«Bora, João, bota lume!», que Roglic já está atrasado...
João Almeida durante a apresentação das equipas da Volta a Espanha, junto à Torre de Belém, em Lisboa (LUSA)

«Bora, João, bota lume!», que Roglic já está atrasado...

CICLISMO16.08.202400:58

João Almeida foi estrela mais cintilante da constelação que desfilou em final de tarde escaldante, junto à Torre de Belém, em Lisboa, na apresentação das equipas da Volta a Espanha. Mas a 'figura' foi outra...

Cerca de meio milhar de pessoas assistiu ontem, junto à Torre de Belém, à apresentação das 22 equipas e respetivos corredores participantes na Volta a Espanha, que se inicia amanhã em Lisboa e terá três etapas em Portugal. Num final de tarde mais convidativo a ficar na praia, foi um público multinacional, ainda que maioritariamente português, que viu, ouviu e aplaudiu alguns dos melhores ciclistas do mundo, num desfile em palco, equipados a rigor e nas respetivas bicicletas, antes das primeiras pedaladas a sério na estrada, em contrarrelógio entre a Praça do Império, na capital, e Oeiras, percorrido na icónica Marginal.

A estrela da tarde foi, de longe, João Almeida. Cerca de uma hora antes do início da cerimónia, quando chegou ao recinto o autocarro da equipa UAE Emirates, que dezenas de pessoas aguardavam, junto ao veículo, pela saída do corredor português, que fez uma primeira aparição para saudar os fãs ainda muito tempo antes de sair com os companheiros de equipa para a apresentação em palco, onde teve a maior saudação entre os 176 corredores que por lá passaram. Um deles fora de horas… Primoz Roglic, uma das maiores figuras nesta Vuelta, perdeu a exibição da sua equipa e subiu ao palanque sozinho já após o final da gala (ver caixa à direita).

«Bora João, bota lume!», foi um de muitos incentivos da multidão a João Almeida, aludindo à expressão que o ciclista de A-dos-Francos popularizou nas suas redes sociais e que se tornou conotação pessoal. Mas também houve cânticos e palavras carinhosas ao melhor ciclista português da atualidade na vertente de estrada.

Pela primeira vez na ainda curta carreira de cinco anos, João Almeida é o principal favorito à vitória de uma grande Volta. Após um terceiro e um quarto lugares no Giro de 2023 e 2020, respetivamente, e o quarto no Tour já este ano, na ausência dos três primeiros classificados na recente Grande Boucle, Tadej Pogacar, Jonas Vingegaard e Remco Evenepoel, o português tem legítimas pretensões ao degrau mais alto do pódio. Todavia, prefere ser cauteloso.

«Não é a primeira vez que posso vencer uma grande Volta, já houve outras… Mas esta é especial, porque parte do meu país, passa perto da minha terra e apesar de não estar na condição física ideal porque estive na Volta a França, temos uma equipa forte e unida que me dá garantias», afirmou a A BOLA o corredor de 26 anos, que partilha a liderança da equipa UAE Emirates com Adam Yates.

Devido a esta coliderança, pode considerar-se que o corredor luso, de 26 anos, tem concorrência, e forte, dentro da sua própria equipa. O britânico foi sexto classificado no Tour-2024 e terceiro na edição de 2023 da corrida francesa e a parceria luso-britânica já mostrou ser proveitosa na Volta à Suíça esta temporada, com domínio avassalador dos dois corredores, que ocuparam as primeiras posições da geral e dividiram vitórias em quatro das oito etapas da prova.

«Eu e o Adam [Yates] entendemo-nos bem e a parceria já deu frutos. Quem ficará à frente não é importante, mas sim que seja um de nós, ou alguém da nossa equipa», referiu.

A exigência do percurso da corrida espanhola, ainda mais montanhoso do que é tradicional, é relativizado pelo português, que faz depender a sua importância na prova da força e frescura das suas pernas. «O desnível positivo acumulado é enorme, um dos maiores dos últimos anos, mas se este ser-me-á mais ou menos favorável dependerá das minhas sensações, de como tiver as pernas».

«E será o mesmo para todos os candidatos aos primeiros lugares da geral», declarou João Almeida, que assume que a ausência dos três primeiros do Tour-2024, os únicos que terminaram à sua frente, «facilita um bocadinho», mas destaca «a qualidade e a quantidade dos adversários» que defrontará na terceira Volta a Espanha da sua carreira.

Roglic 'despista-se' e sobe ao palco... sozinho

João Almeida foi, de longe, o corredor mais aplaudido da apresentação das equipas, mas Primoz Roglic teve, com estranheza e espanto, a exclusividade de ter tido o palco só para si. Quando chegou a vez de a equipa do esloveno, a Red Bull-Bora-hansgrohe, subir à cena, sete corredores perfilaram-se, mas faltava a sua principal figura, três vencedor da Vuelta.

O anfitrião da cerimónia perguntou por Roglic, mas nenhum dos seus companheiros soube ou quis revelar o motivo da ausência. O colombiano Daniel Martinez ainda gracejou com o insólito. «Ele saiu do hotel connosco e viajou no nosso autocarro, mas não sabemos dele…»

A formação alemã saiu do palco e mais duas ainda passaram por este, até que sempre lá surgiu Roglic, que não se acanhou pelo isolamento. Questionado sobre o motivo da sua falta no momento previsto, o corredor, no jeito brincalhão e até irónico que lhe é peculiar, afirmou que se tinha… despistado.        

Rui Costa e Nelson Oliveira empolgados por correr em Portugal

Rui Costa e Nelson Oliveira partilharam com João Almeida o carinho do público que assistiu à apresentação das equipas junto à Torre de Belém. O primeiro, em representação da equipa norte-americana EF Education EasyPost, disse que lhe «parece um sonho» participar numa Grande Volta em Portugal, onde toda a gente que o apoia, que o segue, poderá vê-lo correr.

«Não preparei a Vuelta como desejaria, porque estive no Tour e não houve tempo desde então, mas só por estar em Portugal e perante os portugueses, o esforço já compensa. De qualquer modo, tentarei lutar por uma etapa, mas tudo vai depender da corrida, mas a prioridade é apoiar o Richard Carapaz, que é o nosso líder», declarou sob aplausos.

Nelson Oliveira também agradeceu a receção calorosa do público presente na quente tarde lisboeta quando se perfilou com a sua equipa, a espanhol Movistar, que correrá com equipamento comemorativo do 100.º aniversário da empresa. «É uma sensação muito boa estar com o povo português, sempre no meu coração. No contrarrelógio que parte de Lisboa tentarei fazer bem, darei o melhor e espero alcançar um bom resultado», afirmou o corredor que terá como principal missão na equipa apoiar o espanhol Enric Mas.