Judo Patrícia Sampaio a A BOLA: «A medalha era bué bonita. Tinha de ter uma!»
«Logo de manhã havia dito que, se medalhasse, já sabia como seria o festejo e que até tinha ensaiado. Era o aniversário da Maria Siderot [colega de Seleção dos -52 kg, que celebrava 27 anos]. É a minha melhor amiga, tinha estado o dia todo a acompanhar-me, era o dia de anos dela... juntou-se tudo ao momento e fiz como prometera», explicou Patrícia Sampaio (-78 kg) a A BOLA o porquê de ter feito um M com os dedos pouco depois de derrotar, por wazari, a alemã Alina Boehm (10.ª do ranking) no combate pelo bronze no Grand Slam de Ulan Bator. Prova ganha pela israelita campeã do mundo Inbar Lanir frente à japonesa Mami Umeki .
E a Maria percebeu? «Sim, sim… percebeu», garantiu a olímpica do Gualdim Pais que, a cinco dias de também celebrar o 24.º aniversário, continua a ser a grande sensação da Seleção em 2023 ao conquistar a sexta medalha em sete etapas do Circuito Mundial, sem contar com o Campeonato do Mundo de Doha, onde foi 9.ª.
Performance tão boa que, de certa forma, até surpreende a própria que depois de uma carreira ímpar nos juniores: campeã da Europa em duas ocasiões e três vezes bronze no Mundial, além de também ter ganho o Euro Sub-23, teve os primeiros anos como sénior marcados por sucessivas complicadas lesões e operações.
Ainda assim, no fim do dia o bronze sabia «um bocadinho a pouco devido à meia-final que estava a fazer», confessou a 11.ª judoca do ranking sobre a única derrota, frente à israelita Inbar Lanir (3.ª). Confronto em que aos 21s liderava por wazari, depois impôs dois castigos, mas veio a sofrer dois wazaris, o segundo aos 2.37m por imobilização.
«Não sei… apesar de estar a ganhar com tantas vantagens tive pressa em terminar o combate. Podia levar shidos, não tinha nenhum. Precipitei-me num bocadinho no corpo a corpo, onde ela é boa e aproveitou. Depois seguiu para o chão e já não tive hipótese de dar a volta. Tendo, mais uma vez, a vitória quase na mão, acabar por perder assim foi um bocadinho frustrante pois ainda agora ela foi campeã mundial e eu estava a dominar a luta», analisa quem começara a jornada a superar a mongol Khuslen Otgonbayar (38.ª) e a japonesa Rika Takayama (Jpn, 15.ª).
«Mas também foi bom sentir que depois consegui recompor-me da derrota e ver que, este ano, em todos os grand slams que participei não falhei nenhum bloco de finais. Vim cá para ganhar e medalhar e não queria perder essa oportunidade. Ainda por cima esta medalha é bué bonita. Quando [dois dias antes] vi a da Catarina [Costa, bronze nos -48 kg] pensei logo: ‘Tenho de ter uma destas!’. É muito grande e gira no meio. É mesmo muito fixe» conta Patrícia, rindo-se.
Em seis meses, Patrícia Sampaio contabiliza seis pódios [1+1+4] em sete provas do Circuito Mundial – sem contar com o Mundial – e tendo combatido nos blocos de finais em todas. O que isto significa neste momento? «Ainda hoje o Marco [Morais, selecionador feminino] disse-me: ‘Foram seis meses incríveis’. Fechámos o primeiro semestre da época e é espetacular. Foi superação atrás de superação em cada prova. Não tenho palavras… Sei que é fruto do meu trabalho e de quem está perto de mim, mas trata-se de uma consistência de que nem eu esperava. Apesar de a ambicionar», revela.
Patrícia Sampaio em 2023
Ouro Grand Prix de Portugal 29 janeiro.
5.º lugar Grand Slam de Paris 5 fevereiro
Bronze Grand Slam de Telavive 18 fevereiro
Bronze Grand Slam de Tashkent 5 março
Bronze Grand Slam de Antalya 2 abril
9.º lugar Mundial de Doha 12 maio
Prata Grand Slam do Cazaquistão 18 junho
Bronze Grand Slam de Ulan Bator 25 junho
Mas quem entra para aquele combate pelo bronze e em 38s faz três ataques muito fortes e provoca um castigo à alemã por passividade e quase não permite que tivesse iniciativa em toda a luta, é alguém que está muito confiante do que consegue, não é? «Alguém que está muito decidida a ganhar», declara voltando a rir-se.
«Mas confiança também é algo que tenho sentido ultimamente. Felizmente. Assim como faço treino físico, de judo e mental, tenho trabalhado igualmente para me sentir mais confiante e focada. O que tem acontecido é reflexo disso», afirma Patrícia que sabe que agora, para subir mais no ranking e fixar-se no top 8/10, terá de passar a disputar mais finais do que combates para o bronze.
Facto curioso é que durante a segunda metade do combate para o 3.º lugar nunca se apercebeu que estava a sangrar junto ao olho esquerdo. Nem ela, nem a adversária, nem o árbitro e por isso, depois o sangue terá sido limpo com o fato, a luta nunca parou. «Nunca notei. Tanto que quando saí é que o Marco disse que o olho estava muito mal, negro».
«Perguntei: ‘Mas é só raspado do fato, não é?’. Ele: ‘Não! Não! Está muito mau’. E tirou uma fotografia para mostrar. Não tinha noção que fosse tanto. O corte afinal eram dois, um por baixo do olho e o outro na pálpebra superior. Nunca me apercebi», concluiu.
Patrícia Sampaio (-78 kg, 11.ª do ranking)
CAMINHO PARA A BRONZE
Isenta da 1.ª ronda
Khuslen Otgonbayar (Mgl, 38.ª) vitória por ippon 3.48m
Rika Takayama (Jpn, 15.ª) vitória por ippon 1.03m
Inbar Lanir (Isr, 3.ª) derrota por ippon 2.38m
Alina Boehm (Ale, 10.ª) vitória por wazari 4.00m
Pódio dos -78 kg: 1.ª, Inbar Lanir (Isr); 2.ª, Mami Umeki (Jpn); 3.ª, Patrícia Sampaio (Por) e Rika Takayama (Jpn).
Seleção Nacional
Masculinos
-60 kg Francisco Mendes não classificado (0 v-1 d)
-60 kg Rodrigo Lopes não classificado (0 v-1 d)
-81 kg Anri Egutidze não classificado (0 v-1 d)
-81 kg João Fernando 9.º classificado (1 v-1 d)
-100 kg Jorge Fonseca 7.º classificado (1 v-2 d)
Femininos
-48 kg Catarina Costa 3.ª classificada (3 v-1 d)
-52 kg Joana Diogo não classificada (0 v-1 d)
-52 kg Maria Siderot não classificada (1 v-1 d)
-57 kg Telma Monteiro 5.ª classificada (2 v-2 d)
-70 kg Joana Crisóstomo 9.ª classificada (1 v-1 d)
-78 kg Patrícia Sampaio 3.ª classificada (3 v-1 d)
+78 kg Rochele Nunes 7.ª classificada (1 v-2 d)
Selecionadores: Pedro Soares e Marco Morais