O eterno segundo
No recente Europeu, a 13.ª medalha de prata em provas continentais, mundiais e olímpicas. Síndrome Poulidor? Confiança inabalável, diz
Wout van Aert é uma das estrelas mais cintilantes do ciclismo mundial. Corredor multidisciplinar, compatibilizando resultados de elevado nível nas vertentes de estrada e ciclocrosse da modalidade, o belga, de 29 anos, chegou ao WorldTour em 2018 ao serviço da equipa Continental do seu país, Vérandas Willems-Crelan, mais vocacionada naquela última especialidade, em que se corre em pisos de terra e erva, onde se sagrou tricampeão mundial (2016-18).
Após ter obtido surpreendentes classificações de destaque na estreia em dois Monumentos - 9.º lugar no Tour de Flandres e o 13.º na Paris-Roubaix -, as portas da Jumbo-Visma abriram-se no decurso da temporada seguinte, ainda a tempo da época de clássicas do Norte.
Desde então com as cores da equipa neerlandesa, Van Aert venceu o primeiro e único Monumento, a Milão-Sanremo (2020) e outras clássicas de grande prestígio, Strade Bianche (2020), Amstel Gold Race (21), Gent-Wevelgem (21) e Omloop (22), somando-lhes nove vitórias em etapas no Tour de França – incluindo a honrosa camisola verde da classificação por pontos (22) – e cinco no Critério do Dauphiné.
Aos triunfos, Van Aert junta longa série de segundos lugares em competições continentais, mundiais e olímpicas de estrada e de ciclocrosse, que teima em persistir sem mais sucessos.
O último foi no Europeu de Estrada de fundo, no último domingo, nos Países Baixos, a 13.ª medalha de prata que acumula de Jogos Olímpicos (uma), Mundiais de estrada (quatro: duas de contrarrelógio e duas de fundo) e de ciclocrosse (quatro), do Europeu de ciclocrosse (duas) e de Nacionais da Bélgica (uma). E ainda na Paris-Roubaix (22) e em oito etapas do Tour.
Na presente temporada, o belga da Jumbo-Visma foi terceiro nas Milão-Sanremo e Paris-Roubaix e no Mundial e no Europeu de contrarrelógio, e segundo nos Mundiais de estrada de fundo e de ciclocrosse, e agora segundo no Europeu de estrada de fundo.
O ano de 2023 de Wout van Aert quase seria extraordinário… Quase. Uma síndrome de Poulidor que parece afetar cada vez mais aquele que já tem 12 medalhas de prata em Mundiais, Europeus e Jogos Olímpicos.
«Claro que não é divertido ocupar sempre lugares de honra, mas tenho de estar satisfeito com minhas pernas, a minha corrida e o trabalho da equipa. Continuo confiante e quero manter o moral elevado, porque a minha sorte um dia vai mudar…», disse Van Aert após a corrida de fundo do Europeu, em que terminou em segundo atrás do francês Christophe Laporte.