isso será um desafio que depende de nós. Do basquetebol que jogarmos e dos resultados que tivermos. 

— Seria algo único vir a ter o Galomar e o CAB na Liga? 

— Do ponto de vista desportivo, para a região era muito bom. Na Liga feminina já existe o CAB e o Francisco Franco, conseguir também ter dois nas masculina seria a confirmação de que o basquetebol na Madeira estava em alta. Ao nível de apoios e partilhas dos mesmos tornar-se-ia mais complicado, mas isso não significaria que as duas equipas não se conseguissem apresentar com qualidade para competir. Mas, como disse, o CAB é um histórico e vai ser esquisito não o ter a jogar na Liga. 

— E, com o campeonato a começar, o que é que não tem que gostaria de ter? 

— Essa é uma excelente pergunta… A certeza de que o trabalho e escolhas que estamos a fazer vai dar frutos. Ter sucesso e capacidade de conduzir para que possamos atingir os objetivos, tanto coletivos como individuais.