Portugal pode ser talismã a histórico João Almeida
João Almeida partia como um dos favoritos à vitória na Volta a Espanha 2024

Volta a Espanha Portugal pode ser talismã a histórico João Almeida

CICLISMO17.08.202411:30

Poderá tornar-se o primeiro português a vencer grande Volta. Tarefa árdua nesta Vuelta montanhosa, mas a oportunidade mais propícia que se deparou ao corredor de 26 anos na ainda curta carreira

Todos os holofotes sobre João Almeida, todas as esperanças de que torne o primeiro português a vencer uma grande Volta. Separam-no deste feito histórico 21 etapas da edição mais montanhosa da Volta a Espanha dos últimos anos e com a especialidade de começar em Portugal, hoje, com um contrarrelógio individual entre Lisboa e Oeiras, e que de cá permanecer durante três dias.

Tarefa árdua, mas a oportunidade privilegiada, a mais propícia a glória inédita no ciclismo do nosso País que já se deparou ao corredor de 26 anos das Caldas da Rainha. João Almeida chefiará a toda a poderosa equipa da UAE Emirates, ainda que em parceria igualitária com o britânico Adam Yates, mas livre de subalternidade ao líder indiscutível Tadej Pogacar, vencedor do Giro de Itália e do Tour de França esta temporada, e não enfrentará, além do companheiro de equipa esloveno, os adversários que ficaram à sua frente na prova francesa, em que alcançou excelente quarta posição final, Jonas Vingegaard (Visma Lease a Bike) e Remco Evenepoel (Soudal Quick-Step).

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«Começar uma grande Volta em Portugal é um sonho. Ter o apoio dos adeptos portugueses, da minha família, dos meus amigos, será especial, talvez uma oportunidade única na vida. Vou lutar por vencer esta Vuelta. Será difícil, mas quem não gosteria de ser o número 1», declarou ontem João Almeida.

Com o português (e Adam Yates) ao leme, a UAE Emirates tentará replicar o feito histórico, único no ciclismo de estrada, da Jumbo-Visma (atual Visma-Lease a Bike) em 2023: a conquista do triunvirato Giro-Tour-Vuelta no mesmo ano.

Além da concorrência interna do seu próprio companheiro de equipa - não efetiva, mas a ter forçosamente de superá-la -, João Almeida enfrentará alguns adversários categorizados. Desde logo, Primoz Roglic, vencedor de três Vueltas consecutivas (2019-21), mas nas duas últimas temporadas falhando o quatro triunfo, que lhe permitiria igualar o recorde do espanhol Roberto Heras. O esloveno lidera o forte elenco da Red Bull-Bora-hansgrohe, em que o colombiano Daniel Martinez, segundo no Giro 2024 atrás do irresistível Pogacar, e o russo Alexandr Vlasov, serão planos alternativos na eventualidade de o líder acusar no rendimento a paragem por lesão (fratura de vértebra) causada por queda no Tour.

Entre os principais candidatos está também o surpreendente vencedor da edição da Vuelta de 2023, Sepp Kuss, à frente de poderosa armada da Visma-Lease a Bike que integra o belga Wout van Aert, favorito a vestir de vermelho nas etapas em Portugal. O norte-americano falhou o Tour devido a covid e só regressou na recente Volta a Burgos, que ganhou, assumindo-se preparado para defender o cetro.

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O rival que mais ameaçou o quarto lugar de João Almeida na Volta a França poderá voltar a ser a sombra do português, Mikel Landa, que assume a liderança da Soudal Quick-Step na ausência de Remco Evenepoel. O espanhol exibiu-se a um nível elevado na Grande Boucle e a correr em casa é trepador a ter em conta numa edição muitíssimo montanhosa.

Outro oponente que Almeida teve de bater no Tour foi o jovem líder da Ineos Grenadiers (23 anos), sétimo na prova francesa, e que mantém o estatuto para a Vuelta, corrida em que brilhou na estreia em 2022 com sexto lugar.

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Richard Carapaz, vencedor do Giro em 2019, segundo na Vuelta em 2020 e terceiro no Tour em 2021, é voltista de créditos firmados e procurará voltar a lutar pelos primeiros lugares da geral após falhanços e acidentes nos últimos três anos. O equatoriano, que tinha esse objetivo no último Tour, quando vestiu a amarela teve um dia mau e hipotecou-o, destacando-se depois na montanha, onde deu espetáculo, vencendo uma etapa e coroando-se seu rei, que lhe conferiu direito à prestigiada camisola às bolinhas vermelhas.

