Testemunha na Operação 'Prova Limpa' diz que saiu da equipa W52-FC Porto por vergonha
Ricardo Mestre, um dos corredores que está a ser julgado, quando representava a W52-FC Porto, 2020. FOTO ASF

Testemunha na Operação 'Prova Limpa' diz que saiu da equipa W52-FC Porto por vergonha

CICLISMO05.07.202416:32

Maximino Pereira disse ao tribunal que nos hotéis onde a equipa ficava eram guardados ampolas, seringas e comprimidos, que os ciclistas iam buscar após as etapas; o tribunal não conseguiu notificar Pinto da Costa

O mau ambiente e a vergonha que sentia quando ouvia as pessoas dizerem que a equipa W52-FC Porto «estava toda dopada» levaram Maximino Pereira a demitir-se em setembro de 2021 da equipa. A testemunha do processo denominado 'Prova Limpa' foi ouvido em tribunal como testemunha abonatória arrolada pelo ex-diretor desportivo da equipa Nuno Ribeiro.

De acordo com a Agência Lusa, Max contou contou ao tribunal que pernoitava «no quarto da equipa», nos hotéis onde esta ficava instalada durante as competições, e no qual eram guardados produtos, como água, fruta e suplementos energéticos, mas também ampolas, seringas e comprimidos, que os ciclistas iam buscar após as etapas.

Quando questionado pelo coletivo de juízes qual a finalidade das seringas e ampolas, a testemunha, com mais de 40 anos ligados à modalidade, respondeu: «Devia ser para se doparem, mas eu nunca vi», admitindo haver, contudo, «rumores» sobre doping na equipa, prática que, referiu, ser transversal a todas as equipas e mesmo a nível mundial.

Perante tais afirmações, o tribunal perguntou a Max se nunca perguntou para que serviam e a resposta foi clara. «Nunca perguntei, nunca quis saber. Não tinha nada que me meter, era um assunto tabu, sigiloso e passava-me tudo ao lado. Ficava no meu cantinho», respondeu o antigo dirigente de 61 anos.

O antigo elemento dos órgãos sociais da W52-FC Porto explicou ao tribunal que, à exceção da gestão desportiva, «passava tudo» por Adriano Quintanilha que exercia «muita pressão» sobre o staff e aos ciclistas para ganharem, revelando que havia «um mau ambiente, um ambiente pesado» dentro da equipa. «Não me revia na gestão. Era tipo ditadura», considerou.

Maximino Pereira nunca assumiu ter conhecimento ou ter visto práticas dopantes no seio da W52-FC Porto, mas admitiu «sentir» que acontecia quando acompanhou a equipa em várias provas nacionais.

Na sessão de hoje estava prevista a inquirição de Pinto da Costa, arrolado também pelo arguido Nuno Ribeiro como testemunha abonatória, mas o tribunal não conseguiu notificar o antigo presidente do FC do Porto.

 Os 26 arguidos respondem por tráfico de substâncias e métodos proibidos, mas apenas 14 por administração de substância e métodos proibidos.

Entre aqueles que vão sentar-se no banco dos réus estão Adriano Quintanilha, a Associação Calvário Várzea Clube De Ciclismo – o clube na origem da equipa -, o então diretor desportivo Nuno Ribeiro e o adjunto José Rodrigues. João Rodrigues, Rui Vinhas, Ricardo Mestre, Samuel Caldeira, Daniel Mestre, José Neves, Ricardo Vilela, Joni Brandão, José Gonçalves e Jorge Magalhães são os ex-ciclistas da W52-FC Porto julgados por tráfico de substâncias e métodos proibidos, assim como Daniel Freitas, que esteve na equipa entre 2016 a 2018.