Entrevista A BOLA «No Conservatório Nacional, perguntavam-me o que eu fazia e respondia: 'surf'»

SURF09:00

João Kopke, surfista e protagonista da série 'Movimento', esteve à conversa com a A BOLA e abordou a paixão pela música e pela aventura

Além da paixão intensa pelo mar e pelo surf, João Kopke autodenomina-se uma pessoa multifacetada, com vários gostos e interesses que vão muito além da praia. Entre eles, está a música, que sempre fez parte da sua vida.

«Era a ligação mais natural de surgir, a minha mãe é pianista, é professora no Conservatório Nacional, e sempre foi uma 'superinspiração', nesse sentido. A minha irmã começou a fazer música mais cedo que eu, eu fiquei ciumento e comecei. Surgiu um bocadinho antes do surf, na verdade, surgiu desde sempre. Sempre houve música lá em casa, músicos a virem ensaiar para os concertos, porque a minha mãe fazia os ensaios lá em casa, tocava piano e o pessoal todo ia cantar ópera para a sala. Portanto, é uma ligação óbvia para mim.»

Contrabaixista e cantor, João frequentou o Conservatório Nacional, garantido que foi uma escolha própria e não por pressão da mãe: «Foi uma escolha minha, claro que foi influenciado pela minha mãe e pelo meu pai, que são os dois músicos, a minha mãe profissional e o meu pai não, mas é um amante de música. É óbvio que foi muito influenciada, mas não houve pressão nenhuma, pelo contrário, eu entrei quando quis.»

João Kopke toca contrabaixo e está a aprender a tocar guitarra

«O mais próximo de uma escola de magia é uma escola de música»

«Perguntavam-me no Conservatório o que eu fazia, e toda a gente tocava um violino qualquer, ou tocava contrabaixo, e eu dizia que fazia surf, então houve sempre essa dualidade. Mas foi incrível. Quando passas pelos corredores do Conservatório, ouves que cada sala tem um instrumento diferente, uma música diferente, uma história diferente, que alguém está a aprender. Aquelas aulas são privadas, então a história de cada aluno é muito individual e eu acho isso muito interessante. Eu sentia-me um bocado em Hogwarts. É a imagem mental que eu tenho. O mais próximo de uma escola de magia é uma escola de música», disse.

Questionado se alguma vez teve o objetivo de se tornar um músico profissional, João Kopke assumiu que ainda pensa no assunto e revelou estar a escrever um álbum, que será lançado no próximo ano: «Estou a escrever um álbum para lançar, espero eu, no ano que vem, vamos ver se conseguimos acabar as coisas. Com material próprio, composições autorais nossas e material original, que a música me deu um pouco mais tarde, essa vontade, quando eu descobri as músicas do mundo, que são, basicamente, os estilos musicais de Brasil, Argentina, Cabo Verde, Portugal… estilos de música tradicional de vários lugares.»

«Foram influências que me levaram para um tipo de canção que eu gosto, que devagarinho começo a perceber que gosto de fazer, com alguns parceiros: a minha irmã escreve letras comigo, o meu pai escreve canções e letras, um dos meus melhores amigos escreveu comigo as canções todas que fizemos até agora, o meu vizinho é um super compositor. De repente, estes meus amigos todos parece que estão aqui num universo de criação de uma coisa que ainda está no início», assumiu.

«Espero que inspire as pessoas a viver de forma apaixonada»

Aventureiro por natureza, João Kopke vive, constantemente, em busca de novas experiências. Aos 29 anos, já viajou pelo mundo e coleciona histórias para todos os gostos. Desafiado a revelar uma que o tenha marcado, lembrou uma viagem até ao Morro do Moco, a montanha mais alta em Angola.

«Em Angola, eu visitei um lugar que era o Morro do Moco, para conhecer uma aldeia que está lá isolada de tudo. Não tem luz, não tem nada. É uma coisa muito isolada, que ainda tem um Soba, que é uma espécie de chefe tribal. Acho que a característica principal é que eles estão mesmo muito isolados, então ainda tem um sistema de organização que é quase tribal. Eu achei que esta experiência ia ser uma experiência muito idílica. Uma aldeia pequenina, romantizei um bocadinho a coisa, mas a verdade é que estares isolado, num país com condições difíceis, não teres acesso a água, não teres acesso a luz, não teres acesso a hospitais, não teres acesso à escola, esse tipo de coisas, porque estás muito longe, não tem assim tanto de idílico, principalmente num ambiente de escassez», começou por dizer.

«Tinha coisas estranhas, como, por exemplo, para mostrar que uma casa é de gente rica, com status, algumas casas estavam enfeitadas com antenas parabólicas. Mas não tinham televisão, não tinham nada, era só a antena. Ou seja, mostrar status era ter uma antena. Isso foi uma super lição de valorizar o que nós temos. Às vezes, tu olhas para quem está acima, e estás aqui nesta 'corrida de ratos' da sociedade, às vezes invejas um bocadinho a malta que vive noutra realidade. Pensas que gostavas de ser um índio na Amazónia, por exemplo, e não ter nada disto e se calhar eles é que estão bem. O mundo é duro para quem mora longe do mundo. Não tenho dúvidas que em alguma sociedade, as pessoas estejam bem porque têm abundância e não têm os mesmos estresses do que tu, mas não me pareceu uma vida muito mais fácil só porque estavam isolados. Pelo contrário, pareceu-me mesmo uma vida muito complicada», recordou.

Com tantos gostos e experiências vividas, assumiu viver uma vida «apaixonada» e espera servir de inspiração para muitos: «Espero que seja uma vida que inspire as pessoas a viver de forma apaixonada, seja lá pelo que for que as apaixone. Que inspire boa mudança, que contribua para o mundo, que conte histórias que são histórias bonitas e que melhoram, ou ajudam a melhorar, a forma como todos nós estamos aqui neste planeta. Mas também a um nível muito humano que dê às pessoas inspiração e talvez até ferramentas para elas próprias irem à procura daquilo que elas gostam de fazer.»