João Almeida sai da estreia no Tour com novas perspectivas

O eterno candidato à vitória na grande Volta do seu país, mas sempre adiado, Enric Mas repete a pretensão, ainda que pareça ainda mais afastado do que é habitual dos lugares cimeiros. Para o ajudar na montanha (ou plano B), o espanhol da Movistar terá o este ano regressado à equipa da Telefónica, Nairo Quintana.

Por fim, na Lidl-Trek, o dinamarquês Mattias Skjelmose, o italiano Giulio Ciccone e o britânico Tao Geoghegan Hart serão adversários a temer na alta montanha - e como esta é abundante nesta edição da Vuelta!

Rui Costa: «Venho do Tour com motivação em alta»

Rui Costa venceu uma etapa da Volta a Espanha em 2023, quando estava ao serviço da equipa Intermarché-Wanty. Esta temporada, na formação EF-Education EasyPost, depois de um início de temporada prejudicado por fratura de omoplata devido a queda na Volta ao Algarve, o português, de 37 anos, regressou no Tour e afirma-se motivado para a Vuelta. Em conferência de imprensa da equipa norte-americana, ontem, o corredor de Aguçadoura, na Póvoa de Varzim, esteve acompanhado pelos companheiros Richard Carapaz, equatoriano que é líder da equipa designado, e o carismático colombiano Rigoberto Uran, que faz a última grande Volta, retirando-se no final da temporada.

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«Depois do Tour, a minha motivação e a da equipa estão em alta. A nossa formação está muito sólida. Creio que as coisas podem sair-nos bem. Temos o Richard Carapaz, que é um grande corredor, que já sabe o que é ganhar uma grande Volta. Vamos com tudo», assume Rui Costa, cuja função principal nesta Vuelta é apoiar o vencedor do Giro de 2019. «Nós acreditamos no Richard para o pódio final. O nosso objetivo será auxiliá-lo», declarou o ciclista, que recorda os meandros da sua vitória em etapa na Vuelta.

«O ano passado pedi à minha equipa de então para fazer a Vuelta porque me sentia bem depois do Tour e as coisas correram bem. Uma vitória muito importante para mim. A vida é feita de objetivos. Ganhei etapas no Tour [duas em 2013 e uma em 2011), depois na Vuelta, e no Giro fiquem perto. Este ano, com a Vuelta a começar em Portugal, correr perante o nosso povo, o entusiasmo é ainda maior», conclui Rui Costa.

Nelson Oliveira: «Tentarei fazer bom contrarrelógio»

Nelson Oliveira tem hoje, no contrarrelógio inaugural da Volta a Espanha, de 12 quilómetros entre Lisboa e Oeiras, oportunidade de brilhar perante os fãs portugueses. «Gostava de fazer bem, claro. É um contrarrelógio curto, plano. Haverá outros corredores que também terão a pretensão de vencê-lo. Será fundamental saber como o corpo reage, por ser o primeiro dia de uma competição e nunca se sabe como iremos corresponder fisicamente», afirmou o corredor, que aos 35 anos participará na 10.ª Vuelta da sua carreira.

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«Se não for no contrarrelógio, poderá haver outras oportunidades [de vencer] em etapas em linha», acrescentou Nelson Oliveira, que venceu uma etapa na edição de 2015 da corrida espanhola, e terá funções de apoio aos líderes da equipa, que nesta edição da corrida espanhola serão três, segundo dois planos estratégicos.

«A equipa aposta em Enric [Mas, três vezes segundo na Vuelta], será o plano A. Mas teremos também o Nairo [Quintana, que venceu a corrida em 2016 e está de regresso à equipa da Telefónica esta temporada] e ainda o [Einer] Rubio, que fazem parte de um plano B», revelou Oliveira, que alinhará ainda no octeto da Movistar com Pelayo Sánchez, Oier Lazkano, Carlos Canal e Jorge Arcas.

