Zicky Té e a derrota com o Cazaquistão no Mundial: «Não se vive, sobrevive-se»
Zicky Té, pivô do Sporting (Foto: Miguel Nunes)

Entrevista A BOLA Zicky Té e a derrota com o Cazaquistão no Mundial: «Não se vive, sobrevive-se»

Pivô do Sporting e da Seleção Nacional recordou a eliminação de Portugal no Mundial frente ao Cazaquistão, nos oitavos de final

A nível de seleções, Zicky Té viveu algo que era, até então, inédito a nível pessoal: foi a primeira vez que o pivô português foi convocado para uma competição de seleções e não a venceu. A eliminação de Portugal surgiu às mãos do Cazaquistão, nos oitavos de final, com um golo sofrido já nos últimos segundos. Zicky garante que «não se vive, sobrevive-se». Em entrevista a A BOLA, o jogador do Sporting também falou dos novos jogadores que chegam à seleção e aos leões, preferindo utilizar o termo «ciclo normal do desporto» em vez de «renovação».

O Zicky é tetracampeão, já ganhou a Liga dos Campeões, um Euro, um Mundial, mas passou por uma situação que ainda não tinha vivido: não ganhou uma competição de seleções. Como é que se vive essa ‘novidade’?

Não se vive, sobrevive-se, digamos assim. É uma coisa que ninguém gosta. Temos de aprender a lidar com isto. Eu subi numa realidade em que estava habituado a ganhar tudo. E eu disse: «Quero que esta seja a minha realidade.» Por muito que me alertem e que me digam – e eu vou tendo cada vez mais a noção, também - que supostamente vamos perder mais vezes do que vamos ganhar, porque não quebrar essa tendência? Porque não fazer para que isso não seja assim? Gosto muito de ir contra as probabilidades. Por isso é que eu fico muito afetado quando perco uma competição, porque é uma coisa a que não estou habituado, não gosto e nem quero aprender a gostar. Não é algo que eu quero aprender. Se eu puder ganhar sempre, prefiro ganhar sempre e aprender com as vitórias. Sei que se aprende muito mais quando se perde, olha-se mais amplamente para as coisas, mas, se puder estar a ganhar e puder aprender ao mesmo tempo, prefiro ganhar e aprender.

Que ilações se tiraram da derrota com o Cazaquistão?

É que temos de estar ligados em todos os momentos. A qualidade mundial do futsal, não só do futsal português, está a crescer muito. E as equipas, quando jogam contra Portugal, que tem uma identidade de campeão mundial, bicampeão europeu, a tendência é elevar mais o nível. Estar mais ligado. Porque, se jogo com um adversário muito forte, tenho de me elevar para igualar ou tentar superar esse adversário. Nós temos de nos superar também. Temos de nos elevar. Porque se nos mantivermos, igualamos os parâmetros do jogo. Penso que são as relações que temos de tirar. Não temos de desconfiar de tudo. Temos de ir até o fim, de disputar o jogo até o fim. Não que não o tivéssemos feito, mas, agora que perdemos, podemos fazer melhor aqui e ali. Quando se perde, tira-se muitas ilações. Em termos de espírito e em termos da nossa qualidade e da nossa confiança, de que somos realmente bons, não se perdeu nada. Sabemos que, no desporto, não se pode ganhar sempre. E infelizmente não somos exceção.

Vê-se a chegada de novos jogadores à seleção, há uns anos foram o Zicky e o Tomás Paçó. A seleção está num período de renovação?

Pode chamar-se um período de renovação, mas diria que é um ciclo normal da vida, do desporto. Vai chegar um dia em que também me vou retirar. Mesmo que não me retire, vou ficar mais velho e vêm mais novos. É o ciclo normal da vida e o desporto não foge a essa regra. Cada vez aparecem mais jovens com qualidade. E têm de jogar, têm de ter espaço, porque são realmente bons. Somos, porque eu também tenho tenra idade. E, se há qualidade, se os jogadores trabalham, merecem esse voto de confiança.

No Sporting, isso também está a acontecer?

No Sporting, está a acontecer desde que eu subi, digamos assim. Até eu subir à equipa principal, eu e o Tomás, se não me engano, poucos jogadores tinham feito o trajeto completo de formação até à equipa principal. Depois de subirmos, veio o Diogo [Santos], veio o [Tiago] Macedo. Muitos jogadores, à semelhança de nós na altura, já vêm treinar connosco, são convocados para os jogos. Vão a jogos, jogam. Os jogadores estão mais preparados, estão mais mentalizados de que é possível chegar à equipa principal e jogar. Porque trabalham para isso. Trabalham, na formação, ao nível que nós trabalhamos nos séniores. Os conteúdos são iguais. Trabalham como nós. E é possível chegarem ao nível a que eu consegui chegar, a que o Tomás conseguiu chegar, o Diogo, o Bernardo e outros jogadores que vieram da formação. Requer muito trabalho e olhar para a equipa principal e perceber que é ali onde nós queremos estar. É isto que nós sonhamos. Também já tive este sonho e continuo a ter. É um orgulho enorme estar na equipa principal do Sporting e jogar e dar tudo pelo símbolo que carregamos e pela instituição que estamos a representar.