Maratonista portuguesa num teste à sobrevivência no Saara 

Mais Desporto Maratonista portuguesa num teste à sobrevivência no Saara 

MAIS DESPORTO21.04.202318:22

Durante sete dias, Ester Alves passa para o outro lado e troca o acompanhamento de atletas em Barcelos por um desafio extremo na ultramaratona das Areias, no deserto do Sahara, Marrocos, sob temperaturas a rondar os 50 graus durante o dia e a carregar todos os pertences pessoais, até 15 quilos, durante os 250 quilómetros divididos por seis etapas, que espera concluir entre as dez primeiras classificadas.


A prestigiada Maratona das Areias é considerada a corrida de resistência mais difícil, já conhece 37 edições e atraiu 1200 participantes neste ano, entre hoje e 1 de maio, incluindo Ester Alves, que nem é uma novata, tendo feito a estreia em 2017. «Na primeira vez, cometemos sempre muitos erros e tentarei corrigir algumas dessas situações», explicou a atleta a A BOLA, já em Marrocos.


Nessa primeira participação, Ester Alves lutou pelo top-10 e conseguiu. A fasquia mantém-se porque a exigência é cada vez maior, com recorde de 21,5% de mulheres entre inscritos. «Quando faltarem as forças, os realmente bons ganharão posições nas últimas etapas», disse a bióloga de formação, doutorada na área da Fisiologia e mentora da Estádio Clínica, vocacionada para o alto rendimento.


Mas a Maratona das Areias é muito mais do que uma competição. É a privação do conforto, é a condição humana resumida «à necessidade básica de comida e de água» e em que tudo o resto é supérfluo. «Dá uma bagagem brutal para a vida. É preciso arranjar estratégias para continuar e isso ajuda no dia a dia», contou atleta, de 41 anos, muitos dedicados ao desporto.


A Maratona das Areias é uma experiência de autossuficiência com seis estágios em sete dias, a pé, por grandes dunas e sob o calor seco do deserto, uma refeição calórica por dia num total de 14000 kcal (mínimo de 2000 kcal/dia), numa mochila às costas que só pode pesar entre 6,5 e 15 quilos. A organização fornece tenda e água.


A expectativa são «50 a 60 quilómetros de corrida todos os dias, a acumular problemas, fadiga, cansaço e a obrigar a gestão cautelosa» do esforço e dos recursos. «Quanto maior for a nossa economia e adaptação ao calor, mais bem-sucedida será a prova. As etapas são muito duras. A exigência física e mental é enorme», reforçou Ester Alves.


Um canivete, uma bússola, uma bomba antiveneno para os escorpiões e 200 euros em dinheiro para a eventualidade de desistência, que chegou a ocorrer-lhe em 2017, são obrigatórios na mochila. «Acabar é condição sinequanon e ficar a meio seria uma derrota. A sobrevivência em cada etapa ditará a parte final», frisou sem hesitação.


A preparação para a ultramaratona tem acontecido ao longo dos anos. Ester Alves chegou a integrar as Seleções Nacionais de corridas de montanha e de ciclismo, tendo estado abrangida pelo Projeto Olímpico Pequim2008. Já participou em muitas outras provas extremas por todo o mundo.