Etapas da Volta a espanha 2024

Data Etapa Percurso Km
17 ago 1.ª etapa Lisboa - Oeiras 12 km (CRI)
18 ago 2.ª etapa Cascais - Ourém, 194 km
19 ago 3.ª etapa Lousã - Castelo Branco 191,2 km
20 ago 4.ª etapa Plasencia - Pico Villuercas 170,5 km
21 ago 5.ª etapa Fuente del Maestre - Sevilha 177 km
22 ago 6.ª etapa Jerez de la Frontera - Yunquera 185,5 km
23 ago 7.ª etapa Archidona - Córdoba 180,5 km
24 ago 8.ª etapa Úbeda - Cazorla 159 km
25 ago 9.ª etapa Motril - Granada 178,5 km
26 ago Dia de descanso
27 ago 10.ª etapa Ponteareas - Baiona 160 km
28 ago 11.ª etapa Padrón - Padrón 166,5 km
29 ago 12.ª etapa Ourense - Estação de Montanha de Manzaneda 137,5 km
30 ago 13.ª etapa Lugo - Puerto de Ancares 176 km
31 ago 14.ª etapa Villafranca del Bierzo - Villablino 200,5 km
01 set 15.ª etapa Infiesto - Valgrande-Pajares (Cuitu Negru) 143 km
02 set Dia de descanso
03 set 16.ª etapa Luanco - Lagos de Covadonga 181,5 km
04 set 17.ª etapa Monumento Juan de Castillo - Santander 141,5 km
05 set 18.ª etapa Vitoria-Gasteiz - Maeztu 179,5 km
06 set 19.ª etapa Logroño - Alto de Moncalvillo 173,5 km
07 set 20.ª etapa Villarcayo - Picón Blanco 172 km
08 set 21.ª etapa Madrid - Madrid, 24,6 km (CRI)
Total: 3.265 km

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Ordem de partida para o contrarrelógio deste sábado

João Almeida (UAE Emirates) partirá para o contrarrelógio, hoje, entre Lisboa (Mosteiro dos Jerónimos) e Oeiras (praia da Torre), com 12 km, às 18.55 horas, e será o 153.º corredor de um total de 176, integrando 22 equipas. Os outros portugueses, Nelson Oliveira (Movistar) e Rui Costa (EF Education-EasyPost) fá-lo-ão, respetivamente, às 19.06 h e 19.07 h, ou seja, seguir-se-ão na estrada.
Eis o horário de largada de outros principais corredores: Enric Mas (Movistar: 16.32 h); Jay Vine (Emirates: 16.43); Richard Carapaz (EF: 16.55), Daniel Martinez (Red Bull: 17.00); Ben O'Connor (AG2R: 17.01); Isaac del Toro (Emirates: 17.05); Damiano Caruso (Bahrain: 17.15); Felix Gall (AG2R: 17.45); Giulio Ciccone (Lidl-Trek: 17.56), Mikel Landa (Quick-Step: 17.46); Thymen Arensman (Ineos: 18.10); Aleksandr Vlasov (Red Bull: 18.28), Joshua Tarling (Ineos: 18.32); Adam Yates (Emirates: 18.33), Nairo Quintana (Movistar: 18.44); Carlos Rodriguez (Ineos: 18.54), Sepp Kuss (Visma: 18.56); Stefan Kung (FDJ: 19.08); Primoz Roglic (Red Bull: 19.12); Tao Hart (Lidl-Trek: 19.14), Brandon McNulty (Emirates: 19.17) e Wout van Aert (Visma: 19.18).

Lisboa não está a ser... boa para Primoz Roglic

Primoz Roglic, o corredor mais consagrado presente nesta edição da Volta a Espanha, está a ser protagonista ainda antes de a corrida começar. Na quinta-feira, durante a apresentação das equipas, o esloveno desapareceu e não alinhou com a equipa na cerimónia, acabando por aparecer mais tarde, já após todas as formações se terem exibido ao público, e teve o palco todo para si. Ontem, a meio da tarde, já depois de ter participado na conferência de imprensa da sua equipa, a Red Bull-Bora-hansgrohe, fez uma publicação, nas redes sociais, de uma imagem em se mostra sem um dente incisivo, sentado numa cadeira de dentista, e acompanhada da seguinte declaração: «Olá Lisboa. Isto começa bem, uh? Que a Vuelta comece».