VOLTA A ESPANHA Só Sepp Kuss seria o líder gregário que levou Van Aert à vitória
Trepador norte-americano, que pretende revalidar a vitória na Vuelta de 2023, sacrificou-se pelo companheiro de equipa belga, puxando sozinho um grupo repleto de adversários durante mais de 20 km no final da 7.ª etapa. Contranatura? Não em Kuss!
Arriscando cometer-se injustiça ou erro de apreciação, só Sepp Kuss, com o estatuto de líder da sua equipa, Visma Lease a Bike, nesta Vuelta, para defender o triunfo surpreendente, mas inteiramente merecido em 2023, se predisporia a trabalhar, como gregário, de uma forma tão desgastante como o fez para um companheiro de equipa, ainda que este seja… Wout van Aert.
Só um corredor que tem a solidariedade e a defesa intransigente dos interesses do coletivo que representa como prioridade, mesmo com sacrifício dos seus, como o norte-americano, é que poria a perseguiria, a fundo e sem auxílio (porque com este não poderia contar), numa fase final do percurso da 7.ª etapa, esta sexta-feira, descida e em plano, terreno em que os seu peso-pluma e as características de exímio trepador menos se adequam, e mais do que essa dificuldade inata, o facto de puxar um grupo que incluía os seus principais adversários pelo objetivo que assumiu para esta edição da Volta a Espanha.
Contranatura… mas é Sepp Kuss. O mesmo corredor, altruísta e humilde, quiçá demasiado, que foi fundamental em várias vitórias da Jumbo-Visma (atual Visma Lease a Bike) e que até quando liderava a Vuelta em 2023, frente a dois companheiros de equipa que eram os favoritos, assumia-se disposto a abdicar da camisola vermelha por eles, pela harmonia interna da equipa. Nada a ver com conflitos e muito menos com o egocentrismo que os motivaram.
Por isso, foram muitos (e ainda assim seriam sempre escassos) os elogios de Van Aert a Sepp Kuss após a etapa, em Córdoba, pelo trabalho determinante para a vitória, a segunda do belga, na prova. Van Aert disse que mesmo ter ficado «arrepiado» ao «ver um tipo de 60 kg a fazer o que Kuss estava a fazer», e talvez por não acreditar, às tantas, que o colega conseguisse alcançar o espanhol Marc Soler (UAE Emirates) em fuga, lançou-se a solo nessa tentativa de fazer a ponte entre o grupo e o fugitivo. Não teve êxito, e teve de voltar a ficar às custas do norte-americano de Durango – que o levou lá!