Villas-Boas e a Champions em 2004: «Aliados não chegavam para todos»
A convite de A BOLA, presidente do FC Porto recua à final da Champions ganha ao Mónaco há 20 anos; «Dessa época ficaram valores reforçados e ensinamentos que urge recuperar», refere
A vitória do FC Porto sobre o Mónaco em Gelsenkirchen foi do coletivo, que englobava muita gente ilustre e outra que vivia na sombra de José Mourinho, mas que muito contribuiu para o sucesso desportivo dos dragões nessa época dourada. Foi o caso de André Villas-Boas, membro da equipa técnica do plantel principal do FC Porto na altura, que recorda com emoção os anos de ouro da história azul e branca.
«Essa época foi verdadeiramente extraordinária. As emoções são muitas! Eu integrava a equipa técnica dessa equipa, no apoio a José Mourinho. Estamos a falar de um grupo fantástico, que vinha unido de uma época europeia que já tinha sido extraordinária. Não vale a pena destacar nomes. Em 2022/2003, em termos nacionais, vencemos a Liga, a Taça de Portugal e a Supertaça e em termos internacionais a Taça UEFA. Abordar a época seguinte com a mesma ambição e sem deslumbramentos seria obrigatório. A cada um de nós, a todos nós, foi exigido um compromisso enorme com a equipa, com o clube e com todos os portistas que nos incentivaram com uma intensidade brutal. Mas as probabilidades de vencer a Champions era apenas um sonho… Tínhamos de provar em campo que, de facto, o merecíamos», disse A BOLA, num depoimento marcado por sentimento de nostalgia.
INOVAÇÃO
Profundo conhecedor dos valores intrínsecos que marcam o FC Porto, o atual presidente dos dragões fala de trabalho, rigor, dedicação, compromisso com uma massa associativa fantástica que era a «receita». «Todos os dias. Recordo-me de algo que, de forma impercetível para a maioria, esteve na base da caminhada que terminou em Gelsenkirschen. A capacidade de inovarmos em muitas áreas, de estarmos à frente. O 'scouting' é um bom exemplo. Antes dos jogos, cada um dos jogadores recebeu um DVD individual sobre os comportamentos defensivos e ofensivos do jogador que poderia defrontar, sobre os comportamentos da equipa adversária nessa área. À época era algo raro. Depois muitos nos seguiram. Foi fundamental, para nos anteciparmos a adversários de altíssimo nível, para liderarmos. Inovar para liderar», refere.
A FESTA POPULAR
Os festejos da Champions começaram em solo germânico e estenderam-se até aos Aliados. Uma imagem que perdura até hoje na memória de André Villas-Boas. «Recordo, como se fosse hoje, o orgulho azul e branco desse dia. Os Aliados não chegavam para todos. No Porto, por todo o país, na diáspora portista, milhares de Dragões choravam de alegria. Conseguimos entregar essa Taça a um Porto em delírio, a um Porto que provava ao mundo do que é feito e ao que está destinado… a vencer! Dessa época, não ficaram só emoções e gratas recordações. Ficaram valores reforçados e ensinamentos que urge recuperar», sublinha. A data dos 20 anos da conquista da Liga dos Campeões em 2004 coincide com a final da Taça de Portugal, amanhã, frente ao Sporting.