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REPORTAGEM A BOLA Vilaverdense tinha tudo para correr mal… e correu: 20 jogos, 20 derrotas, 100 golos sofridos!

FUTEBOL FEMININO03.04.202510:05

Com a descida de divisão confirmada, a equipa feminina de Vila Verde vive momentos de indecisão; época muito complicada, em que houve problemas financeiros e de recursos humanos; treinador Rogério Brito abre o livro sobre as dificuldades

Só uma coisa é certa, neste momento, na equipa feminina do Vilaverdense: a descida de divisão está confirmada! Uma temporada na Liga feminina que começou torta e que, como diz o velho ditado, «tarde ou nunca se endireita». E assim sucedeu.

Depois do abandono, por parte do Lank, confirmado a poucas semanas de se iniciar a presente época, o clube conseguiu, ainda assim, dar continuidade ao projeto com a chegada de um novo investidor.

Quando cheguei, porém, deparei-me com enormes problemas, um deles o impedimento de inscrever jogadoras por parte do clube

No entanto, o dano estava feito e com as imposição de sanções, por parte das autoridades competentes, o clube ficou impedido de inscrever novas jogadoras provenientes de um processo que recorresse a transferências. Por isso, apenas o mercado livre era a opção.

Após seis meses de enorme indefinição, em que foram, inclusive, noticiados salários em atraso, a classificação e os resultados iam demonstrando um destino há muito anunciado.

Aliás, em fevereiro último, na 15.ª jornada da Liga BPI, as jogadoras ficaram paradas, em campo, durante um minuto, frente ao Racing Power em protesto pelos tais honorários atrasados. Aí, já Rogério Brito era o treinador, o terceiro, da equipa feminina do Vilaverdense e contou a A BOLA tudo aquilo que o levou a aceitar o convite.

As dificuldades são muitas: por exemplo, apenas 10 jogadoras são séniores (foto Vilaverdense)

«A 1 de dezembro fizeram-me uma proposta, com uma ideia para a Liga BPI, pois já estavam em último e com muitos problemas. Mas, falaram em contratações, porque, diziam, já podiam inscrever jogadoras e que o investidor ia apostar tudo tendo em vista a permanência na liga principal», começa por explicar o técnico.

«Nunca tinha treinado equipas femininas e digo já que estou a gostar. Aceitei o desafio, pois tinha a oportunidade de competir na primeira liga, contra grandes equipas. Quando cheguei, porém, deparei-me com enormes problemas, um deles o impedimento de inscrever jogadoras por parte do clube. Entretanto saíram ainda mais atletas, devido aos problemas todos do início da temporada, com vários meses de salários em atraso e temos dez jogadoras seniores, sendo que o resto são juniores», continua Rogério Brito.

Rogério Brito, treinador de 49 anos da equipa feminina do Vilaverdense (foto FPF)

A tarefa do treinador, de 49 anos, adivinha-se hercúlea, mas nem com toda a vontade e força era previsível um desfecho diferente daquele que já está confirmado. «Foi-se tudo arrastando e apenas se inscreveram duas jogadoras canadianas. Não treino com as juniores, pois os nossos trabalhos são de dia e elas treinam à noite. Fomos ficando porque ganhámos afeição. As jogadoras são fantásticas. Elogiar o profissionalismo e a entrega, pois contra equipas com muito qualidade, batalham e não viram a cara à luta. Vivemos os problemas juntos e vamos até ao fim. Queremos que elas cresçam e se mostrem para procurarem outros voos. Também deixo uma palavra de apreço ao team manager, Monarca, que é quem ajuda e dá o apoio; vai ajudando a que as coisas vão para a frente», diz.

Vila Verde deixará de ter futebol feminino na liga principal na próxima época (foto Vilaverdense)

Em 2025/26, o Vilaverdense deve atuar na segunda divisão feminina, mas, até ao momento, é tudo demasiado incerto, apesar da palavra dada pelo novo nome ligado aos investidores. António Caldas, ex-treinador de Chaves e SC Braga que passou alguns anos em Angola, surge como diretor geral e transmitiu uma mensagem de confiança. Mas, analisando o histórico, «palavras leva-as o vento».

«Foi isso que foi transmitido às jogadoras, de que para o ano querem apostar numa equipa para voltarem a subir. O António Caldas mencionou isso numa conversa com as jogadoras, que o investidor ia apostar, pois o Vilaverdense tem pergaminhos na primeira liga e no futebol feminino», conclui Rogério Brito.

Karol Mineira é a melhor marcadora do Vilaverdense com três dos cinco golos da equipa (foto Vilaverdense)

«Estamos na principal liga feminina, isto tinha de ser melhor!»

As reais condições desta época, inenarrável, do Vilaverdense ficam ainda mais expostas ao falarmos com as principais visadas, que vestem a camisola todos os fins de semana.

A BOLA esteve à conversa com Karol Mineira, avançada brasileira de 27 anos, que chegou tarde e a más horas, numa altura em que o clube já tinha desistido da Taça da Liga.

Tinha propostas, mas para lugares que não queria ir. Então surgiu o Vilaverdense. Estava no Brasil e só cheguei em setembro, com a época já a decorrer. É complicado, porque no Gil Vicente estava bem, fazia muito golos. Este ano, foi diferente. Estamos na principal liga feminina, tinha de ser melhor

O Vilaverdense, em todas as competições, só marcou cinco golos (quatro na liga e um na Taça de Portugal, da qual foi eliminado por equipa do terceiro escalão, a UD Leiria), sendo que Karol apontou três desses tentos. De resto, são 20 partidas (1 na Taça de Portugal), 20 derrotas (1 na Taça) e extraordinários 100 golos sofridos (2 na Taça)!

Na Liga, a festa do golo fez-se apenas em quatro momentos, num total de 19 jornadas (foto Vilaverdense)

A jogadora pintou um quadro que não é nada bonito de se ouvir, mas que também nos deixou uma certeza. «Normalmente, treinámos com dez, cinco contra cinco, não temos suporte de material e também humano. Nos treinos não dá para fazer ou preparar e, por isso, chegamos ao fim de semana sem preparação, sendo que as coisas só saem nesse momento, nos 90 minutos. Agora, já estão a pagar a horas, mas há poucas condições, nem conseguimos treinar na relva natural, é sempre num sintético e com poucas jogadoras.

 Aparentemente, disseram que já estão a pensar na próxima época. Não pretendo ficar, pois continuam a dizer que vão investir muito, mas disseram o mesmo para esta temporada e não aconteceu nada. Já não acredito em nada e, por isso, o meu futuro não vai passar pelo Vilaverdense», garante Karol.