João Almeida: «Farei tudo para ganhar esta Vuelta»
Corredor português rejeita exclusividade no favoritismo à vitória na Volta a Espanha, que hoje arranca de Lisboa e tem três etapas em Portugal. Mas pedalará a fundo sem travar a ambição
João Almeida não se assume o principal favorito à vitória na Volta a Espanha, apenas um entre estes, mas lança a candidatura à vitória, a vestir a derradeira camisola vermelha, em Madrid. O português, quarto classificado na Volta a França este ano, lidera a forte equipa da UAE Emirates em parceria com Adam Yates, e foi ao lado do britânico que anteviu, em conferência de imprensa em Lisboa, a corrida que arranca sábado da capital, em frente ao Mosteiros dos Jerónimos, com um contrarrelógio individual de 12 quilómetros até à praia da Torre, em Oeiras.
- Esta Vuelta é oportunidade de vencer a primeira grande Volta?
- Não creio que seja o maior favorito a vencer, estou entre os principais. É a primeira temporada que participo no Tour e na Vuelta e não tive a melhor preparação para a corrida espanhol, porque houve pouco tempo para o fazer a seguir ao Tour. Mas estou em boa forma. Temos confiança, por isso farei tudo para ganhar. A nossa equipa é ótima e tentaremos jogar com muitas cartas. Por isso, sim, quem não gostaria de vencer, de ser o n.º 1 no final?
- Qual é o objetivo que os responsáveis da equipa pedem?
- Somos equipa que corre sempre para vencer, o objetivo é ganhar a Vuelta, e a garantia que podemos dar é que tentaremos vencê-la. Tanto comigo como com o Adam [Yates]. Se no final estivermos no pódio, vai ser para mim o objetivo está cumprido. Mas apontamos sempre para vencer.
- Partilhou a liderança com Adam Yates na Volta à Suíça este ano e fizeram primeiro e segundo na geral. Repetem a parceria ou logo quem se destacar assumirá a liderança na hierarquia da equipa?
- Trabalhámos muito bem na Suíça, e até mesmo no Tour. Tínhamos diferentes funções diferentes no Tour, mas correu muito bem. Mostrámos que as coisas podem funcionar. É claro que na Vuelta o nível competitivo será mais alto do que na Volta à Suíça. Não creio que seja um problema saber qual de nós dois correrá pela vitória. Precisamos concentrar-nos nos adversários.
- Houve parcerias em grandes Voltas na sua carreira, nomeadamente no Giro de 2021, na Quick-Step, com Remco Evenepoel, que não correram assim tão bem e que haverá sempre alguma coisa no desenrolar da corrida que estabelecerá a hierarquia. Concorda?
- Isso foi no passado, depende das pessoas envolvidas, são pessoas diferentes. Creio que raramente há uma corrida a que vamos apenas com um líder. Desde que haja respeito e boa comunicação. Isso é o mais importante.
Roglic diz sempre que está a 80% e depois mata-nos por um minuto ou mais. Certamente, estará bem. Não creio que participasse se não estivesse em boa forma
- Que adversários destaca na luta pela vitória?
- Temos o Primoz [Roglic]. Ele é sempre um grande corredor em grandes Volta, já ganhou a Vuelta três vezes e ganhou o Giro em 2023. Há também o [Aleksandr] Vlasov, que apesar de estar na equipa do Primoz pode ser um bom líder também. Talvez não venha apenas para ajudar. Depois, o Sepp Kuss. Há muitos, na verdade, que podem lutar pela vitória. A preparação que cada um pôde fazer também vai ser importante. Quem não esteve no Tour, poderá estar em vantagem, porque teve tempo e frescura para fazer mais treinos específicos. No entanto, há mais corredores que vêm do Tour, como eu e o Adam [Yates], como o Carlos Rodriguez ou o [Mikel] Landa ou o Richard Carapaz, do que os que não estiveram lá. Por outro lado, o Kuss esteve doente e só há pouco tempo voltou a competir e o Primoz esteve lesionado devido a queda no Tour. Iremos descobrir nos primeiros dias, em que ponto de forma toda a gente se encontra.
O jogo de Roglic
- Primoz Roglic (Red-Bull-Bora-hansgrohe) disse, já em Lisboa, que não estava a sentir-se a 100% recuperado da fratura de vértebra sofrida no Tour. Conhecendo-se o esloveno, é credível?
- Ele diz sempre que está a 80% e depois mata-nos por um minuto ou mais. Certamente, estará bem. Não creio que participasse se não estivesse em boa forma. Para mim, é um dos maiores favoritos. Nas corridas, em pequenas conversas, por vezes pergunto-lhe como está e responde-me 'não muito bem'- e depois ganha. Todos jogam o seu jogo. Também estamos aqui para jogar o nosso.
Ausência de Juan Ayuso: «Equipa já é muito forte»
- A ausência de Juan Ayuso tem sido controversa. Como comenta o facto de o seu companheiro espanhol ter sido preterido na equipa para esta Vuelta?
- Creio que temos uma equipa muito forte, mesmo sem o Juan, apesar dele ser um corredor muito forte. Infelizmente, não pode estar presente. Teve Covid durante o Tour que o forçou a desistir, seguiu-se a recuperação, já esteve nos Jogos Olímpicos, mas não deve ter conseguido preparar-se da melhor forma. Vamos estar aqui sem ele. Certamente, se estivesse connosco faria uma grande corrida. Quem sabe se estará cá para o ano?
- Pretende ganhar o contrarrelógio inaugural? O objetivo é vestir a camisola vermelha no primeiro dia em Portugal?
- Acho que não será fácil. Os contrarrelogistas puros têm sempre vantagem num percurso tão rápido este. Mas vou dar o meu melhor para alcançar a melhor posição possível, até porque o crono vai começar já a definir, ainda que ligeiramente, a classificação geral. Portanto, é um dia importante em que teremos de estar focados.
-Quando e onde se decidirá esta Vuelta?
- Creio que em qualquer dia. Numa etapa com vento, que provoque cortes, até mais do que em etapas de montanha. Claro, vamos ter muita montanha, é uma das grandes Voltas dos últimos anos com mais desnível acumulado. Vai estar muito calor também e dois contrarrelógios, no início e no final. Acho que vai ser o todo que ditará o vencedor.
- Se pudesse escolher uma das etapas para ganhar, qual seria?
- Uma etapa de montanha mítica, certamente...
- Lagos de Covadonga?
- Sim, seria uma boa etapa. Mas qualquer vitória de etapa seria excelente.