Angélica André bebeu «muita água do Sena» para vingar Tóquio
Angélica André após o final da prova de águas abertas dos Jogos Olímpicos de Paris 2024 (JOSÉ SENA GOULÃO/Lusa)

Angélica André bebeu «muita água do Sena» para vingar Tóquio

JOGOS OLÍMPICOS08.08.202410:49

Nadadora portuguesa alcançou o melhor resultado de sempre para a natação de águas abertas; agora vai esperar para ver o custo que nadar no rio que atravessa a capital francesa terá

PARIS – É esperar para ver.

Passa pouco das 7h30 da manhã e já dezenas de pessoas se aglomeram junto a barreiras metálicas com vista para o rio Sena.

Aquelas são as pessoas que agradecem que haja provas no Rio Sena. As únicas pessoas, provavelmente. Porque um dia poderão dizer: «eu vi os Jogos Olímpicos ao vivo».

Na verdade, viram umas tocas e uns braços a passar bem lá ao fundo no meio do rio. Mas isso importa pouco para os amantes de desporto. Porque a prova de 10 quilómetros de águas abertas destes Jogos Olímpicos era das poucas que, acordando cedo e descobrindo os locais onde as telas por detrás das grades foram levantadas, permitiam ver os atletas competir.

Também acontecera no ciclismo e em partes do percurso do triatlo, mas as oportunidades escassearam. Por isso, para muitos terá valido a pena levantar de madrugada numa quinta-feira de agosto para ver uns salpicos de história.

Ou melhor: acordar de manhã e, primeiro que tudo, procurar as notícias da confirmação ou cancelamento da prova. Porque isto quando mete nadar no Sena, como se tem visto ao longo das últimas duas semanas… é esperar para ver até ao último momento.

Angélica André durante a competiçºao de águas abertas no Sena (JOSÉ SENA GOULÃO/Lusa)

Se Angélica André, que ia para a água, sabia quase tanto como quem queria apenas tentar ver a prova, imagine-se a coragem necessária para acordar de madrugada.

Mas o público estava ali. E a nadadora portuguesa estava no rio Sena a nadar. Aos 29 anos, na segunda participação olímpica, e no ano em que conquistou a histórica medalha de bronze nos Mundiais, Angélica chegava a Paris com o objetivo de melhorar o 17.º lugar de Tóquio 2020.

«Nadar no Sena? Espero não apanhar nada»

Depois de ter ficado desde cedo arredada da luta pelos lugares da frente, ela que a meio da prova seguia num terceiro grupo, a mais de 40 segundos para a liderança, Angélica André foi perdendo tempo, mas subindo lugares.

Numa prova que foi ganha pela neerlandesa Sharon van Rouwendaal (2h03m34), a prata foi para a australiana Moesha Johnson e o bronze para a italiana Ginevra Taddeucci.

Já Angélica cumpriu o objetivo traçado. Foi 12.ª classificada, melhorando cinco lugares em relação a Tóquio, com mais 2m42 do que a vencedora, mas a seis segundos do oitavo lugar, que lhe valeria o diploma olímpico.

«Fiz a prova em crescendo e na parte final tentei subir o máximo de lugares. Eu vinha vingar-me do 17.º lugar de Tóquio e consegui. Vinha num grupo com boas nadadoras, que até já foram medalhadas e tinham possibilidade de voltar a ser, por isso sabia que estava numa boa posição na corrida», descreveu sobre a prova.

Sobre a incerteza se haveria ou não prova e de quando ela seria, a nadadora diz que apenas se tentou manter o mais serena possível, admitindo que não houve conversa entre a organização e os atletas, que iam sabendo apenas dos resultados das análises à água do rio.

«A ideia era tentar estar o mais tranquila possível para chegar ao dia que fosse e estar bem preparada física e psicologicamente para competir. Eu estava pronta, por isso tinha a consciência tranquila», resumiu.

A nadadora foi para a água um dia depois de ter sido noticiado que o triatleta Vasco Vilaça foi diagnosticado com uma infeção gastrointestinal, dias depois de ter nadado no Sena. Mas admitiu que a situação está longe de ser a ideal.

«É claro que é chato. E o COP esteve em cima de nós, que tínhamos competições no Sena, para termos as precauções possíveis, como tomar probióticos. Eu bebi muita água durante a prova, espero não apanhar nada. Mas é esperar para ver», admitiu aos jornalistas, encolhendo os ombros.

É esperar para ver.